Ultimamente tenho falado um pouco mais sobre os males que a
expectativa produz. Percebo que, especialmente quando insisto no fato de
que nossas decepções são causadas por nós mesmos, como fruto das
expectativas, o desconforto de muitos se expressa em comentários um
tanto quanto contrariados.
“Como não criar expectativas em relação a um casamento?”, “Você
consegue não ter expectativas relacionadas ao futuro de um filho?”, “É
possível prosperar profissionalmente sem expectativas de crescimento?” –
São perguntas que vez ou outra aparecem, algumas com certo ar de
indignação como a de alguém escreveu algo do tipo “isso é demagogia!”.
Primeiro quero que saiba que reconheço que não é fácil. Poucos de nós
realmente entenderam o real significado de enxergar a si mesmo. Estamos
sempre olhando para fora, apontando, esperando, julgando, querendo que a
vida corresponda aos nossos justificados desejos, afinal, que mal há em
querer que um casamento dê certo, um filho progrida, um trabalho seja
bem sucedido? – Pensamos.
Mal nenhum, mas a questão não é essa. Pense comigo: Criar
expectativas não é o mesmo de querer bem. No primeiro caso me desloco no
tempo e projeto para o futuro determinado desfecho que não tenho a
menor condição de garantir. Me fixo apenas em uma possibilidade e, se não acontece conforme esperei, o próximo passo será a decepção.
No segundo caso, quando apenas quero bem, estou consciente que as
coisas nem sempre acontecem exatamente como quero e me mantenho aberto
para as incontáveis possibilidades que cada evento carrega, portanto, ao
invés de esperar lá na frente, no futuro, desfruto o beneficio do
agora, enxergando hoje tudo o que posso enxergar.
A decepção é fruto das expectativas. Quanto mais espero, quanto mais
ansioso por determinado caminho, mais decepcionado diante da
contrariedade.
Minha proposta é bem simples: Ao invés de viver esperando que o
futuro seja de determinada maneira, por que não tenta desfrutar do que
está acontecendo agora, ainda que o cenário não seja aquele que desenhou
na mente?
Agora entenda: Isso não quer dizer de maneira nenhuma que deve deixar
de fazer seu melhor, de contribuir para que tudo caminhe bem, seja na
vida pessoal, no trabalho ou nos relacionamentos. Não criar expectativas
não é sinônimo de falta de intensidade, mas, pelo contrário, é não
projetar sobre as pessoas ou acontecimentos uma sobrecarga que depois
voltará em forma de decepção.
A decepção não é criada pelo outro, mas por você que esperava de mais.
A intensidade não está no que espero lá na frente, mas no que
experimento no eterno agora. Cuidar do futuro será um trabalho ineficaz
enquanto não entendo que o futuro sempre cede espaço para o presente e
vira hoje, vira hoje, vira hoje, portanto, cabe exclusivamente a mim
cuidar do hoje transformando cada instante em solo fértil para o
“futuro”.
Você nunca verá seu marido como é, jamais aceitará seu filho com
todas as suas particularidades, viverá em eterno conflito como sua vida
enquanto não parar de criar expectativas. Até para que as pessoas e
cenários mudem é preciso clareza e aceitação. Se alterações realmente
forem necessárias e você tiver que interferir, só perceberá quando
estiver presente, no hoje, no agora, sem expectativas.
A falta de expectativa lhe torna isento para enxergar o caminho,
entender as pessoas, pacificar-se com sua vida. Ser feliz é assim, é
pacificar-se consigo e com o que é, é aceitar-se até que não precise
criar expectativas. É enxergar a vida sem esperar nada específico lá na
frente, especialmente por saber que o “lá na frente” é consequência do
agora e se estabelecerá em harmonia se hoje a harmonia for sua casa.
Pacifique-se consigo mesmo.Ouse
confiar que tudo se encaixará como deve ser. Entenda finalmente que o
que de melhor você pode fazer para seu futuro é viver no presente,
aberto para todas as bilhões de possibilidades, de desdobramentos, de
caminhos que se estenderão naturalmente para quem vive com simplicidade e
naturalidade.
Descanse. Não é preciso criar tantas expectativas.
Fique bem.
Flavio Siqueira