domingo, 8 de fevereiro de 2015

Castigo, arrependimento e esperança


1 Eu sou aquele que sabe o que é sofrer os golpes da ira de Deus.
2 Ele me levou para a escuridão e me fez andar por caminhos sem luz.
3 Com a sua mão, me bateu muitas vezes, o dia inteiro.
4 Deus fez envelhecer a minha carne e a minha pele e quebrou os meus ossos.
5 Em volta de mim, ele construiu um muro de sofrimento e amargura. 
6 Ele me fez morar na escuridão, como se eu estivesse morto há muito tempo.
7 Deus me amarrou com pesadas correntes; estou na prisão e não posso escapar.
8 Grito pedindo socorro, mas ele não quer ouvir a minha oração.
9 Não posso seguir em frente, pois, com grandes blocos de pedra, ele fechou o meu caminho.
10 Deus tem sido para mim como um leão de tocaia, como um urso pronto para atacar.
11 Ele me afastou do caminho, me fez em pedaços e depois me abandonou.
12 Ele armou o seu arco e fez de mim o alvo das suas flechas.
13 As flechas atiradas por Deus entraram fundo na minha carne.
14 O dia inteiro as pessoas riem de mim; elas zombam de mim nas suas canções.
15 Deus me encheu de comidas amargas e me fez beber fel até eu não poder mais.
16 Ele esfregou o meu rosto no chão e quebrou os meus dentes nas pedras.
17 Já não sei mais o que é paz e esqueci o que é felicidade.
18 Não tenho muito tempo de vida, e a minha esperança no Senhor acabou.
19 Eu lembro da minha tristeza e solidão, das amarguras e dos sofrimentos.
20 Penso sempre nisso e fico abatido.
21 Mas a esperança volta quando penso no seguinte:
22 O amor do Senhor Deus não se acaba, e a sua bondade não tem fim.
23 Esse amor e essa bondade são novos todas as manhãs; e como é grande a fidelidade do Senhor!
24 Deus é tudo o que tenho; por isso, confio nele.
25 O Senhor é bom para todos os que confiam nele.
26 O melhor é ter esperança e aguardar em silêncio a ajuda do Senhor.
27 E é bom que as pessoas aprendam a sofrer com paciência desde a sua juventude.
28 Quando Deus nos faz sofrer, devemos ficar sozinhos, pacientes e em silêncio.
29 Devemos nos curvar, humildes, pois ainda pode haver esperança.
30 Quando somos ofendidos, não devemos reagir, mas sim suportar todos os insultos.
31 O Senhor não rejeita ninguém para sempre. 
32 Ele pode fazer a gente sofrer, mas também tem compaixão porque o seu amor é imenso.
33 Não é com prazer que ele nos causa sofrimento ou dor.
34 Deus sabe quando neste país os prisioneiros são massacrados sem compaixão.
35 O Deus Altíssimo sabe quando são desrespeitados os direitos humanos, que ele mesmo nos deu.
36 Sim, o Senhor sabe quando torcem a justiça num processo.
37 Ninguém pode fazer acontecer nada se Deus não quiser.
38 Tanto as coisas boas como as más acontecem por ordem do Deus Altíssimo.
39 Por que nos queixarmos da vida quando somos castigados por causa dos nossos pecados?
40 Examinemos seriamente o que temos feito e voltemos para o Senhor.
41 Abramos o nosso coração a Deus, que está no céu, e oremos assim:
42 “Ó Deus, nós pecamos, nos revoltamos, e não nos perdoaste.
43 “Tu ficaste irado conosco, nos perseguiste, nos mataste sem dó nem piedade.
44 Tu te cercaste de nuvens para que as nossas orações não chegassem a ti.
45 Fizeste com que as nações olhassem para nós
como se fôssemos um monte de lixo e refugos. 
46 “Somos insultados por todos os nossos inimigos.
47 Temos vivido no meio de medos, perigos, desgraças e destruição.”
48 Dos meus olhos correm rios de lágrimas por causa da destruição do meu povo.
49 Sem parar, os meus olhos vão derramar lágrimas 50 até que o Senhor olhe lá do céu e nos veja.
51 O meu coração sofre muito quando penso no que vi acontecer com as mulheres da minha cidade.
52 Os meus inimigos, que não tinham razão para me odiar, me caçaram como se eu fosse um passarinho.
53 Eles me jogaram vivo num poço e o taparam com uma pedra.
54 A água subiu acima da minha cabeça, e eu pensei: “Estou perdido!”
55 Do fundo do poço, gritei pedindo a tua ajuda, ó Senhor.
56 Roguei que me escutasses, e tu ouviste o meu grito.
57 No dia em que te chamei, chegaste perto de mim e disseste: “Não tenha medo!”
58 Ó Senhor, tu vieste me socorrer e salvaste a minha vida.
59 Julga a meu favor, ó Senhor, pois conheces as injustiças que tenho sofrido.
60 Tu sabes como os meus inimigos são vingativos e conheces os planos que fazem contra mim.
61 Ó Senhor Deus, tu ouviste os seus insultos e conheces todos os seus planos.
62 Tu sabes que o dia inteiro falam contra mim e planejam me prejudicar.
63 Tu vês que, em todos os momentos, eles zombam de mim.
64 Ó Senhor, dá-lhes o que merecem, castiga-os pelo que têm feito.
65 Amaldiçoa-os e faze com que eles caiam no desespero.
66 Persegue-os na tua ira, ó Senhor, e acaba com eles aqui na terra!

