Escrevi esse guia, antes de tudo, para mim mesmo. Claro que ele não
serve para todas as situações, não vai resolver todos os problemas e
conflitos do mundo. Sei que há questões muito mais complexas e que podem
tornar bastante difíceis aproximações e pedidos de desculpas, por
melhores que sejam as intenções.
Compartilho com vocês essas ideias justamente na esperança de poder
lapidá-las um pouco mais e, quem sabe, melhorar a forma como eu mesmo
tenho tentado assumir meus erros e reparar as mancadas que sigo dando
pela vida.
Ouvindo histórias por aí, às vezes tenho a impressão de que em muitas
das nossas fantasias, não precisaríamos pedir desculpas. Muitos de nós
cultivam secretamente delírios nos quais somos infalíveis, honrados,
dignos, fortes.
Sabemos, porém, que não é tão fácil quanto no discurso. Somos
desajeitados, orgulhosos, temos pouquíssima habilidade ao agir e nos
comunicar. Frequentemente causamos danos e perdemos a consciência a
respeito de nossos atos. Saímos falando sem pensar, nos arrependemos e
sentimos a necessidade de tentar reparar as consequências do que
fizemos.
Diante disso, surgem vários conflitos. Será que devemos admitir nossa
fragilidade? E se formos rejeitados? Como lidar com a vergonha por ter
errado?
Como pudemos relaxar e, diante de algo que foge às nossas
expectativas, lidar com isso sem adicionar camadas de culpa e
vitimização?
Por que não admitimos o erro?
Se alguém erra na nossa frente, é muito fácil culpar, punir e tirar
disso um sentimento de que a justiça foi feita. Se somos nós errando,
melhor que ninguém perceba. Se o flagrante é inevitável, então a
situação pode até atingir extremos de raiva, frustração. Relações podem
terminar.
Nessas situações, somos rápidos em cair na tentação de evitar a
falha, de querer maquiar o deslize. Para isso, muitos não poupam
esforços.
Se você perde o prazo, a vontade de mudar um detalhe no cronograma
sem que ninguém perceba surge. Talvez você tenha feito intriga por causa
de um objeto que não lembrava onde deixou e, de repente, encontra
sozinho, depois de fazer várias acusações. Melhor que ninguém saiba, né?
Por que não deixar no local anteriormente dito para que as pessoas o
encontrem “por acaso”?
Quem sabe, pode ter feito algo diferente do combinado com sua mãe,
irmão, irmã, amigo, amiga, namorada, etc. É preciso dar um jeito nisso.
Mentir, enganar, disfarçar provas, culpar outros. Esses são apenas
alguns dos pequenos truques que podem ganhar maiores proporções à medida
que damos importância a algo que saiu do nosso roteiro.
Somos incapazes de admitir uma falha porque começamos a nos enxergar como se fôssemos nossos próprios erros.
Ninguém quer se ver feio, falível, errado, quase um criminoso, um incapaz.
Uma boa alternativa pode ser não entrar nesse padrão. Não culpar e
não reforçar o impulso de se culpar. Surgindo um enrosco, talvez seja
mais apropriado se colocar na posição de ajudar, se livrando da
identificação direta com o erro.
Uma relação construída de forma a não haver culpa, tende a tornar
desculpas cada vez menos necessárias. As duas partes vão estar mais
atentas ao fato de que nossas ações se dão por condições e que nem
sempre elas são favoráveis e, por isso, cometemos deslizes. Se alguém
erra, os dois vão ser capazes de enxergar aquilo de uma forma impessoal.
Não é o fulano, é o deslize. Assim, é mais fácil agir e resolver
qualquer que tenha sido o problema decorrente da falha. Ombro a ombro,
sem inimigos.
“O verdadeiro perdão não é aquele que perdoa. O verdadeiro perdão é aquele que não culpa.” – Lama Padma Samten
Como pedir desculpas e assumir seus erros
Mesmo com tudo isso em mente, pode ser importante aceitar que errou e
fazer um pedido de desculpas. Não por você querer se punir, aceitando
uma posição de vítima, mas como um meio-hábil, uma forma de resolver
conflitos, de aproximar, de tocar e abaixar as barreiras que alguém pode
ter construído na relação. É para isso que pedidos de desculpas podem
ser úteis.
Por isso, separei aqui um pequeno passo-a-passo para lidar com minha própria dificuldade de pedir desculpas.
1. Abaixe a guarda
Em situações de trabalho, na família, ou em relacionamentos, pode ser
importante se aproximar com as guardas baixas. Reconhecer o ponto de
vista do outro, respirar e falar de coração.
