A
psicopatologia em geral e a psiquiatria forense em especial têm
dedicado, há tempo, uma enorme preocupação com o quadro conhecido por Psicopatia (ou Sociopatia, Transtorno Dissocial, Transtorno Sociopático, etc).
Trata-se de um terreno difícil e cauteloso, este que engloba as
pessoas que não se enquadram nas doenças mentais já bem delineadas e com
características bastante específicas, a despeito de se situarem à
margem da normalidade psico-emocional ou, no mínimo, comportamental. As
implicações forenses desses casos reivindicam da psiquiatria estudos
exaustivos, notadamente sobre o grupo de entidades entendidas como
Transtornos da Personalidade.
O enorme interesse que o psicopata tem despertado atualmente se deve,
em parte, ao desenvolvimento das pesquisas sobre as bases
neurobiológicas do funcionamento do cérebro em geral e, particularmente,
da personalidade. Em outra parte, deve-se também ao enorme potencial de
destrutividade de alguns psicopatas, quando ou se tiverem acesso aos
instrumentos que a tecnologia e a ciência disponibilizam.
Estudar o potencial da destrutividade humana é bastante interessante e
poderá esclarecer certos pontos em comum entre grandes manifestações de
destrutividade, como são as guerras, os genocídios, torturas, o
terrorismo e, talvez, manifestações incomuns da personalidade humana,
baseadas na psicopatologia, na psicologia e nas neurociências.
Lorenz e outros etólogos consideram a agressividade
organizada uma aquisição evolutiva que aparece na espécie humana há uns
40.000 anos. Em sentido social, a agressividade organizada nasceu da
necessidade de uma arma de sobrevivência mais eficaz. Nascia assim uma
forma especializada de agressão comunitária e organizada, um entusiasmo
que agrega o grupo contra um inimigo comum.
Uma de suas expressões seria a “paranoia de guerra”, que afeta e
afetou populações inteiras. Atualmente pode ser representada também por
grupos étnicos, religiosos ou políticos que se unem através de uma
conduta agressiva em função de alguma ameaça comum a todos integrantes
do grupo (ameaça real ou acreditada).
Devido à falta de um consenso definitivo, esse assunto tem
despertado um virulento combate de opiniões entre os mais diversos
autores ao longo do tempo. Igualmente variadas também são as posturas
diante desses casos que resvalam na ética e na psicopatologia
simultaneamente. As dificuldades vão desde a conceituação do problema,
até as questões psicopatológicas de diagnóstico e tratamento. Como seria
de se esperar, também na área forense as discordâncias são
contundentes.
A evolução dos conceitos sobre a Personalidade Psicopática
transcorreu, durante mais de um século, oscilando entre a bipolaridade
orgânica-psicológica, passando à transitar também sobre as tendências
sociais e parece ter aportado, finalmente, numa ideia bio-psico-social
que, senão a mais verdadeira, ao menos se mostrou a mais sensata (veja
artigo
Personalidade Criminosa, uma revisão das dúvidas sobre esse tema).
Historia do conceito
O conceito de
Psicopata, Personalidade Psicopática e, mais recentemente,
Sociopata
é um tema que vem preocupando a psiquiatria, a justiça, a antropologia,
a sociologia e a filosofia desde a antigüidade. Evidentemente essa
preocupação contínua e perene existe porque sempre houve personalidades
anormais como parte da população geral.
Psicopatas são pessoas cujo tipo de conduta chama
fortemente a atenção e que não se podem qualificar de loucos nem de
débeis; elas estão num campo intermediário. São indivíduos que se
separam do grosso da população em termos de comportamento, conduta moral
e ética. Vejamos a opinião dos vários autores sobre a
Personalidade Psicopática ao longo da história.
Cardamo
Uma das primeiras descrições registradas pela medicina sobre algum comportamento que pudesse se identificar à ideia de Personalidade Psicopática foi a de Girolano Cardamo (1501-1596), um professor de medicina da Universidade de Pavia. O filho de Cardamo foi decapitado por ter envenenado sua mulher (mãe do réu) com raízes venenosas. Neste relato, Cardamo
fala em "improbidade", quadro que não alcançava a insanidade total
porque as pessoas que disso padeciam mantinham a aptidão para dirigir
sua vontade.
Pablo Zacchia (1584-1654), considerado por alguns como fundador da Psiquiatria Médico Legal,
descreve, em Questões Médico Legais, as mais notáveis concepções que
logo dariam significação às "psicopatias" e aos "transtornos de
personalidade".
PinelEm 1801, Philippe Pinel publica seu Tratado médico filosófico sobre a alienação mental e fala de pessoas que têm todas as características da mania, mas que carecem do delírio. Temos que entender que Pinel chamava de mania aos estados de furor persistentes e comportamento florido, distinto do conceito atual de mania (Berrios, 1993).
Dizia, no tratado, que se admirava de ver muitos loucos que, em nenhum momento, apresentavam prejuízo algum do entendimento,
e que estavam sempre dominados por uma espécie de furor instintivo,
como se o único dano fosse em suas faculdades instintivas. A falta de
educação, uma educação mal dirigida ou traços perversos e indômitos
naturais, podem ser as causas desta espécie de alteração (Pinel, 1988).
PrichardPrichard, tanto quanto Pinel, lutavam contra a idéia do filósofo Locke,
o qual dizia não poder existir mania sem delírio, ou seja, mania sem
prejuízo do intelecto. Portanto, nessa época, os juizes não declaravam
insanos nenhuma pessoa que não tivesse um comprometimento intelectual
manifesto (normalmente através do delírio). Pinel e Pricharde
tratavam de impor o conceito, segundo o qual, existiam insanidades sem
comprometimento intelectual, mas possivelmente com prejuízo afetivo e
volitivo (da vontade). Tal posição acabava por sugerir que essas três
funções mentais, o intelecto, afetividade, e a vontade, poderiam adoecer
independentemente.
Foi em 1835 que James Cowles Prichard publica sua obra Treatise on insanity and other disorders affecting the mind, a qual falava da Insanidade Moral. A partir dessa obra, o historiador G. Berrios (1993) discute o conceito da Insanidade Moral como o equivalente ao nosso atual conceito de psicopatia.
MorelMorel, em 1857,
parte do religioso para elaborar sua teoria da degeneração. O ser
humano tinha sido criado segundo um tipo primitivo perfeito e, todo
desvio desse tipo perfeito, seria uma degeneração. A essência do tipo
primitivo e, portanto, da natureza humana, é a contínua supremacia ou
dominação do moral sobre o físico. Para Morel, o corpo não é mais que "o instrumento da inteligência".
A doença mental inverteria esta hierarquia e converteria o humano “em
besta”. Uma doença mental não é mais que a expressão sintomática das
relações anormais que se estabelecem entre a inteligência e seu
instrumento doente, o corpo.
A degeneração de um indivíduo se transmite e se agrava ao longo das gerações, até chegar à decadência completa (Bercherie, 1986). Alguns autores posteriores, como é o caso de Valentím Magnam, suprimiram o elemento religioso das idéias de Morel
e acentuaram os aspectos neurobiológicos. Estes conceitos afirmavam a
ideologia da hereditariedade e da predisposição em varias teorias sobre
as doenças mentais.
Koch e GrossEm 1888, Koch (Schneider, 1980) fala de Inferioridades Psicopáticas, mas se refere à inferioridades no sentido social e não moral, como se referiam anteriormente. Para Koch, as inferioridades psicopáticas eram congênitas e permanentes e divididas em três formas:
- disposição psicopática,
- tara psíquica congênita e
- inferioridade psicopática.
Dentro da primeira forma, Disposição Psicopática, se encontram os tipos psicológicos astênicos, de Schneider. A Tara inclui a
"as almas impressionáveis, os sentimentais lacrimosos, os sonhadores e
fantásticos, os escrupulosos morais, os delicados e susceptíveis, os
caprichosos, os exaltados, os excêntricos, os justiceiros, os
reformadores do estado e do mundo, os orgulhosos, os indiscretos, os
vaidosos e os presumidos, os inquietos, os malvados, os colecionadores e
os inventores, os gênios fracassados e não fracassados". Todos estes estados são causados por inferioridades congênitas da constituição cerebral, mas não são consideradas doenças.
Otto Gross, por sua vez, dizia que o retardo dos neurônios
para estabilizarem-se depois da descarga elétrica determinava diferenças
no caráter. Assim em seu livro Inferioridades Psicopáticas,
a recuperação neuronal rápida determinava indivíduos tranquilos, e os
de estabilização neuronal mais lenta, ou seja, com maior duração da
estimulação, seriam os excitáveis, portadores dessa inferioridade.
KraepelinKraepelin,
quando faz a classificação das doenças mentais em 1904, usa o término
Personalidade Psicopática para referir-se, precisamente, a este tipo de
pessoas que não são neuróticos nem psicóticos, também não estão
incluídas no esquema de mania-depressão, mas que se mantêm em choque
contundente com os parâmetros sociais vigentes. Incluem-se aqui os
criminosos congênitos, a homossexualidade, os estados obsessivos, a
loucura impulsiva, os inconstantes, os embusteiros e farsantes e os
querelantes (Schneider, 1980).
Para Kraepelin, as personalidades psicopáticas são formas
frustras de psicose, classificadas segundo um critério fundamentalmente
genético e considera que seus defeitos se limitam essencialmente à vida
afetiva e à vontade (Bruno, 1996).
SchneiderEm 1923, Schneider elabora uma conceituação e classificação do que é, para ele, a Personalidade Psicopática. Schneider
(1980) descarta no conjunto classificatório da personalidade atributos
tais como, a inteligência, os instintos e sentimentos corporais e
valoriza como elementos distintivos o conjunto dos sentimentos e valores, das tendências e vontades.
Para Kurt Schneider as Personalidades Psicopáticas formam um subtipo daquilo que classificava como Personalidades Anormais, de acordo com o critério estatístico e da particularidade de sofrerem por sua anormalidade e/ou fazerem outros sofrer.
Entretanto, a classificação de Personalidade Psicopática não pode ser
reconhecida ou aceita pelo próprio paciente e, às vezes, nem mesmo por
algum grupo social pois, a característica de fazer sofrer os outros ou a
sociedade é demasiadamente relativo e subjetivo: um revolucionário, por
exemplo, é um psicopata para alguns e um herói para outros.
Em consequência dessa relatividade de diagnóstico (devido à
relatividade dos valores), não é lícito ou válido realizar um
diagnóstico do mesmo modo que fazemos com as outras doenças. Resumindo,
pode-se destacar neles certas características e propriedades que os
caracterizam de maneira nada comparável aos sintomas de outras doenças. O
Psicopata é, simplesmente, uma pessoa assim.
