O comportamento defensivo se externa quando a pessoa, através de suas
desconfianças, percebe perigo no grupo, desgastando assim suas energias
numa autodefesa - que pode ser inútil, se o perigo não for real e não
passar de uma "encucação" da pessoa. Nesta óptica, dividimos as pessoas
em dois tipos. De um lado, temos as pessoas naturais, seguras, que
enfrentam os desafios e são mais sinceras. Sabem moldar-se às
necessidades, porque acreditam em si próprias. Não que deixem de sentir
as injustiças, mas vão caminhando em meio a elas, vão caindo e se
levantando, aprendendo, amadurecendo e trocando ideias. E dessa forma
que se realiza a troca afetiva.
De outro lado, há pessoas
inseguras ou medrosas, que nunca estão no seu natural. Colocam-se sempre
na defensiva, preocupadas consigo mesmas, num esforço desmedido em
saber como estão sendo vistas pelos outros, como devem fazer para serem
identificadas de forma mais favorável: como vencer, impressionar,
manter-se impune ou, então, como reduzir ou evitar um ataque por
antecipação.
As pessoas soltas, menos preocupadas com o seu
mundinho, mostram sempre o que são. Se agradam, ótimo. Se não agradam,
não se desesperam. O que não as impede de se questionarem sobre
possíveis falhas em seu comportamento. Elas têm capacidade de reconhecer
o próprio erro e voltar atrás, pela consciência profunda de seus
limites humanos.
Mas há o reverso da medalha. Determinadas
pessoas são sempre "as tais". Como donas da verdade, não admitem nada
que contrarie seu modo de pensar e ser. Querem que os outros ajam pela
cabeça delas, ao mesmo tempo que usam a defesa para não serem atacadas.
Só que a melhor atitude perante a vida é a sinceridade. Se alguém errou,
por que não admitir o próprio erro? Se ninguém é perfeito, por que
justificar-se o tempo todo ou abusar das justificativas para mostrar-se
diferente do que na verdade é? Quem se justifica continuamente não tem
fibra, responsabilidade, respeito pêlos outros. Desgasta de tal forma as
desculpas, que ninguém mais acredita nelas.
O defensivo sempre
pensa que os outros são bobos. Não quer dar o braço a torcer em
determinadas circunstâncias, para não mostrar suas fraquezas. E, ao
tentar enganar os outros, engana-se a si mesmo. Mas em pior situação
está aquele que, além de colocar-se na defensiva, é agressivo. Externa,
com esse procedimento, as frustrações, angústias e mágoas que carrega
dentro de si. Esquece-se de que ninguém deve pagar pelo seu mau-humor.
Essas pessoas costumam gritar primeiro para impressionar, tentando
encobrir a falta de
regam em seu íntimo.
O esforço para ser
verdadeiro sempre foi e é válido. Se todos parassem para refletir sobre a
própria vida, descobririam as razões pelas quais andam tão agressivos, mal-humorados, chatos, fofoqueiros, "cutuquentos", tão do lado errado. É
só parar para pensar, e essas pessoas descobrirão as falhas dentro de
si. Um bom parâmetro é este: se dez pessoas estão contra mim, impossível
que só eu esteja certo. No momento em que ocorre essa constatação, é
hora de fazer autoanálise e ver as razões disso.
Inúmeras
pessoas queixam-se de que tudo lhes sai errado na vida. Deve haver uma
causa para esse azar todo. Há coisas que não dão certo mesmo. Mas
algumas saem erradas por culpa da própria pessoa. De quem quer que seja a
culpa pelo fracasso, é importante que a pessoa malsucedida naquele
momento não desconte seus infortúnios em cima de quem convive com ela,
usando parentes e amigos como bodes expiatórios. O que ela deve fazer é
manter a serenidade, ter paciência e ir consertando os desvios de rota
que aconteceram.
No mundo dos defensivos, existem dois tipos de
pessoas: a melosa e a agressiva. As duas assumem atitudes errôneas. A
melosa apela para a chantagem emocional, fazendo-se de vítima quando
deseja esconder-se atrás de uma desculpa. Agindo assim, pensa que
impressiona ou comove seu interlocutor. Ledo engano. Ninguém é tão bobo a
ponto de acreditar todos os dias em desculpas esfarrapadas. Enganar
algumas vezes é até possível. Mas sempre, não.
Os que se colocam
na defensiva através da agressividade não querem se sentir expostos (e
por isso criam uma barreira de medo que afasta as pessoas) ou desejam
impressionar de alguma forma aqueles que deles se aproximam. Esses
ficarão sozinhos na vida. No começo, acharão bom, mas depois concluirão
que convivência não é isolamento.
Há outra forma de agredir: a
daqueles que ficam sempre "em cima do muro", tentando levar vantagem e
tirar partido dos dois lados. Esses são uns coitados. Têm um trabalho
insano para se equilibrar entre duas posições e, no final, desagradam a
todos e a si mesmos. Agradar a gregos e troianos é algo que ninguém
nunca conseguiu.
Na vida há coisas boas e más, das quais gostamos
ou não. Há sonhos frustrados, empenhos não gratificados. Essa é a
condição do ser humano. Em meio a tantas vicissitudes e divergências, o
que vale é a vontade, o querer. O modo de viver em sociedade deveria
brotar dessa vontade de querer ser sempre sincero, legal, sem artifícios
nem "armações". Seria bem mais fácil viver.
Maria Helena Brito Izzo