Por mais que nos esforcemos, existem conceitos que não cabem em palavras. Posso falar sobre o amor, ainda que as letrinhas não reproduzam o significado real do que de fato é amor. Se acreditar que “amor” se limita a poesia, a musica, ao abraço, ao beijo, ao carinho ou qualquer tipo de demonstração espontânea, reduzirei a experiência aos sentidos e deixarei de desfrutá-la em plenitude.
Vida é uma dessas palavras. Você pode me explicar o que significa isso? O dicionário diz que vida é “O período de tempo que decorre desde o nascimento até à morte dos seres”. Não me parece suficiente.
Sinto que vida é uma “substância” única, uma especie de consciência absolutamente abrangente que não posso explicar. Não se encaixa nos limites do tempo e espaço, não permite ser moldada por conceitos ou definições, transcende qualquer tipo de explicação e jamais pode ser definida. Vida é e pronto.
Ela se expressa com linguagem própria e permite fragmentar-se em consciências que ganham percepção individual. Por alguma razão, fragmentando-se em corpos, a tal “substância” que chamamos vida reflete no que chamamos de mundo físico, aquilo que está além de nossa compreensão.
Pensando assim, cada humano é uma forma de expressão da vida. Mais do que isso: cada ser vivo reproduz na própria existência a manifestação do que não se apreende pela mente, nem se explica com palavras, mas está em tudo o que é.
Somos todos parte de uma coisa só, notas de uma única sinfonia que não para de tocar. Seus gaves e agudos se estendem até o infinito, preenchem corpos, movimentam animais, abastecem a natureza e não deixam de falar pela terra, pelo ar, pelos rios e mares, por cada átomo, em cada expressão de vida que sequer conhecemos.
Quanto mais abertos nos tornamos para essa incrível sinfonia, mais conscientes de quem somos. Somos notas de uma incessante sinfonia que experimentam o significado de viver na linha do tempo, desenvolvendo a percepção de uma consciência individual que aumenta na mesma proporção que se conecta a cada expressão de vida.
Não há melhor maneira de definir “vida” do que ouvindo seus recados, lendo suas palavras, percebendo seus movimentos, primeiro em si mesmo, depois no próximo.
É por isso que as sardinhas são mestres. Os macacos importantes professores, assim como os bichos do alface, as crianças, os idosos, os seres simples que ainda mantém a essência do que são e não permitiram intoxicar-se com a presunção do ego.
Cada nota que enxerga, reproduz com maestria a canção que lhe cabe. Parte de uma sinfonia incessante onde todos tocam, todos falam, todos são. Até que um dia possamos ouvir a música por completo.
Flavio Siqueira
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