Não coloque propósitos para seu crescimento espiritual, como se estivesse estipulando prazos e metas, como se precisasse atingir determinado estágio para sentir que “chegou lá” a tal ponto que, todos os dias, cobra de si mesmo alguma evolução.
Aquilo que muitas vezes consideramos objetivos a serem atingidos,
deve ser consequência, não pode ser causa, motivação da busca. A gente
busca sem perceber, sem fazer força, sem colocar angústia no caminho,
sem tecer prazos ou metas. Tudo o que devemos fazer é caminhar, e
caminhar com atenção.
Quando estou fixado em metas, elas serão minha referência, é por elas
que vou aferir até que ponto estou “evoluindo” e isso sempre irá gerar
decepção porque vida espiritual não se mede. Não há como medir o que é
dentro, não se vê e nem sempre segue caminhos lineares de
mensurabilidade.
É como se você plantasse uma árvore para se proteger do sol, e todos
os dias sentasse ao lado dela, mesmo que fosse ainda apenas uma
plantinha, lamentando que ontem estava do mesmo tamanho de hoje,
portanto, não cresceu. Reclamará da árvore sem saber que ela cresceu
sim, um pouco a cada dia, até que você desista de esperar e, lá na
frente, seja surpreendido pela enorme e frutífera árvore.
Você pensa em suas tentativas, seus caminhos, os lugares onde passou,
tentou, se esforçou, as filosofias, as religiões que acreditou serem os
verdadeiros canais de evolução. Deixe-se me dizer: nenhum deles é.
Absolutamente nenhum.
Tudo pode ser ferramenta, tudo pode ajudar, mas espiritualidade é
algo que se vive para dentro, ainda que irradie para fora, ainda que
promova vínculos, ainda que lhe possibilite exercitar o amor com o
próximo, isso é ótimo, mas é consequência do que antes cresceu dentro.
Não projete sua busca em uma religião, por mais coerente que pareça.
Não pense que será uma filosofia, um ritual, um livro ou o que quer que
seja que substituirá a possibilidade de enxergar na vida, nas relações,
na não linearidade do caminho, em você, dentro, onde ninguém vê. Essa
busca cheia de angústia só irá causar dependência, jamais paz interior.
Você já tem o que precisa, a paz que tanto quer já é, e de modo algum
está vinculada a nada, absolutamente nada fora de você, é por isso que
sente tanta dificuldade em encontrá-la.
Engraçado como, de maneira geral, sabemos que o dinheiro, o trabalho,
o consumo, não nos trará paz, mas nunca pensamos em relação as
religiões, filosofias ou afins. Essas não dão paz pela mesma razão que
as outras não dão: estão fora de você, por que seria diferente?
Como encontrar seu caminho? Não se cobre, viva sua vida em paz, use o
bom senso, sem culpa, sem angustia, apenas preste atenção no caminho,
perceba os movimentos diários e insistentes da vida, de tudo, a terra
toda apontando para o simples, está tudo a sua volta, perto, presente,
vivo, cada detalhezinho do dia, cada brisa do cotidiano, cada som, cada
dia, cada noite, cada silêncio, cada dor, cada alegria, cada conversa,
cada momento construído para que você se enxergue, valorize o simples,
observe, esteja realmente presente, ame, seja grato, perdoe a si mesmo.
Tudo o que passar disso pode ajudar sim, pode ser útil em algum
momento, mas nunca estará na dimensão do essencial, portanto, não
corrompa a busca, não inverta as coisas, não projete em nada aquilo que,
com simplicidade, naturalmente é e nunca está restrito a grupos ou
filosofias especificas.
O que realmente importa já vive em você, portanto, sua função é apenas aquietar-se e perceber.
Flavio Siqueira
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