“Será que todas as pessoas tem de fato as mesmas oportunidades? Ou algumas tem mais sorte do que outras?”
O que são “oportunidades”?
Chances de ganhar dinheiro, frequentar uma escola, ter um trabalho, uma
casa, uma família? “Oportunidades” tem a ver com alegrias, conforto e
promoção profissional?
Se oportunidade for isso eu digo que não, nem todos tem as mesmas oportunidades.
Tem gente que nasce pobre, doente, exposto a misérias, situações
difíceis de superar. Há os que nascem com deficiência física, mental,
com saúde debilitada, sem acesso ao estudo, muitas vezes sem acesso ao
amor de um pai ou uma mãe.
É claro que esses terão menos “oportunidades” na vida, é claro que para eles o caminho será mais tortuoso, mais difícil.
Há os que pensam ser “provação”, um carma ou quem sabe lições –
pesadíssimas lições – onde alguns “aprendem” com a dor. Conheço nossa
tendência em querer respostas prontas e fáceis, fórmulas que nos
anestesiem a consciência diante da miséria e da injustiça, mas não vou
por esses caminhos. Também não vou falar sobre a desigualdade que
poderia ser evitada se tivéssemos políticos que pensassem em algo além
de sua conta bancária.
Sinto que há algo além… Quando me afasto um pouco do quadro e tento
entender como essas dinâmicas acontecem na vida de maneira geral,
constato que em um mesmo jardim há inço e flores, que em uma mesma
fazenda há animais domésticos e para o abate, que há dias de sol e
calor, tempestades de neve e vendavais, aliás, não preciso ir longe para
perceber em mim luz e trevas, percepções fantásticas convivendo com
sentimentos mesquinhos, eternidade e finitude, vida e morte habitando
uma consciência parcial com lampejos de alguma abrangência.
Diante da ambivalência da vida, das minhas próprias, resta a
constatação de que cada um vive suas próprias oportunidades e,
sobretudo, que nem eu nem você sabemos de fato o que significa
“oportunidades”.
Estamos experimentando, cada um em sua própria realidade, uma
oportunidade única de ser humano, no seu contexto, em suas próprias
alegrias e sofrimentos, com todas as facilidades e dificuldades que nos
tocam, que nos fazem, que nos mudam e nos moldam.
As aparentes disparidades da natureza geram equilíbrio, toda a vida é
repleta de luz e sombras, alegrias e tristezas, saúde e doença em um
corpo finito que abriga uma consciência eterna.
Olhando com abrangência, percebo que oportunidades não são
necessariamente o que pensamos, mas a conexão entre experiências, todas
elas, de todos, sejam “boas” ou “más”, “justas” ou “injustas” a soma de
tudo o que somos individualmente e vivemos coletivamente, eu, você e
todos, ainda que doa, ainda que seja difícil e que não tenhamos nenhum
controle sobre o processo inteiro.
Não sei o que são de fato “oportunidades”, mal reconheço as minhas
próprias, por isso, resta o mistério e o claro sentimento de que no fim
das contas tudo caminha para onde deve estar, que a vida não é fixa, que
todos podem criar suas próprias oportunidades, não necessariamente para
ter, mas, sobretudo para ser. Portanto trabalhemos, cada um de nós,
pelas oportunidades, as que estão acima das contingencias, as que vivem
em cada humano como potencial único, as que se renovam a cada manhã.
Sinto que não posso ir além, mas para mim já é suficiente.
Flavio Siqueira