O psicopata não tem uma psicopatia, no sentido de quem tem uma tuberculose, ou algo transitório, mas ele É um psicopata. Psicopata é uma maneira de ser no mundo, é uma maneira de ser estável.
Como em tantas outras tendências, também há um certo determinismo na concepção de Schneider. Para ele os psicopatas são assim em toda situação vital e sob todo tipo de circunstâncias. O psicopata
é um indivíduo que não leva em conta as circunstâncias sociais, é uma
personalidade estranha, separada do seu meio. A psicopatia não é,
portanto, exógena, sendo sua essência constitucional e inata, no sentido
de ser pré-existente e emancipada das vivências.
Mas a conduta do psicopata nem sempre é toda psicopática, existindo
momentos, fases e circunstâncias de condutas adaptadas, as quais
permitem que ele passe desapercebido em muitas áreas do desempenho
social. Essa dissimulação garante sua sobrevivência social.
Kurt Schneider, psiquiatra alemão, englobou no conceito de Personalidade Psicopática
todos os desvios da normalidade não suficientes para serem considerados
doenças mentais francas, incluindo nesses tipos, também aquele que hoje
entendemos como sociopata. Dizia que a Personalidade Psicopática
(que não tinha o mesmo conceito do sociopata de hoje) como aquelas
personalidades anormais que sofrem por sua anormalidade e/ou fazem
sofrer a sociedade.Ele distinguia os seguintes tipos de Personalidade Psicopática:
1) Hipertímicos,
2) Depressivos,
3) Inseguros,
4) Fanáticos,
5) Carentes de Atenção,
6) Emocionalmente Lábeis,
7) Explosivos,
8) Desalmados,
9) Abúlicos, e
10) Astênicos.
Evidentemente o que entendemos hoje por psicopata ou sociopata seriam, na classificação de Schnneider, os Desalmados. Muito mais tarde Mira y López definiu a Personalidade Psicopática como
"...aquela personalidade mal estruturada, predisposta à desarmonia
intrapsíquica, que tem menos capacidade que a maioria dos membros de sua
idade, sexo e cultura para adaptar-se às exigências da vida social". E
considerava 11 tipos dessas personalidades anormais muito semelhantes
aos tipos de Schnneider. Eram eles:
1) Astênica,
2) Compulsiva,
3) Explosiva,
4) Instaável,
5) Histérica,
6) Ciclóide,
7) Sensitivo-paranóide,
8) Esquizóide,
9) Perversa,
10) Hipocondríaca, e
11) Homosexual.
Cleckley
Em 1941 Cleckley
escreveu um livro chamado "A máscara da saúde", o qual se referia a
este tipo de pessoas. Em 1964 descreveu as características mais frequentes do que hoje chamamos psicopatas. Em 1961, Karpmam disse "dentro dos psicopatas há dois grandes grupos; os depredadores e os parasitas"
(fazendo uma analogia biológica). Os depredadores são aqueles que tomam
as cosas pela força e os parasitas tomam-nas através da astúcia e do
engodo.
Cleckley, estabeleceu, em "A máscara da saúde", alguns critérios para o diagnóstico do psicopata, em 1976, Hare, Hart e Harpur, completaram esses critérios. Somando-se as duas listas podemos relacionar as seguintes características:
Critérios para diagnóstico do Psicopata (Hare, Hart , Harpur)
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1. Problemas de conduta na infância.
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2. Inexistência de alucinações e delírio.
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3. Ausência de manifestações neuróticas.
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4. Impulsividade e ausência de autocontrole.
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6. Encanto superficial, notável inteligência e loquacidade.
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7. Egocentrismo patológico, autovalorização e arrogância.
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9. Grande pobreza de reações afetivas básicas.
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10. Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada.
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11. Falta de sentimentos de culpa e de vergonha.
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12. Indigno de confiança, falta de empatia nas relações pessoais.
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13. Manipulação do outro com recursos enganosos.
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14. Mentiras e insinceridade.
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15. Perda específica da intuição.
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16. Incapacidade para seguir qualquer plano de vida.
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17. Conduta anti-social sem aparente arrependimento.
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18. Ameaças de suicídio raramente cumpridas.
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19. Falta de capacidade para aprender com a experiência vivida.
|
Henry Ey
Henry Ey, em seu "Tratado de Psiquiatria", inclui as Personalidades Psicopáticas
dentro do capítulo das doenças mentais crônicas, as quais considera
como um desequilíbrio psíquico resultante das anomalias
caracteriológicas das pessoas. Cita as características básicas das Personalidades Psicopáticas como sendo a anti-sociabilidade e impulsividade (Bruno, 1996). A ideia dos Transtornos de Personalidade tal como sugerido pelo DSM começou em 1966 com Robins.
O que mais se percebe em relação à Personalidade Psicopática
são as controvérsias entre os vários autores e nas várias épocas mas,
de alguma forma, há uma perene tendência em se apontar para três
conceitos básicos.
A primeira posição reflete uma tendência mais constitucionalista
(intrínseca, orgânica), entendendo que o psicopata se origina de uma
constituição especial, geneticamente determinado e, em conseqüência
dessa organicidade, pouco se pode fazer.
