Nossa cultura vende a ideia que o amor é um produto, que podemos
comprá-lo. É comum encontrar gente que vincula amor a passividade,
omissão “bunda molisse”, condicionando o ser que ama com fraqueza, com
demagogia, com “melosidade”.
É por isso que amor virou tema de novela açucarada ou filme
romântico. Perdeu sua gravidade, seu senso de urgência, seu verdadeiro
poder que está muito distante de, como muitos pensam, “fazer de conta
que nada existe”, simplesmente porque, em amor, não me resta escolha a
não ser posicionar-me, a não ser a verdade, ainda que essa vá contra o
senso comum e seja contraditória com o que a média convencionou como
sendo uma “atitude de amor”.
Existe uma diferença abismal entre amar e ser “bonzinho”,
especialmente porque no primeiro caso é preciso coragem para fazer
cortes quando necessário, afastar-se, ir no contra fluxo, dizer não, ser
duro muitas vezes. Dói, é difícil, nem todos irão entende-lo, mas você
cresce, você sabe, você ama.
É por amor que nos posicionamos sempre, especialmente por saber que,
sem amor, qualquer discurso perde a lucidez, perde a eficácia, perde o
alvo e vira poesia açucarado, filosofia oca.
É o amor que nos mantém o foco, força a seguir, ainda que o caminho
seja difícil. É o amor que transforma a indignação em algo útil, bonito e
claro e impede que o descontentamento se transforme em amargura.
Apenas ame: Ame quando se indignar, ame quando achar que tudo está
fora do eixo, ame quando todos parecerem passivos de mais e a sensação é
que a omissão tomou conta das mentes, ame sem medo, sem dogmas, sem
“bunda molisse”, sem ser “bonzinho”, ame sempre e responda as demandas
com a energia do amor.
Ame até aprender a diferença entre meninos raivosos e homens que amam. Você vai se surpreender. Que assim seja.
Flavio Siqueira