Quem entre nós detém a verdade? Quem é o homem ou mulher que entendeu absolutamente tudo, que tem todas as respostas, que não vê contradições, não se inquieta com suas próprias questões, seus medos, suas dúvidas, ainda que sejam mínimas?
Quem disser que está acima disso, ou mente, ou é ingênuo. De um jeito ou de outro estamos todos buscando.
Diante do que somos, a forma como nos rotulamos não faz a menor diferença. Somos o que somos e nossas escolhas sempre refletirão a realidade. É isso que vale.
Esse mundo está lotado de ideias, filosofias, regras a serem seguidas, discursos absolutos, cartilhas, leis, mandamentos, donos da verdade nas igrejas, nas Tvs, no rádio, nas universidades, na política, nas esquinas da vida.
Há sempre alguém defendendo uma ideia que tem cara de definitiva, uma “tese irrefutável”, há fundamentalistas e pacifistas, religiosos, humanistas, esotéricos, místicos, capitalistas, comunistas, intelectuais, ideologias em excesso, construções em demasia, desentendimentos que levam ao mesmo lugar, à confusão, à intolerância, ao desamor.
É assim que permitimos nos condicionar: por medo. Fingimos ser o que nem nós mesmos acreditamos, tudo por medo.
A razão pela qual precisamos desses rótulos está ligada ao fato de não crermos em nada que vá além da superfície, dos discursos, das formas, das fórmulas, das palavras, do que nos dê alguma sensação de segurança. Quem admite perder o controle e dar um salto no escuro em busca da verdade?
Não ande com medo de punições. Não seja por medo. Se é para temer alguma coisa, tema o cinismo de quem finge que vê, mas é cego, a amargura de quem se resignou na própria loucura e não permite que os outros enxerguem, que se agarra à alguma teoria somente por temer ser punido. Não tenha medo, mas tenha fé.
Ter fé não é ser um devoto religioso, mas, sobretudo, é caminhar em gratidão, perplexo muitas vezes, perdido tantas outras, sabendo que a verdade e a liberdade devem se conjugar, que todo aquele que procura em verdade, pacificado, encontrará.
Flavio Siqueira
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