Não há ideologias perfeitas. Podem ser lindas no papel, mas, na
prática haverá contradição entre o real e o ideal. A história está
recheada de exemplos assim, lindos começos, tristes finais.
Nenhum sistema, seja político, social, educacional, religioso é a
prova de falhas. Muito pelo contrário, quanto mais de perto enxergamos,
mais difícil acreditarmos naquilo. A gente ouve os discursos, conhece as
propostas e até compartilha dos mesmos ideais, mas, aproxime-se e
enxergará que nem tudo é como aparenta ser.
Não é preciso ir longe. Veja no relacionamento humano. Famílias,
casais, amigos, olhe mais perto, conviva por algum tempo e perceberá que
nem sempre a aparência de estabilidade corresponde ao que acontece no
íntimo. Verá gente tentando encontrar o que sobrou do que um dia foi
lindo, mas parece que hoje simplesmente dissolveu.
O fato é que nenhuma ideologia, nenhum sistema, nenhum relacionamento
sobreviverá com saúde sem a consciência de que não há ideologias, nem
sistemas, nem relacionamentos: há humanos. Todos nos refletem, o tempo
todo reproduzindo aquilo que somos.
Damos nome, chamamos de “ismos”, construímos prédios, criamos
teorias, formamos identidades, fazemos planos pensando que estamos
tratando com algo maior, mas é sempre gente. Sempre.
Gente é a causa do colapso dos sistemas. Gente é a esperança que os sistemas sejam menos mecânicos e mais humanos. Sempre gente.
Jamais resolveremos nossos problemas enquanto não olharmos pelo lado
correto e, ao invés de pensarmos que trocando um por outro, uma velha
teoria por outra nova tudo resolverá. Não é e nunca foi assim.
Que as instituições sejam apenas ferramentas. A política um meio, as
ideologias nada a mais do que um jeito de organizar pensamentos, que os
grupos humanos não sejam divididos entre “melhores” e “piores”, mas que,
em tudo, predomine a consciência de que sempre estamos tratando de
gente.
Seja na condução de um governo ou no relacionamento a dois,
recuperemos esse olhar, conscientes que, enquanto não pararmos para nos
enxergar individualmente, a coletividade projetará as sombras que me
habitam e carregará a “culpa” da desarmonia que sou.
Não são os sistemas, não é o governo, nem a política, nem a religião,
nem a sociedade, nem sua família, é você. Cure-se primeiro e depois
tudo refletirá.
Flavio Siqueira
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