Jó critica Bildade
1 Então Jó em resposta disse:
2 “Bildade, eu estou fraco, sem forças; como você me ajuda e me consola!…
3 Como você é bom para dar conselhos e gastar a sua sabedoria com um ignorante como eu!
4 Quem foi que o ajudou a dizer essas palavras? Quem o inspirou a falar assim?”
Continuação da terceira fala de Bildade
A grandeza do poder de Deus
5 “Os mortos tremem de medo nas águas debaixo da terra.
6 Para Deus o mundo dos mortos é aberto; não há cobertura que o impeça de ver o que lá acontece.
7 Deus estendeu o céu sobre o vazio e suspendeu a terra por cima do nada.
8 Ele prende a água nas nuvens, e elas não se rasgam com o seu peso.
9 Ele cobre a cara da lua cheia, estendendo sobre ela uma nuvem.
10 Deus separou a luz da escuridão por meio de um círculo desenhado no mar.
11 Quando ele ameaça as colunas que sustentam o céu, elas se assustam e tremem de medo.
12 Com o seu poder, Deus dominou o Mar; com a sua inteligência, derrotou o monstro Raabe.
13 Com o seu sopro, Deus limpou o céu e, com a sua mão, matou a Serpente fugitiva.
14 Mas essas coisas são apenas uma amostra, um eco bem fraco do que Deus é capaz de fazer.
Quem pode compreender a verdadeira grandeza do seu poder?”
Comentário:
O discurso de Jó nestes capítulos encerra o último dos três ciclos. Lembremo-nos que Bildade falou muitas verdades a respeito de Deus no capítulo 25, ou seja; Seu poder e autoridade, e também sobre a impureza e brevidade do homem. Mas, vimos que ele não demonstrou nenhuma simpatia para com Jó, nem esperança de justificação alguma para ninguém.
Henry observa: “Tudo o que bom e verdadeiro nem sempre é adequado e apropriado. Para alguém que se encontrava humilhado, abatido e angustiado de espírito, como Jó, ele (Bildade) deveria ter pregado a respeito da graça e da misericórdia de Deus, ao invés da Sua grandeza e majestade, para que colocasse diante de Jó as consolações, ao invés do terror do Todo-Poderoso. Cristo sabe como falar de maneira apropriada ao cansado (Isaías 50: 4), e os seus ministros deveriam manejar bem a palavra da verdade, e não entristecer aqueles a quem Deus não entristeceu, como fez Bildade.”
Bem que Jó poderia ter respondido com sarcasmo, como o fez no começo da sua resposta!
I. Jó ironiza de Bildade, v. 2-4.
“Muitíssimo obrigado, Bildade! Você realmente me ajudou, me confortou e me livrou. Você acaba de resolver todos os problemas!”
Na realidade, “Você não me ajudou em nada, nem me trouxe conforto e nem fez alguma contribuição positiva para toda essa discussão!” (v. 2-3)
É impressionante como um homem que estava tão doente e ferido quanto Jó, ainda estivesse em pleno uso de suas faculdades, utilizando-se do artifício do sarcasmo e da ironia. Deus é quem o sustentava.
V. 4a “Você pensou que estivesse ensinando alguém totalmente ignorante.”
V. 4b A cutucada mais profunda de todas: Implicava em que Deus não o havia enviado para dizer tudo aquilo, mas algum outro espírito (ex: o dele mesmo ou um espírito mau!). Será que Jó começara a ter a perspectiva do envolvimento de Satanás?
Como isso deve ter esvaziado a Bildade! O orgulho intelectual murchou.
Deus sabe como nos humilhar. O orgulho deve ser reprimido! (Será que Bildade estava demonstrando seu conhecimento de Deus para receber louvor e reconhecimento dos homens? Vamos ser cuidadosos! Deus pode nos humilhar também.)
II. Os poderosos feitos de Deus, v. 5-13.
Uma das passagens mais extraordinárias de toda a Bíblia a respeito das grandes obras de Deus, em toda natureza e na humanidade. É difícil saber exatamente o que Jó tinha em mente em algumas frases (ou saber se Jó possuía um conhecimento científico preciso daquilo que estava dizendo!), mas o panorama geral é claro: “Bildade, você não falou nada daquilo que eu já não soubesse. Todavia, deixe-me adicionar mais algumas coisas àquilo que você falou a respeito da majestade de Deus!” (Similar ao que Jó fez no capítulo 12-13, superando a sabedoria de Zofar.) Note: Jó somente fez isso quando provocado e forçado, a fim de humilhar o intelecto orgulhoso. Barnes aponta para a superioridade da sabedoria de Jó sobre Bildade assim: Bildade via a supremacia de Deus sobre todo o céu, enquanto Jó diz que Sua supremacia atinge os mortos, aqueles que estão debaixo da terra. Jó começa com a parte mais baixa, subindo até as estrelas.