O Senhor Deus me ensina o que devo dizer a fim de animar os que estão cansados...


1 O Senhor Deus diz ao seu povo: “Será que vocês acham que eu os mandei embora como um homem manda embora a sua mulher? Então onde está o documento de divórcio? Ou acham que eu os vendi como escravos a fim de pagar as minhas dívidas? Não! Vocês foram levados prisioneiros por causa dos seus pecados; eu os mandei embora por causa das suas maldades. 
2 Por que é que ninguém foi me encontrar quando eu vim salvá-los? Por que ninguém respondeu quando eu chamei? Será que agora não tenho poder para salvá-los? Será que já perdi toda a minha força? Não! É só eu dar uma ordem, e o mar seca. Faço os rios virarem um deserto; assim, por falta de água, os peixes morrem de sede e começam a cheirar mal.
3 Posso cobrir de escuridão o céu, posso fazê-lo vestir roupa de luto.” 

O sofrimento e a fidelidade do servo de Deus
4 O Senhor Deus me ensina o que devo dizer a fim de animar os que estão cansados.
Todas as manhãs, ele faz com que eu tenha vontade de ouvir com atenção o que ele vai dizer.
5 O Senhor Deus me deu entendimento, e eu não me revoltei, nem fugi dele.
6 Ofereci as minhas costas aos que me batiam e o rosto aos que arrancavam a minha barba. Não tentei me esconder quando me xingavam e cuspiam no meu rosto.
7 Mas eu não me sinto envergonhado, pois o Senhor Deus me ajuda. Por isso, eu fico firme como uma rocha e sei que não serei humilhado,  8 pois o meu defensor está perto. 
Alguém tem uma causa contra mim? Então vamos juntos ao tribunal.
Alguém quer me processar? Que venha e apresente a sua acusação!
9 O Senhor Deus é quem me defende, e por isso ninguém poderá me condenar.
Todos os meus inimigos desaparecerão; serão como um vestido que as traças destruíram.
10 Escutem, vocês que temem o Senhor e obedecem às ordens do seu servo: 
se o caminho em que andam é escuro, sem nenhum raio de luz, confiem no Senhor, ponham a sua esperança no seu Deus.
11 Mas vocês que acendem uma fogueira e se armam com flechas incendiárias, todos vocês cairão no fogo que acenderam e serão mortos pelas suas próprias flechas.
O Senhor mandará esse castigo; um sofrimento horrível os espera.

