Quando se pôs, não sabia se iria voltar, mas algo dentro não apagou.
Veio a lua. Ela chegou. Algo novo, outra luz, branda, suave. Eu não sabia que refletia o sol e, quando foi embora, entendi que daqui de onde vejo, nada é definitivo.
Vi que a terra nasce todos os dias e morre em cada segundo. Nem as cores, nem os sons, os tons, nem as caras, nem as vozes, os uivos, os barulhos, os passos viram pegadas, as luzes viram sombras e depois se vão, nem o que eu vejo, nem o que penso. Tudo o que nasce e depois se põe. Tudo que brilha vira reflexo, depois apaga. Tudo o que é, deixa de ser. Vai.
O tempo que nasce e põe suas mãos sobre as coisas que vão, carregando-as para além do horizonte que não vejo. Eu só vejo o sol se por. Eu não vejo.
Reflexos. Combinações de cores, intensidades diminuem, alteram-se perspectivas, ciclos que terminam. Nada é definitivo. Nada é como parece. Só parece o que aparece no meu campo de visão. Eu não vejo.
E o tempo que me leva para depois do sol. No horizonte que se apaga, na luz que diminui, na sombra, densa, voraz, na escuridão que vira abismo, sem brilho, sem teto, sem chão, sem nada, vazio até que a noite termine. Nada é como parece.
Depois que eu vi o sol nascendo pela primeira vez, ele nasceu em mim.
Quando se pôs, não sabia se iria voltar, mas algo dentro não apagou.
Veio a lua. Ela chegou. Algo novo, outra luz, branda, suave. Eu não sabia que refletia o sol e, quando foi embora, entendi que daqui de onde vejo nada é definitivo.
Não é. Até que renasça no universo que sou, nas paisagens que me habitam, na luz que sai do olhar, no tempo que vira um instante, o único que há, o único que sou. Agora vejo. E o que vejo me basta. E o que me basta, me cala. E o que me cala me pacifica. E o que me pacifica não precisa mais de explicações. Silêncio. Agora vejo.
Flavio Siqueira