V. 5 Talvez uma referência as almas dos que morreram no dilúvio.
V. 6 Deus vê o sheol (partes mais baixas da terra, para onde vão os espíritos dos homens). O abadom não está oculto aos olhos de Deus, Seu domínio estende-se às partes mais baixas do inferno (Apoc. 14: 10. Como Jonathan Edwards pregou: Tanto o justo quanto o injusto passarão a eternidade na imediata presença de Deus, pois Ele será o céu para um, e o inferno para o outro.
V. 7 O vazio = sem forma e vazia como em Gênesis 1: 2. Deus cobre o céu como uma cortina, o estende como uma tenda para habitar nele (Isaías 40: 22, Salmo 104: 2). (Henry Morris vê aqui uma grande base científica com relação ao eixo da terra.)
Suspende a terra sobre o nada. Globo terrestre suspenso no ar.
Henry: “A arte do homem não é capaz de sustentar uma pena sobre o nada, entretanto, a sabedoria divina sustenta toda a terra desta maneira.” Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hebreus 1: 3).
V. 8 Ciclo hidrológico. Como se Deus armazenasse a umidade e depois a despejasse gota por gota (ao invés de um “aguaceiro”). O homem não pode produzir chuva a partir disso!
V. 9 Como se a atmosfera e as nuvens ocultassem a Deus (que é invisível, é claro).
V. 10 Ele circunda, cerca as águas. Evidentemente se refere ao concerto que Deus fez com a terra após o dilúvio, Gênesis 8: 21, 9: 15.
V. 11 As colunas pode ser uma referência a altura das montanhas, que tremem quando troveja.
V. 12 Controle sobre as grandes extensões de água que amedrontam os homens. Criação ou dilúvio? A soberba pode ser uma referência a algum lendário monstro marinho ou um grande dinossauro.
V. 13 Agora num nível que os homens podem observar: o céu enfeitado de estrelas. A serpente enroscadiça pode ser uma referência a alguma constelação. (Barnes argumenta que seria a constelação do dragão, a que Virgil se refere.)
III. O ponto de todo este discurso, v. 14.
Contemple a grandeza, glória e majestade de Deus!...Mas, isto é apenas a ponta do iceberg! “Apenas comecei a falar um pouquinho! Estou apenas dando a você aquilo que representa um sussurro de Deus, imagine o que seria o Seu trovejar?!”
Há mais a respeito de Deus do que podemos conceber. Não podemos nos aprofundar em Seu ilimitado poder e sabedoria. Eis que Deus é grande, e nós não o compreendemos (Jó 36: 26). Durhan: Deus não pode ser estudado corretamente até que seja considerado incompreensível.
Henry: “desespero para encontrar o fundo, nós devemos nos sentar a beira e adorar o profundo. Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! (Romanos 8: 33). No presente estado em que nos encontramos, temos ouvido e conhecido somente uma pequena parte de Deus. Ele é infinito e incompreensível, e nosso entendimento e capacidades são fracos e rasos. O conhecimento completo da glória divina está reservado a um estado futuro.”
Devemos reconhecer a nossa ignorância. Wm. Cunningham (on eternal sunship): “De um lado, devemos tomar cuidado para que a nossa sabedoria não esteja acima das escrituras, mas, por outro lado, devemos nos guardar de não colocar de lado, ou ignorar qualquer coisa que realmente tenha sido revelado sobre este ponto.” Vá até onde a revelação vai, mas não a ultrapasse.
Há muitas coisas a respeito de Deus, Seus propósitos e métodos que não entendemos. (É certo que Jó conhecia a Deus melhor do que Bildade e, portanto, era mais humilde diante de Deus. O conhecimento de Deus fez de você uma pessoa mais humilde? Você imagina que por ser um calvinista não tem mais nada a aprender? Aqueles que melhor conhecem a Deus, são aqueles que sabem que tem muito mais para aprender.)
Jó relembra: “Eu ainda não consigo entender o que Deus está fazendo comigo! Tenho estado debaixo dos Seus trovões e não O entendo!”
O valor da criação: Mostrar a nossa pequenez. Deixar-nos pasmados diante do grande Criador – Seu poder, sabedoria, majestade e bondade. Nossa dependência, fragilidade e fraqueza. Portanto, submeta-se a Deus em tudo!
Daniel A. Chamberlin
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