Quantas vezes o fim de uma relação gera um sentimento devastador,
como se não houvesse mais chão nem referências! Seja o fim de um
casamento, a perda de um ente querido, um amigo próximo que vai embora, o
fato é que acontece com frequência.
Entendo que seja difícil e o sentimento de vazio, o sofrimento, o
luto são inevitáveis na maioria dos casos. No entanto, permanecer no
buraco eternamente é uma escolha, uma concessão de quem sofre. Há
pessoas que se agarram ao vazio da perda como se esse vazio pudesse
substituir quem foi embora. É quase como um tipo de lealdade às avessas
que faz o sofredor se sentir culpado por deixar de sofrer, apegando-se
ao objeto do sofrimento como se dependesse disso.
Esse não percebe que sofrimento também nos revela, afinal, escancara
aonde estão os vazios, os medos, as zonas de conforto que precisam serem
encaradas. Encarar-se é uma escolha, iluminar os cantos sombrios da alma
com a luz da consciência também é uma escolha que depende unicamente de
cada individuo.
Se estiver sofrendo, cumpra seu tempo de luto em paz. Só não esqueça
que ele tem tempo para terminar e, se você quiser, sairá melhor do que
entrou. Desapegue-se da sua dor para que ela não apodreça e te estrague
junto. É preciso caminhar e recuperar a felicidade no caminho, nos
presentes e compensações que a vida dá, na coragem de recomeçar, de ser
de novo.
Flavio Siqueira
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