Enquanto busco o poder, não percebo que, na mesma medida que me deixo seduzir por ele, sou o primeiro a ser controlado, desviado de qualquer perspectiva de realmente enxergar os significados dos contextos a minha volta, simplesmente porque agora, tudo o que vejo, são as possibilidades de aumentar meu vício, de aparentar maior, de arregimentar mais gente, seduzir, direcionar, controlar, me apossar das vontades, escolhas e caminhos alheios.
Aquilo que aprendemos chamar de poder é uma droga. Vicia, corrompe e mata. Esse terá enorme dificuldades em perceber que poder, mesmo, de verdade, é a capacidade de caminhar entre os ruídos, enxergar as construções de manipulação, vencer os apelos de sedução e, sobre tudo, projetar a luz da consciência que cresce para o lado de dentro. É transcender e não se deixar apreender, seja pela adesão, seja pela crítica ideológica, sindicalista, amargurada, invejosa muitas vezes. É poder enxergar com clareza, sabendo que o verdadeiro poder se aperfeiçoa na minha contradição, na minha fraqueza, na minha humanidade.
Quem assim enxerga, transcende, ilumina e projeta sobre toda tentativa de controle a luz que antes nasceu na interioridade de quem resolveu se enxergar, revisar suas motivações e reconheceu-se, portanto, não tem mais nenhuma capacidade de acreditar que o verdadeiro poder seja qualquer coisa que vá além da própria capacidade de amar e ser farol onde impera um denso nevoeiro.
Flavio Siqueira
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