Os códigos variam, mas repare como vivemos na expectativa de que um dia seremos finalmente reconhecidos pelo chefe, cônjuge, colegas, sociedade, por Deus. “Se nada der certo, pelo menos depois da morte.” – pensamos resignadamente.
Seja um cidadão honesto, uma pessoa amorosa, responsável, equilibrado, caridoso, querido. Trate bem as pessoas, seja amigo dos animais, seja inclusivo, não perca a calma, nem desperdice água, tenha uma foto sorrindo no Facebook e um dia o cosmos perceberá seu valor. Mas na prática nem sempre é assim.
Há gente “má” feliz. Há gente “boa” sofrendo e vice versa. Há honestos minguando aceleradamente, há desonestos alegres com sua própria prosperidade. Perceba que nem tudo se encaixa com lógica no discurso quase generalizado que insiste: “Seja legal e tudo será perfeito.”
No dia da escassez a alma nos cobra. A mente não cala diante das injustiças. O coração se inquieta quando a recompensa parece negar-se a vir. Viramos cínicos ou amargurados.
Às vezes a vida parece contraditória. É preciso reconhecer para seguirmos adiante, percebendo que talvez a tal “recompensa” não se vincule a concretização de nenhuma expectativa, mas quem sabe esteja ligada ao que estou me transformando.
Talvez apenas isso importe: O que minhas escolhas tem feito comigo e o que tenho feito com minha vida? Não se trata de premiações, de reconhecimentos, de capital acumulado para resgatarmos depois. Falo sobre a capacidade de ser quem é independentemente do que ganhará com isso. Como a árvore que dá frutos sem nada em troca, como as nuvens que desaguam apenas por serem nuvens, como a vida que é em nós, apesar de nós mesmos.
Flávio Siqueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário