Tive o prazer de ler hoje este excelente texto
do Ricardo C. Que fala sobre amizade e Internet, e como esse novo
ambiente influencia o surgimento de novos relacionamentos e que, apesar
de inovar na forma, mantém inalterado o seu conteúdo. Recomendo que leia
antes de ler minhas palavras a seguir que, na verdade, são observações
sobre o texto dele.
Interessantíssimo
o tema Internet e Amizade, por tratar do desenvolvimento de uma
instituição social antiga - tão antiga quanto a própria humanidade -
dentro de um meio totalmente novo. Novo em tempo de vida e novo no
conceito.
Sendo a amizade uma “família que se escolhe” é
indispensável para seu surgimento conhecer a pessoa que se tem por
amigo. Os laços que unem duas pessoas numa amizade somente podem ser
feitos conhecendo-se as virtudes e os defeitos mútuos. Não se constrói uma amizade sobre um conhecimento incompleto (dentro dos limites razoáveis, obviamente) do outro.
Dito
isso, como fica a criação desses laços no ambiente hermético da
internet? Será possível conhecer uma pessoa sem ter contato real com
ela? Muito bem colocado quando ele diz que existem duas situações
distintas, a da amizade virtual que não tem como se tornar real por
impossibilidade física e a pseudo-amizade virtual que não se torna real
por falta de interesse (mútuo ou de uma das partes).
A Internet inova (e é uma enorme inovação, diga-se de passagem)
quando torna realidade a “cauda longa”, que é a capacidade de elevar ao
infinito as possibilidades de interação. Enquanto no mundo físico somos
limitados pelo tempo e espaço - nossa possibilidade de conhecer pessoas
se limita aos lugares que frequentamos, que é uma parcela infinitesimal
de todos os lugares que existem no mundo - na rede mundial podemos
contatar centenas, milhares de pessoas que jamais estariam fisicamente
ao nosso alcance.
Isso traz os relacionamentos sociais para uma nova realidade, que
possui quatro grandes diferenciais em relação à realidade tradicional.
Primeiramente, como foi dito, a possibilidade de contatar muito mais
gente. Fóruns, salas de bate-papo, Orkut, Facebook, MSN, Twitter, Blogs,
et cætera. São os mais diversos ambientes virtuais por onde
circulam milhões de pessoas, todas disponíveis. Em consequência disso
surge a segunda característica, que é o pouco tempo que dispomos para
dedicar a cada uma dessas pessoas, em virtude da vontade que temos de
aproveitar ao máximo essas possibilidades.
Em terceiro lugar, a
extrema facilidade que o ambiente proporciona para que as pessoas se
mostrem de forma diferente do que realmente são; É extremamente fácil
mentir e fingir sobre quem somos, em todos os aspectos. Podemos
conversar pela internet com alguém por anos sem saber de fato se é ao
menos homem ou mulher. E, por fim, existe uma facilidade extrema para
simplesmente desaparecer sem cerimônia; ao contrario de um contato real,
na internet podemos excluir e bloquear qualquer pessoa a qualquer
momento, sem passar por nenhum confronto ou desconforto.
Junte
esses quatro elementos e o que temos? Um ambiente desorganizado,
apinhado de gente, com pessoas que quase nunca são o que dizem ser e
que, em um segundo, podem desaparecer para sempre. Porém, com imensas
possibilidades de interação e, consequentemente, de relacionamentos.
Basta aprendermos a separar o joio do trigo, o que é bem diferente de
fazer na Internet de como fazemos no mundo real.
Para
essa nova realidade necessitamos de uma nova joeira, novos valores
éticos e morais, pois os valores tradicionais pouco se aplicam e pouco
podem ser úteis nesse novo ambiente. Precisamos aprender a lidar com as
novas realidades e as novas possibilidades da internet, no campo dos
relacionamentos. E isso leva tempo. Toda essa realidade ainda é muito
recente e ainda está tomada por uma euforia muito grande. Ainda falta na
Internet a maturidade e a serenidade que somente o tempo pode conceder.
Creio que assim que a poeira baixar e os ânimos se acalmarem poderemos
aproveitar muito melhor as novas possibilidades criadas pela internet.
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