"A aceitação tem a ver com o modo como a pessoa foi criada. Se desde pequena alcançava tudo o que queria, sem passar por grandes frustrações e sem acatar os ‘nãos’ necessários, a pessoa cresce esperando que o mundo lhe diga ‘sim’. E fica muito desapontada caso ocorra o contrário", salienta a psicóloga Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Quando os pais não impõem limites, o menor cresce com uma percepção distorcida dele mesmo e dos outros. Estará sempre preocupado com seus interesses e suas vontades, sem enxergar o quanto isso afeta o entorno. A tendência será se relacionar com indivíduos que se submetam à sua personalidade, assim como os educadores o fizeram.
"E, nos relacionamentos, terá dificuldades pela incapacidade de sentir empatia, isto é, de se colocar no lugar do outro e alcançar qual o seu papel e as fronteiras relevantes em uma relação", acrescenta a psicóloga Miriam Barros, especialista em terapia familiar, psicodrama e coaching. Em outras palavras, é grande a influência de pais permissivos e protetores que deram tudo facilmente para a criança, não colocando os limites necessários em muitas ocasiões.
Sinal de imaturidade
O oposto também é verdadeiro, embora mais raro: aqueles que receberam muitas negativas na infância podem crescer querendo experimentar somente o "sim", pois o balançar de cabeça de um lado para o outro traz lembranças ruins do passado. É o caso de progenitores que tolheram demais os filhos em situações em que não seria imperativo agir com tanto rigor.
Nesse sentido, saber ouvir "não" seria, então, um sinal de crescimento. Revela, por exemplo, que temos consciência de que há conquistas difíceis ou impossíveis, sendo obrigatório ter paciência em muitos momentos da vida. E, mais que tudo, o quanto é imprescindível lidar e suportar as frustrações.
"A pessoa mostra que criou dentro de si a faculdade de lidar com as contrariedades e, dessa forma, ganha mecanismos internos para resolver conflitos que o cotidiano apresente. E tudo isso sem inconformismo ou desespero, sem raivas impróprias, sem brigas desnecessárias. Torna-se um ser humano acessível, tolerante, que sabe negociar, cujo convívio é de certa forma tranquilo", considera Vasconcellos.
Arrogância latente
Quem não desenvolveu tal habilidade tem grandes chances de virar um indivíduo arrogante e autoritário, que quer as coisas do seu jeito, impondo situações aos outros sem se colocar no lugar deles. "De personalidade imatura, será visto pelos demais como alguém egoísta, inflexível, ‘dono do mundo’, sempre difícil de lidar", destaca Miriam Barros. Haverá resistência para obedecer ordens, seguir regras, respeitar o espaço alheio. E tudo isso provavelmente se refletirá em várias áreas da vida: trabalho, amigos e relacionamentos amorosos.
No outro extremo do arrogante, pode estar alguém que duvida da própria capacidade e de seu potencial cada vez que recebe um" não". É como se pensasse ‘se me negam isso, é porque não sou apto, melhor desistir, não sei fazer direito’. "De um jeito ou de outro, existe o despreparo para a frustração e, consequentemente, a imaturidade", diz a terapeuta familiar Marina Vasconcellos.
PARA QUEM NÃO SABE OUVIR "NÃO"
Pare e pense antes de reagir. "A primeira atitude a tomar, para começar a aceitar o não, é mudar a forma de pensar sobre o mundo e as pessoas", diz Miriam Barros
Entenda que nem sempre as coisas serão "do seu jeito". "E que sofrer faz parte da existência e viver dá trabalho", diz a terapeuta
Procure respeitar seus semelhantes quando eles lhe dizem não
Reflita por que as pessoas que convivem com você o chamam de inflexível, orgulhoso e autoritário. "Não seria muito melhor mudar seu comportamento e ganhar adjetivos mais positivos? Qualidades apreciadas por todos?", pergunta Marina Vasconcellos
Repita para si mesmo que o mundo não gira em torno de você. As pessoas não são obrigadas a atendê-lo na hora em que você quer e da maneira que deseja
Por fim, acredite que aceitar as negativas é algo desafiador e estimulante para seu crescimento. "Com certeza, será preponderante para um desenvolvimento pessoal mais consistente", conclui Vasconcellos
Fonte: Ciencias e saúde - Bem estar
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