Enquanto digito em frente ao computador, enquanto tento me manter sensível para que as palavras sejam simples condutoras, decodificadoras que expressam o que as transcende; enquanto você lê, celular na mão, monitor na frente, não importa, o fato é que nesse momento iniciamos uma conexão.
O que eu faço aqui não se limita a uma combinação de letras, 26 letrinhas organizadas para fazer sentido, mas a tentativa de que as palavras sejam pontes sobre labirintos, flashes de luz indicando uma direção à seguir. Palavras tem energia. Não apenas a forma como são distribuídas, mas, entre elas, há uma comunicação subliminar, sutil, silenciosa, irradiando nas entrelinhas o que nem sempre está expresso no texto.
Palavras também podem ser afiadas. Podem furar camadas de cegueira, de escuridão, de confusão de alma, de mente, de sentimentos que nos tornam confusos, que nos rouba a capacidade de, em simplicidade, ver, sentir, compreender a verdade que se expressa em fragmentos, inclusive nas palavras.
Palavras mal usadas podem distorcer percepções, entupir, intoxicar, criar desvios de compreensão consideráveis, nos tornar mais distantes de nós mesmos.
Escrevo consciente que nem todos entenderão.
Muitos podem até gostar, curtir, comentar, achar bonito, mas isso não significa que realmente entenderam o que as palavras se propuseram a carregar e há uma razão para isso:
Palavras são apenas ferramentas e, em suas limitações, podem refletir a imensidão do universo, a profundidade dos mistérios, a beleza do amor, da vida, das conexões, da sabedoria, mas, sua missão só será cumprida se quem ler estiver sensível o suficiente para decodificá-las, transcende-las e projetar nas entrelinhas, em paz, com simplicidade, a verdade que lhe habita. Palavras não são a verdade mas podem expressá-la a partir de quem lê.
Nesse mundo em que vivemos, tudo fala. Há palavras em cada som, cada cor, cada reflexo de luz, cada bater de asas de pássaros, cada nascimento, cada morte, cada sorriso, cada animal, cada homem, cada mulher, cada reencontro, cada perda, cada choro, cada árvore, cada rosto, cada toque, cada movimento da vida que nos diz “ouça”, que nos ensina “aquiete-se”, que nos consola com a esperança de que nada acontece sem a possibilidade de ser preenchido de significado, de consolo, de aprendizado, de paz.
Eu escrevo, sou um mensageiro, um organizador de palavras. Tudo o que faço é na esperança de que as palavras me transcendam e, sobretudo, para que quem estiver lendo entenda que palavras, letras, são apenas códigos. Apenas códigos.
Há um universo de comunicações ininterruptas, sutis, presente no seu caminho. Preste atenção e deixe que as palavras sejam portas que abrem e convidam a entrar na dimensão do entendimento, da consciência, da condição de quem entendeu que as maiores verdades do universo, o que realmente importa, não cabe em palavras, nem em livros, nem em dissertações inteiras, nem em teoria alguma, por isso prescinde e transcende explicações. É e pronto.
Comunica-se em silêncio, em simplicidade, em aceitação de quem se é, em abertura de mente, de alma, da consciência de que somos aprendizes, privilegiados aprendizes, vivendo hoje todas as oportunidades para aprender a ouvir, sentir, entender e amar.
Silênico. Aquiete-se. Esvazie-se. Tranquilize-se. Desintoxique-se. Calma.
Palavras que entram, palavras que limpam, palavras que são apenas palavras, mas, se você deixar, se conectarão com a sua verdade e irão além, muito além dos limites do escritor. O destino é a dimensão onde as palavras tornam-se completamente desnecessárias e o silêncio, eloquente, nos diz tudo o que precisamos saber.
Flavio Siqueira
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