A segunda tendência é a social ou extrínseca, acreditando que a
sociedade faz o psicopata, a sociedade faz a seus próprios criminosos
por não lhes dar os meios educativos e/ou econômicos necessários.
Através da análise de dois sistemas educacionais para problemas
comportamentais, como a escola inglesa Lymam, com um sistema disciplinar
rígido, autoritário, duro, e a escola Wiltwyck, americana,
onde a idéia era criar um ambiente cálido, afetuoso, propenso a
amistosidade, uma "disciplina de amor" segundo cita Cinta Mocha (Garrido,
1993), pode-se contra-argumentar a tendência extrínseca da psicopatia.
Os psicopatas constituíram o 35% da população em ambas escolas. A
instituição americana Wiltwyck teve um marcante êxito inicial,
mas a taxa de reincidência em atitudes antissociais, ao longo de alguns
anos de acompanhamento, foi o mesmo.
A terceira escola é a psicanalista, que só trata das perversões em
relação com a sexualidade. Quando o transtorno implica outras pulsões, Freud
fala de libidinização da dita pulsão, a qual havia sido "pervertida"
pela sexualidade. A perversão adulta aparece como a persistência ou
reaparição de um componente parcial da sexualidade. A perversão seria
uma regressão a uma fixação anterior da libido. Recordemos que, para Freud, a passagem à plena organização genital supõe:
a) superação do complexo de Édipo,
b) o surgimento do complexo de castração e
c) a concepção da proibição do incesto.
Assim a perversão chamada fetichismo é ligada à
negação da castração. A perversão seria o negativo da Neurose, que faz
da perversão a manifestação em bruto, não reprimida, da sexualidade
infantil (Laplanche, 1981).
A maioria dos autores dessa época procurava substituir o conceito de "constituição psicopática" por "personalidades psicopáticas"
já que sua etiologia não era claramente definida. Mas, apesar da
etiologia não ser claramente entendida, o quadro clínico da
personalidade psicopática foi sendo cada vez mais cristalinamente
descrito.
K. Eissler, no final da década de 40, considerava os
psicopatas como indivíduos com ausência de sentimentos de culpa e da
ansiedade normal, superficialidade de objetivos de vida e extremo
egocentrismo. Os irmãos Mc Cord, em 1956, descrevem sua "síndrome psicopática" com as seguintes características: escasso
ou nenhum sentimento de culpa, capacidade de amar muito prejudicada,
graves alterações na conduta social, impulsividade e agressão.
Outros autores, resumindo, nas décadas sucessivas de 60 e 70, foram
também definindo os traços característicos da psicopatia com termos tais
como; perturbações afetivas, perturbações do instinto, deficiência
superegoica, tendência a viver só o presente, baixa tolerância a
frustrações. Alguns classificam esse transtorno como anomalias do
caráter e da personalidade, ressaltando sempre a impulsividade e a
propensão para condutas antissociais (Glover, Henri Ey, Kolb, Liberman).
Classicamente, hoje em dia e resumindo a evolução do conceito, a
Personalidade Psicopática tem sido caracterizada principalmente por
ausência de sentimentos afetuosos, amoralidade, impulsividade, falta de
adaptação social e incorrigibilidade.
Neurofisiologia da Agressão É
necessário entender um pouco mais sobre a fisiologia da agressão para
inserir, depois, a noção da sociopatia. Há nesse site um artigo sobre Cérebro e Violência que pode completar o que se vê aqui agora.
Uma das hipóteses importantes na compreensão do funcionamento
cerebral em relação à personalidade é aquela que trata de uma espécie de
organização hierárquica do cérebro, anteriormente proposta Jackson, onde haveria centros superiores, médios e inferiores.
Hoje se concebe a idéia segundo a qual os processos cerebrais ocorrem
tanto através de uma “atitude” hierárquica, como também homogênea (veja Assembleias Neuronais na fisiologia da consciência.
Dessa forma, o cérebro humano resultaria da integração de “três
cérebros” distintos, com diferentes características estruturais,
neurofisiológicas e, especialmente, com diferentes performances
comportamentais. Como herança de nossos antepassados, ou seja, dos
répteis, dos mamíferos e dos primeiros primatas, possuímos um conjunto
de estruturas nervosas chamadas de Gânglios da Base e o complexo Estriado. Essa é a parte mais primitiva do cérebro humano.
Juntamente com as estruturas neuronais acima, o ser humano possui
também a medula espinhal, o bulbo e a protuberância, formando parte do
cérebro posterior e do cérebro médio, ou mesencéfalo. Essas estruturas
comportam os mecanismos básicos da reprodução e da auto conservação,
incluindo a regulação do ritmo cardíaco, da circulação sanguínea e da
respiração. Nos peixes e anfíbios essas estruturas formam quase o
cérebro todo.
Essa introdução é importante porque mostra alguns elementos comuns ao
ser humano e aos répteis, provenientes de algumas estruturas cerebrais
arcaicas. As atitudes favorecidas por essas estruturas antigas seriam,
por exemplo, a seleção do lugar, a territorialidade, o envolvimento na
caça, o acasalamento e, também, alguns mecanismos que intervêm na
formação da hierarquia social, como a seleção de líderes. Aqui que se
daria também a participação nos comportamentos ritualistas. São condutas
que existem naturalmente nos animais inferiores e, devidamente
domesticadas, no ser humano.