Você não vai conseguir diminuir uma eventual rusga se seu pedido de
desculpas for feito com clara má vontade, envolto em raiva ou
orgulho.Você não quer mais guerra. Se o objetivo é encerrar os ataques,
abaixe suas defesas.
2. Ouça
Quando enfrentamos um sofrimento, especialmente se isso envolve uma
relação, temos uma forte tendência a querer que o outro nos ouça e nos
entenda. Queremos perdão para nos livrarmos da nossa culpa e, por isso,
acabamos atropelando tudo, sentando e tagarelando, tentando explicar
nossas motivações numa tentativa de minimizar o peso.
A hora de falar virá. Mas, antes de qualquer coisa, é essencial ouvir. Fazer
perguntas, ser curioso, realmente querer entender o que o outro está
pensando e talvez tenha levado todo o enrosco a surgir. Muitas vezes
esquecemos o valor do feedback de alguém que tem uma crítica ou
insatisfação a nosso respeito.
É desse processo que surgem as bases para o diálogo, para a conexão
que pode permitir o surgimento de uma relação ainda mais madura do que a
anterior ao erro.
3. Peça desculpas
Esse pode ser o momento mais difícil, mas não pense que há como
evitar. Você pode até achar que passar por todo o processo de assumir o
erro, não se justificar, tomar a responsabilidade e reparar os danos é
suficiente. Mas não é. Apenas fale.
Não falar pode dar a péssima impressão de que você sabe o que fez mas se orgulha, que está batendo no peito.
Portanto, peça desculpas.
4. Não tente se sair bem
A melhor forma de aumentar os danos em uma situação embaraçosa é ter a
motivação de se sair bem, jogar o problema para debaixo do tapete e
fingir que nada aconteceu.
É muito mais efetivo se debruçar sobre o problema, admitir a derrota.
Ao invés de tentar fugir ou evitar expor as feridas, melhor escancarar
tudo – nem preciso dizer aqui que “escancarar tudo” não significa chutar o pau da barraca e soltar a metralhadora de ofensas, né?
Erramos, ponto. Vamos olhar pra isso sem medo e tentar seguir em uma direção melhor.
5. Assuma responsabilidade, não se vitimize
Todos nós já cometemos erros. Sem exceção. Isso não é motivo para
sair agindo de maneira irresponsável e não ligar para as consequências
dos próprios atos. Mas também não significa que devemos nos culpar e nos
posicionar como vítimas.
Se você chegou ao ponto de se dispor a pedir desculpas, expresse seu
conhecimento a respeito da falha que cometeu. Seja claro e honesto.
E lembre-se: o foco não é você. É o erro.
6. Ofereça-se para reparar os danos
Uma das partes principais de assumir a responsabilidade é oferecer-se
para reparar os danos. Se você reconhece que houve algum tipo de
prejuízo, seja ele material ou emocional, é de bom tom ajudar ou tentar
de alguma forma trazer as coisas o mais próximo possível de seu estado
anterior.
Claro, nem sempre é possível. Há coisas que não podem ser reparadas.
Mas, se puder, faça.
7. Não tente escapar do erro se explicando
Não se explicar não é deixar a pessoa no escuro, sem informação
alguma a respeito do que ocorreu. Errou, conte o que aconteceu. Explique
a situação, mas não use isso como justificativa. Há uma boa razão para
algo ter ocorrido, conte. Não use isso para evitar encarar a
responsabilidade.
Esse é o tipo de terreno que você entra quando tenta se justificar
Um parâmetro que uso para ligar o radar da autoexplicação é perceber
se estou com vontade de falar “aconteceu uma coisa, mas…”. Quando isso
acontece, é certo: estou evitando assumir de verdade a falha.
Não se explique, não adicione nenhum “mas…”, não tente justificar. Não passe seu erro adiante, fique com ele.
8. Peça ajuda
Você falhou. Agora, pode se blindar das melhores intenções,
desenvolver métodos e até listas como essa, mapeando todo o terreno do
engano no qual se meteu. Porém, não adianta: vai voltar a falhar.
Melhor do que fazer promessas é pedir ajuda. Estamos todos no mesmo barco.
“Hoje, eu errei. Me desculpe. Quero cometer erros menos
grosseiros, mas sei que sozinho não tenho chance alguma. Me ajuda a
evitar cair nos mesmos enganos?”
Pronto, além de resolver um conflito, podem se tornar parceiros.
Podem caminhar lado a lado, criar laços mais fortes e crescerem juntos.
Quero saber, como vocês pedem desculpas? O que já funcionou? Quais dificuldades encontram?
Por Luciano Ribeiro
Fonte:
Papo de Homem