Comentário devocional:

Deus havia abandonado Seu povo? Para muitos judeus parecia que sim. Seus inimigos eram uma ameaça constante para eles, e Deus havia predito o exílio dos judeus em uma terra estrangeira. Neste capítulo o Senhor apresentou diante deles duas questões legais: divórcio e escravidão (v.1).

Deus não tinha, de fato, se divorciado de Judá, apesar de muitos falarem desta maneira em Jerusalém. Se fosse assim, eles poderiam apresentar um certificado de divórcio? Não podiam. Não havia como obter provas de que isto houvesse acontecido. Deus também não os havia vendido permanentemente como escravos. Ninguém podia apresentar um documento de que os havia comprado. 

Judá seria mandado embora por um período de tempo, mas isso não significava uma ruptura permanente de seu relacionamento com Deus. Desta maneira, os judeus não poderiam em auto piedade reivindicar que haviam sido abandonados pelo Senhor. Na verdade, o Senhor já havia tentado várias vezes obter alguma resposta da Sua noiva: “Por que razão … quando chamei, ninguém respondeu?” (v.2 ARA),  Ele chorou.

Deus continua a justificar a sua capacidade de cuidar de Judá no verso 2. Sua mão não era curta que não os pudesse alcançar. A expressão “mão que não pode alcançar” estava relacionada à falta de recursos financeiros (Lv 5:7; 12:8; 14:21), a incapacidade de alguém de pagar o preço para libertar um escravo. Certamente, o Senhor do universo era totalmente capaz de sustentar sua “esposa”, bem como de pagar o resgate por ela. Ele não havia feito isso antes, quando Ele libertou o seu povo do Egito?

À pergunta no verso 2: “Quando eu chamei, por que ninguém respondeu?” (NVI) surge a resposta: Jesus, o Servo de Deus, seria esse homem, esperando ansiosamente para trabalhar para o Senhor. A cada manhã o Senhor acordava Jesus, despertava o Seu ouvido (v. 4), como discípulo fiel. Foi essa rotina matinal de se tornar cheio do Espírito e submissão diária, aprendendo a levar adiante a missão de Deus no mundo, que preparou Jesus a oferecer suas costas àqueles que O feriam (v. 6; ver Marcos 15:15). Os Evangelhos não registram que a barba de Jesus tenha sido arrancada (v. 6 NVI) em seu julgamento, embora isso possa ter acontecido. Jesus suportou tudo que o diabo pode imaginar trazer contra Ele.

Durante anos eu ministrei uma disciplina universitária sobre a vida de Jesus. Por volta da terceira semana, eu desafiava meus alunos a tentarem esta experiência: durante 10 dias pedirem a Deus que os acordasse todas as manhãs, como havia feito com Jesus, a fim de passarem tempo com Ele. No início, muitos estudantes que estudavam até tarde da noite não acreditavam que seria possível acordar cedo sem um despertador, simplesmente pelo sussurro do Senhor. Para grande surpresa deles, isto acontecia a todos aqueles que sinceramente desejavam passar tempo com Deus pela manhã.

Este era a grande necessidade de Cristo, e é também a nossa. “Muitos, mesmo nas horas de devoção, deixam de receber a bênção da comunhão real com Deus. Estão com demasiada pressa. Com passos precipitados se apressam a atravessar o círculo da amável presença de Cristo, detendo-se somente um momento no recinto sagrado, não esperando por conselho. Não têm tempo de ficar com o Mestre divino. Com seus fardos voltam eles a seus trabalhos. Estes trabalhadores nunca poderão alcançar o maior êxito antes que aprendam o segredo da força. Devem dar a si mesmos tempo para pensar, orar e esperar de Deus a renovação da força física, mental e espiritual. … Não uma parada momentânea em Sua presença, mas um contato pessoal com Cristo, assentando-nos em Sua companhia – tal é a nossa necessidade” (Educação, p 260-261).

Ron E M Clouzet
Seminário da Universidade Andrews, EUA