Antes de começar a escrever as mensagens que chegam pela manhã,
tento me concentrar por alguns instantes e esvaziar a mente ainda
carregada das impressões do sono recém interrompido pelo despertador que
toca às 4h30.
Quase nunca sei sobre o que vou dizer, começo por uma frase, uma
impressão, algo que movimenta minha interioridade e permito que as
palavras traduzam de modo a se conectar com liberdade em quem lê. Às
vezes sou influenciado por uma pergunta, um comentário, um e-mail, uma
crítica, não importa, o fato é que tudo pode desembocar em oportunidade
para enxergar além da superficialidade das letras, percebendo que nada
se encerra no que aparenta ser.
Nada se encerra no que aparenta ser. Nada.
Funciona quando escrevo porque funciona enquanto vivo. Com o tempo
você perde o condicionamento, deixa de ser um dos “alfa mais”,
personagens do Admirável mundo novo de Aldous Huxley, e começa a virar
gente.
É preciso ser gente para conectar as experiências e abrir mão do
absoluto controle das coisas. Não vemos porque somos programados para
não ver além da camada de verniz, baseando nossas percepções na
percepção da media, da maioria e assim passamos uma vida alimentando
condicionamentos, sempre reagindo, jamais ousando enxergar, reprimindo
questionamentos sob o escudo do medo.
Estou falando sobre você e sobre mim. Não use esse texto como
argumento para apontar determinado grupo de gente estereotipada, “massas
de manobra”, gente que ainda não sabe o que você pensa que sabe. Esse
texto é para você que acredita ter chegado à algum lugar, estar acima da
media, “iluminado”, quem sabe?
Nada se encerra no que aparenta ser.
É assim que consigo escrever, é assim que tenho aprendido a viver na
mesma medida que, diariamente, me entrego as necessárias desconstruções
de quem sabe que também está exposto a inúmeros e sutis
condicionamentos.
Por isso tento não me apressar em julgar, em determinar opiniões que
tantas vezes podem reduzir experiências riquíssimas e abrangentes em
apequenadas opiniões de quem, condicionado pelo medo, não vê.
Todos nós estamos expostos a condicionamentos. Todos, portanto cabe a cada um enxergar a si mesmo.
Hoje não vou me estender tanto, quero ser simples como tudo deve ser
e, logo pela manhã te lembrar que a vida que viverá hoje, no único dia
que existe, é uma grande oportunidade para enxergar fora da caixinha,
uma chance para descondicionar-se e perceber em cada sutil movimento de
vida que nada se encerra no que aparenta ser.
Pense nisso e tenha um lindo dia ! Fique bem.
Flavio Siqueira