Em torno das estruturas do cérebro antigo ou arque-cérebro, se encontra o Sistema Límbico.
Esse sistema, que é o maior responsável pela emoção, já aparece muito
rudimentarmente nos répteis, algo mais desenvolvido nos mamíferos e bem
mais completo no ser humano.
O comportamento dos mamíferos, das classes mais inferiores até as
mais desenvolvidas, incluindo os humanos, difere dos répteis por conta
da enorme variedade de comportamentos possíveis, sendo os répteis bem
mais limitados, e também porque nos mamíferos já aparece a emoção, tão
mais elaborada quanto mais desenvolvido for o Sistema Límbico. São do Sistema Límbico
as expressões de fúria do gato, do cão, algo semelhantes às atitudes de
fúria do ser humano. Nos répteis não notamos nenhuma expressão dessa
natureza.
Acrescenta-se que a quase totalidade dos psicofármacos atua no Sistema Límbico.
Também os sistemas neuroendócrino, neuroimune, neurovegetativo, os
ritmos circadianos, são todos fortemente influenciados pelas emoções,
pelo Sistema Límbico.
Uma parte importantíssima dessa região límbica é a chamada Amígdala,
que tem um papel transcendente na agressividade. Também existem motivos
para acreditar que a base do comportamento altruísta se encontra no Sistema Límbico. O amor, assim como o comportamento altruísta, parecem ser aquisições do Sistema Límbico humano. Em pesquisas, a destruição experimental das Amígdalas
(são duas, uma para cada um dos hemisférios cerebrais) faz com que o
animal se torne dócil, sexualmente indistinto, afetivamente
descaracterizado e indiferente ás situações de risco.
O estímulo elétrico agindo nas Amígdalas provoca crises de violenta agressividade. Em humanos, a lesão da Amígdala
faz, entre outras coisas, com que o indivíduo perca o sentido afetivo
da percepção de uma informação vinda de fora, como a visão de uma pessoa
conhecida ou querida. Ele sabe quem está vendo, mas não sabe se gosta
ou desgosta da pessoa que vê.
Localizada na profundidade de cada lobo temporal anterior, as Amígdalas funcionam de modo íntimo com o Hipotálamo.
É o centro identificador de perigo, gerando medo e ansiedade e
colocando o animal em situação de alerta, preparando-o para fugir ou
lutar, estariam assim, envolvidas na produção de uma resposta ao medo e
outras emoções negativas.
As áreas cerebrais mais primitivas relacionadas à agressão, mais
precisamente à agressão depredadora, são estruturas filogenéticamente
muito antigas, onde se inclui o hipotálamo, o tálamo, o mesencéfalo, o
hipocampo e, como já vimos, as Amígdalas. As Amígdalas e o Hipotálamo
trabalham em estreita harmonia, de tal forma que um comportamento de
ataque pode ser acelerado ou retardado, estimulado ou inibido,
dependendo da interação entre estas duas estruturas.
Finalmente, na escala filogenética, aparece o neocórtex, a parte mais
jovem do cérebro. Esse neocórtex já existe em estado rudimentar nos
mamíferos inferiores, e sofre um desenvolvimento impressionante nos
primatas. O processo evolutivo da neocórtex explode em velocidade na
linha dos ancestrais homínidos em comparação com outros animais, e essa
evolução abrupta surpreende também nos grandes mamíferos aquáticos.
A agressão requer a participação destas antigas estruturas cerebrais (Amígdalas, Núcleos da Base e Complexo Estriado)
e sem elas não haveria a agressão. Porém, a verdadeira agressão
planejada, ou talvez, elaborada segundo algum objetivo, ou talvez ainda
os subprodutos da agressão, perversidade e destrutividade, precisa de
redes neuronais complexas e abrangentes e envolve principalmente o Sistema Límbico.
Assim, até chegar ao estágio cerebral atual, o ser humano é fruto de uma evolução anatômica e funcional.
Cérebro e Personalidade
A personalidade inclui, em meio a todos seus traços, a cognição e a
percepção. Essas atividades representam uma operação complexa baseada em
redes neuronais intrincadas e perfeitamente integradas, as quais Eduardo Mata chama de Módulos, portanto, a atividade cerebral seria do tipo modular.
A sobrevivência exige funcionamento adequado, muitas vezes automático
e inconsciente, de uma quantidade de módulos que tratam muitos fatores
simultaneamente: a motivação, a percepção do ambiente, noção do que é
necessário para sobreviver, regulação dos impulsos agressivos e sexuais,
formação das relações com outros indivíduos, regulação dos
comportamentos intencionais e inibição dos inapropriados.
Portanto, quanto mais eficientes forem esses módulos (Assembléias Neuronais),
melhor desempenho terá a pessoa e melhor apreensão da situação
existencial (no mundo), ou seja, a consciência global é consequência da
notável capacidade de organização e integração neuronais que o organismo
possui.
Todo esse procedimento adaptativo resultante das Assembléias Neuronais
não se faz de maneira linear, seu curso e sequência não se pode prever.
Na pessoa normal parece que não basta a compreensão dos fenômenos
químicos ou físicos para predizer como se dará a sucessão de atitudes
adaptativas, tais como o autocontrole, a iniciativa, a regulação do
afeto, do juízo, a destrutividade, o planejamento da fuga ou do ataque.
