Você acredita em Deus? Em qual Deus? Em um país monoteísta, a maioria argumentaria “Sim, acredito no único Deus”. Mas qual?
Há muitos. Em cada paróquia, em cada igreja, em cada leitura da
bíblia, em cada grupo, em cada humano, em cada interpretação que
constrói um Deus conforme a própria imagem e semelhança, moralista,
fixado em padrões culturais.
Entre os politeístas não será diferente a não ser pelos muitos nomes,
cada Deus refletindo um olhar, um tempo, uma expectativa, vários deuses
exatamente como no monoteísmo, sendo que no segundo caso os vários são
chamados por um nome só.
Talvez você creia em um Deus conceitual. Uma energia abstrata, algo
que não temos acesso e por isso mesmo prefere não perder muito tempo
pensando nisso, afinal, já há muita gente discutindo sobre o assunto.
Tem quem acredite em Deus pessoal, Deus impessoal, Deus justiceiro,
Deus amor, Deus castigo, Deus benevolente, que gosta de elogios, que se
zanga com gente que erra, que pune, que recompensa, que castiga, que
salva… Perdidos em nossos devaneios nem percebemos que Deus se projeta
na vida.
O fato é que não faz a menor diferença se você se considera teísta
(que crê em Deus) ou ateu (que não crê). Não muda nada o nome pelo qual
você o chama, seus conhecimentos teológicos, se é criacionista ou
evolucionista, se é religioso ou não é. O que é “ter Deus no coração” se
não tiver no coração o outro, quem precisa, quem você pode ver, tocar,
ajudar em amor?
Perdemos muito tempo com nossas tolas e ingenuas discussões, erguemos
templos, formamos grupos, elegemos mestres, sacerdotes, hierarquias de
poder, representantes do que se faz representar em cada movimento de
vida, em cada humano, cada animal, cada elemento da natureza.
Então você é panteísta ! – diriam. Tolos que precisam de rótulos! O
que eu quero dizer é que, enquanto brigamos por nada, perdemos a
maravilhosa oportunidade de entendermos que, ainda que todos estejam
certos, ou errados, ou parcialmente corretos, não importa, Deus se faz
presente sempre que há um encontro, sempre que há um movimento de
consciência, sempre que alguém se enxerga e vê o próximo.
“D-E-U-S” são apenas quatro letrinhas, um nome que a gente dá. O
inexplicável, o mistério, o incognoscível, se dá no milagre dos
encontros, na percepção da vida, na disponibilidade em ser amor e
responder as demandas da vida, cada uma delas, em simplicidade e
verdade. Quem viu que é assim não precisa mais de argumentos religiosos,
desistiu da necessidade de provar, sistematizar o que não cabe em
nossas caixinhas com cruzes na porta.
Esse viu e se pacificou. Vê Deus sempre que olha dentro, sempre que
vê vida, sempre que se aquieta. Não precisa de nomes, nem de debates,
nem de religiões.
Entendeu que, se não vejo Deus no cotidiano, em cada expressão de
vida, todo o resto será apenas arquitetura oca, causas para discussões,
expressão da arrogância humana que parece não ter fim.
Flavio Siqueira
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