O ser humano levado pela imaturidade que lhe faz companhia desde tempos imemoriais,
acostumou-se a tudo querer sob a ótica do imediatismo, ao sabor da sua vontade,
sem paciência para esperar que as coisas aconteçam no momento adequado, sem observar
que a natureza não dá saltos, e que tudo está preestabelecido pelas sábias Leis
que regulam o universo.
De certa forma essa atitude do homem, pode ser explicada não só pela sua imaturidade,
como também pela ausência de amor em seu estado presente, o que não lhe faculta
uma melhor visão da vida em seus múltiplos aspectos, pois é o amor que ilumina e
harmoniza a criatura, é a alma da felicidade que preenche todos os vazios
e aspirações do ser humano.
As pessoas carentes e perturbadas pela febre das posses externas acreditam que
a felicidade reside na sucessão das glórias que o poder faculta e nos recursos que
amealha. Ledo equívoco, por que o tormento da posse aflige e impulsiona a sua vítima
a metas cada vez mais desmedidas, tornando sua existência numa busca desenfreada
para possuir cada vez mais, não refletindo que a felicidade independe do que se
tem momentaneamente, mas sim daquilo que se é, estruturalmente constituído pelo
amor, sem necessidades de gestos grandiosos, manifestando-se nos pequeninos
acontecimentos e situações naquele que o abriga.
Esta compreensão que o amor propicia conduz à solidariedade nos momentos difíceis,
nas grandes dores, na solidão, na amargura que periodicamente aflige todas as criaturas,
e que enquanto a pessoa não experimenta o suave envolvimento do amor, vive movimentando-se
nas heranças dos desejos, nas teias dos instintos, sofrendo sempre quando os seus
interesses não se encontram atendidos e suas aspirações não são correspondidas.
Preciso se faz ao homem entender que nos localizamos no contexto universal, e
nossa tarefa essencial é a de auto-iluminação, que logo se desdobra
em serviço a favor do progresso próprio e do seu semelhante, mediante a consideração
pela ordem, não a violando, nem a submetendo aos caprichos e desejos que lhe predominam
no mundo íntimo.
Alimentada pela seiva nutriente do amor, desenvolve-se no indivíduo os demais
sentimentos da compaixão e da ternura, da caridade e do perdão, que são as partituras
que mantêm as belas, suaves e harmoniosas melodias da vida.
Quanto mais se ama, mais nos inundamos de bênçãos alcançando as demais criaturas
e envolvendo tudo a nossa volta, tornando-nos mais sadios, alegres, otimistas, sem
preocupação doentia de possuir nada além do necessário para o nosso conforto e manutenção,
entendendo definitivamente que os bens materiais não são capazes de nos fornecerem
felicidade por mais que os tenhamos em abundância.
José Francisco Costa Rebouças
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