De modo geral, há maior ou menor probabilidade da pessoa reagir assim ou
assado mas as atitudes serão sempre circunstanciais, sem que tenhamos
certeza da previsão.
Quando conseguimos prever a maneira como a pessoas reagirá, como
atuará em determinadas circunstâncias, em outras palavras, quando a
pessoa reage sempre dessa ou daquela maneira diante das circunstâncias, e
quando essas atitudes fazem sofrer (ela ou os outros), provavelmente
estaremos diante de um Transtorno da Personalidade.
Transtornos tais como os casos de Personalidade Múltipla, Personalidade Borderline e Transtornos Dissociativos
poderiam ser considerados, pelo menos em parte, como perturbações de
funcionamento ou da integração das redes neuronais. Isso caracterizaria
uma perturbação do sistema cérebro/mente, a qual poderia ter causas
biológicas e/o determinadas pela experiência.
Uma observação interessante é a crescente habilidade das crianças e
adolescentes para regular sua conduta, à medida que o cérebro amadurece.
Esse amadurecimento parece ser consequência não só da experiência,
senão também da mielinização das áreas pré-frontais com as consequentes
alterações nas redes neuronais. Trata-se de um processo que continua até
o fim da vida (em velocidade e quantidade decrescentes).
Este modelo modular é também consistente com as pesquisas em relação à
compatibilidade do humor com a memória. Partem das observações de que
quando se tem determinado estado de humor, há tendência em se ter
recordações específicas. Parece ter sido ativada pelo estado de humor
uma rede neuronal específica, parece ainda que ao ativar determinada
rede neuronal há bloqueio ao acesso a outras representações. Talvez seja
por isso que o aconselhamento otimista para quem está deprimido tenha
tão escasso resultado, pois a depressão favorece certo tipo de
lembranças, recordações, conclusões e fantasias.
Na historia das teorias neurobiológicas da personalidade, registra-se que no século IV antes de Cristo, Hipócrates havia precisado a existência de quatro estilos diferentes de personalidade baseado nos humores.
Mais de vinte séculos depois ainda não se tem uma teoria neurobiológica
absolutamente precisa, mas, não obstante, na última década do século
XX, a chamada “década do cérebro”, produziu-se avanços significativos na
neurociência, em particular na área da neuroquímica.
As pesquisas sobre a Personalidade Psicopática
têm enfocado ora alguns aspectos sintomáticos, ora outros. Alguns
estudos enfocam essa alteração da personalidade em relação às condutas
delituosas, à violência, dificuldades no controle dos impulsos,
sexualidade de risco e desordenada e consumo abusivo de substâncias.
Algumas linhas de pesquisa têm dedicado considerável atenção aos
aspectos antissociais e criminais desse transtorno, enquanto outros
começam a se preocupar com a falta de empatia e loquacidade comum aos
psicopatas. Ressaltam-se ainda as pesquisas em relação ao encanto
superficial dos psicopatas, à falta de arrependimentos, à incapacidade
para amar e à gritante irresponsabilidade. São escassas ainda as
pesquisas sobre a Personalidade Psicopática e as condutas terroristas.
Atualmente o estudo da Personalidade Psicopática
permite fazer a distinção entre duas estruturas. A primeira delas
(Fator 1), agrupa os sintomas de eloquência, falta de sentimentos de
arrependimento ou culpa, afetos superficiais, falta de empatia, e
extrema dificuldade em aceitar responsabilidades. Esta variante não
caracteriza necessariamente a pessoa antissocial, antes disso, parece
caracterizar uma grande puerilidade ou defeito na maturidade plena da
personalidade.
A segunda estrutura (Fator 2) consiste nos verdadeiros traços antissociais, ou seja, na agressividade e na falta de controle dos
impulsos. O Fator 1 não está necessariamente associado ao Fator 2, mas este sim, para que seja dado diagnóstico de Psicopatia, deve obrigatoriamente ter como pré-requisito o Fator 1.
Lewis cita, entre outros, as tipologias de Blackburn.
Esse autor refere que, enquanto a psiquiatria norteamericana define a
conduta anti-social em termos comportamentais, outras definições têm se
preocupado com as alterações emocionais.
Existem dois grupos em relação a esse aspecto. Um deles formado por
pessoas com escassos ou nenhum sentimento de arrependimento ou culpa
referentes à sua conduta anormal e têm pouca ou nenhuma empatia para com
seus pares embora se façam simpáticos e agradáveis (Fator 1, de Hare). Parece que o critério de observação é ético por excelência.
O outro grupo é formado por pessoas com tendências neuróticas:
apesar da conduta anormal apresentam emotividade excessiva e queixas de
conflito interno em relação à culpa, ansiedade, depressão,
arrependimento, paranoia, e outros sintomas neuróticos. Aqui os
critérios de observação são psicodinâmicos, psicopatológicos. No
primeiro caso é a chamada Psicopatia Primária (verdadeira), e a segunda Psicopatia Secundária.
Segundo idéias de Zuckermam (1, 2), uma das características
do psicopata seria um marcante traço da personalidade caracterizado por
psicoticismo, impulsividade, busca de sensações e atitudes não
socializadas, porém, esse super traço sociopático não estaria presente só
na Personalida Psicopática, mas também na Personalidade Borderline.
