segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Aonde cabe o universo



O macro reflete no micro. Cada humano é maquete do universo, cada fio de cabelo abriga todo o DNA de uma pessoa, cada expressão de vida nos remete para algo maior, que nos transcende, que nos lembra que só podemos compreender parte do que chamamos de absoluto exatamente olhando para o relativo.
Deus jamais será compreendido pela “grandiosidade”. É por isso que as religiões brigam, para saber quem tem o deus maior. Percebemos Deus justamente pela relatividade, até aonde podemos ver: no outro. Deus gente, na gente, no corpo do mendigo, da faxineira, do deputado, do presidiário, do empresário, no meu e no seu.
Amor, cantado em verso e prosa é lindo, mas permanecerá teoria açucarada. Se eu tentar dissecar os significados de amor pela via da intelectualidade, serei apenas um intelectual frustrado. Amor é a aceitação da contradição, admissão da relatividade que, apesar dos pesares, ama e consequentemente se projeta no caminho de quem responde as demandas do cotidiano em amor.
Quem pode explicar o movimento do universo, dos multiversos, da existência de bilhões de estrelas, galáxias que sequer imaginamos, uma infinidade no espaço que estranhamente se projeta em cada humano, expressão de vida, maquete do universo que sente, vive, ama? Não haverá teoria satisfatória ou nenhuma explicação que faça sentido se não puder conectá-la à minha experiência pessoal de ser parte de tudo isso. Eu em tudo, tudo em mim.
É sobre isso que falo. Só poderemos compreender no dia em que a compreensão não for restrita à intelectualidade. Sabedoria é poder conectar o que vejo com minhas experiências, com o tempo, com a vida, com processos diários, cotidianos, aparentemente insignificantes e no entanto tão carregados de mistérios, profundidade no simples, nos processos do dia a dia.
É preciso aquietar-se para ver. Continuar o caminho com paciência dando tempo ao tempo, permitindo que tudo o que tem assimilado intelectualmente encontre acolhimento na alma e, então, finalmente, seja absorvido pelo mistério e se transforme em verdade interior.
O macro reflete no micro, absoluto que usa a linguagem do relativo, se expressa na gente, em gente que cai, levanta e continua caminhando. Sigamos e não deixemos de ver. Somos parte disso tudo e o universo inteiro cabe na gente e em nenhum outro lugar.

Flavio Siqueira

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