Eu sempre quis fazer uma viagem espiritual. Não tô falando de viagem alucinógena com cigarrinho de palha ou cogumelo do sol, tô falando de sair pra encontrar a natureza, ouvir o barulho que ela faz, sentir o vento no rosto, sentir o sol queimando a pele, sentir o silêncio do canto dos pássaros, e usar tudo isso pra pensar na vida. Sempre achei que tirar um tempo pra ficar em silêncio e meditar sobre meus problemas, minhas preocupações, minha vida, de uma forma geral, me traria algum tipo de resposta.
E como eu precisava de respostas, e ainda preciso! Venho passando por 
uma fase difícil na minha vida, besteira pra alguns, mas difícil pra 
mim, talvez seja coisa da idade ou um cansaço geral da minha vida 
monótona, o fato é que eu precisava pensar sobre o que vinha 
acontecendo, colocar minhas ideias no lugar, tentar entender o que 
significava toda essa aflição. Não é de hoje que penso em sumir do mapa 
num fim de semana qualquer e tentar entender quem eu realmente sou em 
outro lugar.
Então, talvez, eu esteja passando por uma crise existencial ou coisa do 
tipo, faz sentido. De todo modo, como eu não podia simplesmente 
abandonar família, amigos e trabalho sem causar confusão, decidi que 
precisava fazer uma espécie de retiro espiritual, uma trilha para o 
autoconhecimento ou alguma coisa parecida. Não é nada do tipo auto-ajuda
 de buteco ou comer-amar-rezar. Trata-se, simplesmente, de sair por aí, 
sozinho, em busca de respostas, só você, a natureza, uma boa trilha 
sonora e Deus.
Há pouco tempo li O Diário de Anne Frank - belíssimo e emocionante, todo
 mundo deveria ler - e me identifiquei muito com algumas coisas que ela 
diz lá. "O melhor remédio para os que sentem medo, solidão ou 
infelicidade é ir para um lugar ao ar livre, onde possamos estar 
sozinhos com o céu, a natureza e Deus. Só então a gente sente que tudo 
está como deve estar". E é isso, faça simplesmente isso, a paz que isso 
traz é incrível.
Queria fazer uma trilha digna de nota, ir naquelas paisagens de tv, 
naquelas montanhas perto do nada, mas o din din tava curto e eu tive que
 improvisar. Fui a um lugar perto de casa mesmo, num sábado de céu azul e
 ensolarado, coloquei uma trilha sonora adequada - sabe aquelas músicas 
que mexem com a gente, lá no fundo? então... - planejei cada lugar em 
que passaria estrategicamente com uma música adequada também e fui 
tirando fotos de cada lugar por qual passava pra que eu pudesse rever 
mais tarde e nunca mais me esquecer que daquele dia tinha nascido uma 
nova ordem de vida pra mim.
Sabe aquelas cenas de filme em que o personagem volta em algum lugar do 
seu passado pra recuperar alguma lembrança perdida? Algum trauma? Eu fiz
 isso. E recomendo muito que você também o faça. É uma experiência 
dolorosa, mas enriquecedora. Foi como se eu tivesse ido e lá dito "Ei! 
Olha, isso aqui aconteceu a muito tempo atrás, não preciso mais viver 
baseado nisso, acabou, eu superei." Depois virei as costas e fui embora 
como se alguma coisa que eu não quisesse mais tivesse ficado lá, 
finalmente.
Quando fiquei sozinho, parei um pouco pra meditar, pensar nas coisas que
 me afligiam, no porque de as coisas estarem assim, no porque de tudo. 
Claro, não tive respostas ali e acho que ainda não as tenho, mas é como 
se, de alguma forma, eu tivesse arrumado um monte de coisas que estavam 
desorganizadas dentro de mim. Como se tivesse um quebra cabeça todo 
desarrumado e esse processo colocou todas as peças no lugar. Não sei 
explicar, só sei que sinto a leveza até hoje, quase um mês depois. Fora 
que, eu tive o privilégio de ver, sozinho, o sol indo embora no fim da 
tarde, putz, não tem coisa mais linda que isso.
Então, acho que essa trilha funcionou de alguma forma pra mim. Estou 
mais focado, confiante, conformado, sei lá. Sempre quis fazer e nunca 
tinha feito, ficava adiando, deixando pra depois, se soubesse que faria 
tão bem já teria feito a mais tempo. Muitas vezes a gente tem ao menos 
uma parte das respostas necessárias bem ali, mas não enxergamos. Se tem 
alguma coisa que você queira muito fazer, que acha que vai trazer alívio,
 pare de enrolar e faça. Minha próxima meta é fazer meditação. Depois 
volto pra contar.
Guilherme Ferreira
Guilherme Ferreira

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