Na última sexta-feira, nove dias antes do meu aniversário, um amigo de quem eu gostava/gosto muito deixou este mundo, aos 27 anos.
Não o via todos os dias e só o conhecia há pouco mais de três anos, mas
ainda assim sofri sua perda. Depois da dor de saber que não o veria
mais com toda aquela alegria que lhe era peculiar, parei de chorar e
observei que a dor era bem maior em outras pessoas. A namorada e a amiga
dele – ambas minhas amigas – que moravam na mesma casa em que ele viveu
nos últimos meses, assim como a família, que estava em outro estado, e o
amigo-sócio, acostumado a tê-lo sempre por perto, com certeza sofrem
muito mais.
Apesar de ser espírita e ter estudado a morte a vida inteira (e saber
que ela é só uma mudança, um abandono do corpo), a única vez que tive
que lidar com uma perda física tão próxima assim foi aos 17 anos, quando
meu avô faleceu. Chorei, fiquei triste por um tempo. Mas, ainda que não
quisesse acreditar, eu já esperava aquilo. Ele era velhinho, estava
muito doente. E era meu avô. Avós e avôs velhinhos morrem daqui a pouco –
todo mundo sabe disso. Todo mundo sabe também que todo mundo vai morrer
um dia. Mas nem por isso estamos preparados. Para a morte de um jovem
cheio de vida em um acidente, ninguém está preparado nunca. E, mesmo
entendendo o lado espiritual da morte, minha reação imediata foi sofrer.
Porém, observar a despedida do Álvaro e a dor da família e dos amigos
mais próximos dele me fez respirar fundo e analisar melhor a situação.
Constatei: a morte nos traz muitas lições.
Lição número 1: o Álvaro era uma pessoa alegre,
engraçada. Todos que conviveram com ele foram unânimes: nunca o viram
reclamar da vida, uma vez sequer. E aí pensei como seria se eu morresse
hoje. No meu velório, não diriam assim, pelo contrário. “Coitada, ela
era muito triste, não conseguia ficar animada com o que tinha por muito
tempo. Talvez tenha sido melhor para ela mesmo”, é o que se ouviria de
todos os presentes. E será que é essa a lembrança que quero deixar? De
jeito nenhum!
Lição número 2: a segunda completa a primeira. Que
marca estamos deixando na vida das pessoas? Quantas ajudamos? Quantas
ignoramos? Nos preocupamos em apoiar, ouvir, compartilhar alegrias?
Damos tanta importância aos problemas de quem amamos quanto para os
nossos? Ou passamos o tempo inteiro falando de quão difícil é nossa
vida, como se fôssemos os únicos com dificuldades? Ensinamos algo a
alguém? Aprendemos com todos? Fazemos a diferença?
Lição número 3: meu amigo morava bem pertinho de mim
e eu não o via com tanta frequência. Se eu me senti mal por isso,
imagina quem brigou com ele alguma vez, ou quem não aceitou um convite
recente!? A situação me fez pensar em quanto tempo perdemos com coisas
bobas, discussões por besteira, televisão, internet, quando poderíamos
estar aproveitando os amigos, os parentes, os amores. Tudo ficou muito
menor. O que temos de mais precioso é a vida. E por que não aproveitá-la
da melhor maneira possível ao lado de quem amamos? O que custa dizer
“eu te amo” para quem faz diferença em nosso dia a dia?
Lição número 4 [atualizada]: Ninguém pode
se sentir culpado pela morte do outro, a não ser que a tenha provocado
intencionalmente. Nada é por acaso e as coisas acontecem em seu tempo
certo. Para quem fica, a morte deve ser apenas uma breve separação, um
momento de refletir, de recomeçar. Cultivar o luto, a tristeza, o apego,
só vai fazer mal. A despedida é um sinal de que é hora de mudar o rumo,
descobrir coisas novas, ajudar alguém, dividir, ainda que sejam só
palavras e abraços. Não pense que não conseguirá viver sem aquela
pessoa. Quem partiu já havia cumprido seu papel, vencido seu tempo. E
cada um tem o seu, não há regras. Aproveite a vida que você ainda tem.
Ainda estou pensando em muitas outras coisas, nem todas vou colocar
aqui agora. Mas queria registrar as principais para dividir com vocês um
pouquinho do que, espero, vai fazer parte da mudança que estou tentando
fazer dentro de mim. Quem sabe alguém se inspira e recomeça também!
Acho que meu amigo ficará feliz quando souber que inspirou boas
resoluções.
Porque a morte pode ser uma perda, mas serve para ganharmos mais fé,
mais confiança, mais alegria, mais gratidão à vida que temos. Assim, a
tristeza se transforma em boas lembranças, a única coisa que realmente
devemos guardar de quem se foi…
Postado por Adriana Caitano em 03/04/2011
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