Fowles ressalta a “falta de medo” dos psicopatas, mas só na Psicopatia Primária, ou seja, naqueles que não sentem ansiedade. Horvath e Zuckerman
afirmam que, na busca de sensações e experiências intensas, os
psicopatas assumem diversos tipos de riscos, como por exemplo, trabalhos
ou esportes perigosos, imprudência ao dirigir, exposição a situações
ilegais, uso abusivo de drogas, sexo inseguro. Na vida militar costumam
aceitar voluntariamente missões voluntárias de risco.
Principais Sintomas
Tem havido bastante controvérsia em relação ao conceito de Personalidade Psicopática ou Anti-social.
Há autores que diferenciam psicopata de anti-social, mas, em nosso
caso, essa distinção é dispensável em benefício do melhor entendimento
do conceito. Howard sugere que os conceitos de psicopatia podem agrupar-se em três tipos:
Conceitos de Psicopatia de Howard
|
1) Um tipo Sociopata, caracterizado por conduta antissocial crônica que começa na infância ou adolescência como Transtorno de Conduta;
2) Um tipo Secundário,
caracterizado por um traço de personalidade com alto nível de
impulsividade, isolamento social, e perturbações emocionais (a conduta
sociopática seria secundária à essas alterações emocionais e da
sociabilidade); e
3) Um tipo Primário
caracterizado apenas por a impulsividade sem isolamento social e
perturbações emocionais (a qual pode-se aplicar aos criminosos comuns). |
Isso não implica que cada um desses três tipos seja mutuamente
excludente; a sociopatia é vista como um conceito amplo que engloba
tanto a psicopatia primária como a secundária, assim como uma alta
proporção de criminosos comuns.
Otto Kemberg classifica a sociopatia de modo diferente. Para
ele é extremamente difícil fazer o diagnóstico da psicopatia, quando a
situação clínica não está claramente definida.
Autores psicanalíticos consideram a Psicopatia como uma grave patologia do Superego como sendo uma síndrome de Narcisismo Maligno,
cujas características seriam a conduta antissocial, agressão
ego-sintônica dirigida contra outros em forma de sadismo, ou dirigida
contra se mesmo em forma de tendências auto mutiladoras ou suicidas sem
depressão e conduta paranóide.
A estrutura de tipo narcisística do psicopata teria a seguintes
características: autorreferência excessiva, grandiosidade, tendência à
superioridade exibicionismo, dependência excessiva da admiração por
parte dos outros, superficialidade emocional, crises de insegurança que
se alternam com sentimentos de grandiosidade.
Portanto, dentro das relações de objeto (com os outros), seria
intensa a rivalidade e inveja, consciente e/ou inconscientemente,
refletidos na contínua tendência para exploração do outro, incapacidade
de depender de outros, falta de empatia com para com outros, falta de
compromisso interno em outras relações.
Otto Kemberg vê neste narcisismo patológico um componente
psicodinâmico para o diagnóstico da psicopatia. O narcisismo não
patológico é consequência de uma boa evolução do Ego, uma aceitação da
realidade e como essa realidade pode ser usada para satisfazer as
necessidades dirigidas ao exterior e ao objeto. As pessoas que não
realizaram bem esta formação, por não haver interiorizado suficiente
amor e estima recebidos do meio, acabam por desenvolver defesas
narcisistas muito fortes.
Narcisismo Maligno Muitas
vezes é extremamente difícil fazer o diagnóstico da psicopatia, quando a
situação clínica não está claramente definida. Por isso Otto Kernberg
faz um diagnóstico diferencial entre três tipos de ocorrências antissociais:
1) A Síndrome do Narcisismo Maligno, representando o Psicopata cuja eventual causa da sociopatia seria fruto do meio e de elementos psicodinâmicos. Aqui a conduta antissocial tem origem no Narcisismo Maligno,
há incapacidade em estabelecer relações que não sejam exploradoras, não
existe capacidade de identificar valores morais, não existe capacidade
de compromisso com os outros e não há sentimentos de culpa;
2) A Estrutura Antissocial Propriamente Dita. Aqui o quadro é basicamente o mesmo da anterior, ou seja, também se manifestam condutas antissociais mas não há o fenômeno do Narcisismo Maligno.
Há também incapacidade de relações não exploradoras, incapacidade de
identificação dos valores morais, incapacidade de compromisso com outros
e incapacidade de sentimentos de culpa.
3) A Personalidade Narcisística com Conduta Antissocial.
Além da conduta antissocial existe uma estrutura narcisística. Não há
Narcisismo Maligno, há igualmente incapacidade de relações não
exploradoras, incapacidade de identificar valores morais, incapacidade
de compromisso com os outros, porém, existe capacidade de sentimento de
culpa (Kernberg, 1988).
Principais Sintomas1. - Encanto superficial e manipulação Nem
todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que
utilizam o encanto pessoal e, consequentemente capacidade de manipulação
de pessoas, como meio de sobrevivência social.
Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as
pessoas, ele as usa e quando não o servem mais, descarta-as, tal como
uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de
coisificação a chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos
do psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de
seu semelhante. Transformando seu semelhante numa coisa, ela deixa de
ser seu semelhante.
O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem no
psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que
não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse
alguém foi antes seduzido.
2. - Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso. Embora
qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da
mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta
de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir que é
difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude
completamente neutra e relaxada.
O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para
conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não
se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente
desprazer quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa
ou motivo.
Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para
aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo,
quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo
fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de
suicídio, etc.
