Todos temos habilidades e todas as habilidades são
igualmente belas e importantes. É como o corpo humano, a natureza, cada órgão,
cada animal, cada árvore, cada um cumprindo seu papel.
Outro dia li em algum lugar que, se as abelhas
fossem extintas (e elas estão desaparecendo aos poucos) sofreríamos um grande
colapso, não haveria polinização, sem plantas, sem animais, incluindo os
humanos. O problema é que não enxergamos mais a vida sob a perspectiva dos
significados, mas através dos
olhos reguladores do tal “mercado”. Dá dinheiro? É bom. Não dá? Vai trabalhar
vagabundo! – É como a maioria age.
E o talento natural? E a habilidade para fazer
coisas belas? E a possibilidade para estender o que é naquilo que faz, seja o
que for, colocando-se no ofício, sendo útil no que sabe fazer? Os espaços
diminuem, gente sensível vai trabalhar na fábrica, músicos excepcionais viram
vendedores de seguro, poetas cumprem turno nos bancos, artistas advogam,
escritores assumem gerência administrativa, talentos sufocados pela imposição
de um estilo de vida cruel que enquadra as pessoas em “quanto” são capazes de
produzir e ganhar.
O que fazer? Não tenho fórmulas mágicas. Sei como
são as coisas e reconheço que haverá conflitos permanentes para quem resiste
adequar-se. Na verdade, ou você se adéqua, coloca sua gravata, seu crachá, sua
pastinha embaixo do braço e sai à luta, se entrega ao trabalho, faz o que puder
para “chegar lá”, ou repensa a si mesmo, questiona-se se é isso que quer e arca
com as consequências. De um jeito ou outro haverá consequências, portanto é uma
escolha.
Dá para conciliar? Sempre dá. Mas a medida é de
cada um, não há regras. Sou um dos que tenta, que às vezes cansa, que vive se
equilibrando, caindo, levantando, repensando, ajustando, para conciliar
necessidades com habilidades, vida profissional com vocação, pragmatismos e
utopias. Escolhi ser o financiador do que faço, ainda que seja bastante
difícil. É uma escolha.
Acho que precisamos manter isso em mente: Que tipo
de vida escolho ter? O que sei fazer? O que quero fazer? E caminhar conforme
decidiu. Não dá para pautar-se apenas pelas imposições do mercado e os apelos
do consumo, assim como não dá para viver desconsiderando que nossa sociedade
gira em torno do dinheiro, que é preciso sustentar-se, mesmo que a escolha seja
por um estilo de vida mais simples.
Apenas não sufoque o que é. Mantenha um espaço de
arejamento, deixe que uma fresta permaneça aberta, mesmo que seja mínima.
Jamais sufoque suas habilidades. Pode ser que novas perspectivas sejam abertas,
é possível que caminhos não imaginários hoje se desenrolem com naturalidade,
quem sabe?
É preciso caminhar atento, fiel ao que é,
consciente de até que ponto concessões serão necessárias, mas não permitindo
jamais perder-se no meio da multidão de necessidades. É um fio de navalha,
escolhas diárias que cabem a cada um de nós.
Flavio Siqueira
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