É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre
circunstâncias reais. Isso porque sua personalidade é narcisística, quer
ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim,
ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, à seu personagem do
momento, de acordo com a circunstância e com sua personalidade é
narcisística. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua
imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a
todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem
verdadeiro.
3. - Ausência de Sentimentos AfetuososDesde
criança se observa, no psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos
e um caráter dissimulado. Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação
ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente indiferente aos
sentimentos alheios.
Os laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos
psicopatas. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os
sentimentos dos outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular
esses sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas
extremamente frias, do ponto de vista emocional.
4. - AmoralidadeOs psicopatas
são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes
totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de ética.
5. - ImpulsividadeTambém
por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o psicopata não
tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de sentimentos
éticos e altruístas, unidos à falta de sentimentos morais, impulsiona o
psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes.
Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às
frustrações, refletindo-se na desproporção entre os estímulos e as
respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos
mínimos e triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam
fazer com que o psicopata demonstre uma absoluta falta de reação frente a
estímulos importantes.
6. - IncorrigibilidadeDificilmente
ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência
e da correção. Podem dissimular, como dissemos, durante algum tempo seu
caráter torpe e antissocial, entretanto, na primeira oportunidade
voltam à tona com as falcatruas de praxe.
7. - Falta de Adaptação SocialJá
nos primeiros contatos sociais o psicopata, desde criança, manifesta
uma certa crueldade e tendência a atividades delituosas. A adaptação
social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do
psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas
pelos demais e responsável pelas dificuldades de sociabilidade.
Mesmo no meio familiar o psicopata tem dificuldades de adaptação.
Durante o período escolar tornam-se detestáveis tanto pelos professores
quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático
durante algum tempo. Nos empregos a inconstância é a característica
principal.
Personalidade Psicopática, Sociopata, Personalidade Antissocial ou Dissocial ? Alguns autores não veem como sinônimo, a Personalidade Psicopática e a Personalidade Antissocial. A Personalidade Antissocial,
segundo os autores que a diferenciam da psicopática, se constitui num
caso mais franco, declarado e aberto de anomalias no relacionamento, ou
seja, menos dissimulado e teatral que a psicopática. Essas pessoas
costumam ser mais impetuosas, contestam com mais franqueza as normas
sociais, criam mais transtornos e animosidades com os demais e, por fim,
estão mais associados aos fatores de criminalidade que os psicopatas.
De acordo com essa visão, os psicopatas costumam ser até mais
perigosos que os sociopatas, tendo em vista sua maneira dissimulada de
ocultar a índole contraventora. Os sociopatas atentam contra as normas
sociais mais abertamente que os psicopatas.
Para nós, e creio que academicamente também, será benéfico tomar o sociopata e o psicopata como a mesma ocorrência. O DSM.IV chama esses casos de Personalidades Antissociais e a CID.10 de Personalidades Dissociais, ambos afastando-se da denominação Psicopata.
Isso se deve, exclusivamente, à natureza etimológica da palavra. Por
uma questão de coerência, assim como a cardiopatia significa qualquer
patologia que acontece sobre o coração, o termo psicopatia deveria
referir-se a qualquer patologia psíquica. Portanto não é correto,
etimologicamente, chamar de psicopatas apenas os sociopatas. (Veja esses
transtornos no DSM.IV e na CID.10 como Personalidade Dissocial).
F
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Eloquência
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2
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1
|
0
|
1
|
Encanto e simpatia superficiais
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|
|
|
1
|
Sensação de grandiosidade
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|
|
|
1
|
Mentiras patológicas
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|
|
|
1
|
Autoridade e mando
|
|
|
|
1
|
Manipulação
|
|
|
|
1
|
Falta de arrependimento e culpa
|
|
|
|
1
|
Afetos superficiais
|
|
|
|
1
|
Instabilidade emocional
|
|
|
|
1
|
Falta de empatia para com os outros
|
|
|
|
1
|
Não aceita responsabilidade por suas ações
|
|
|
|
2
|
Necessidade de estimulação continuada
|
|
|
|
2
|
Tendência ao Aborrecimento
|
|
|
|
2
|
Estilo de vida parasita
|
|
|
|
2
|
Pouco controle da conduta
|
|
|
|
2
|
Problemas de conduta precoce
|
|
|
|
2
|
Falta de metas realistas
|
|
|
|
2
|
Impulsividade
|
|
|
|
2
|
Irresponsabilidade Delinquência juvenil
|
|
|
|
TOTAL
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|
|
|
Pontuação:
Os traços são separados em duas categorias; F1 e F2, sendo:
F1= Traços centrais da psicopatia.
F2= Traços de instabilidade.
Valoração:
- 2 Pontos: quando a conduta do sujeito é consistente e se ajusta à intenção do item.
-
1 Ponto: a conduta do sujeito se ajusta em certa medida mas não no grau
suficiente para pontuar 2. Existem dúvidas, conflitos na informação que
não podem resolver-se a favor da pontuação 2, nem tampouco em 0.
- 0 Ponto: o item não se aplica. O sujeito não mostra o traço ou a conduta na questão que propõe o item.
Conclusão:
0-20: normal.
21-30: grupo médio.
31 o mais: psicopata.
Quanto maior o número de pontos no grupo F2 mais grave a psicopatia
Ballone GJ, Moura EC
Fonte: PsiqWeb