segunda-feira, 9 de junho de 2014

Flavio, você acredita no mal?

“Flavio, quando você diz que os acontecimentos de fora refletem os de dentro não está desconsiderando a existência do mal como realidade? Considere, no entanto: o mal existe, tragédias acontecem, dores, privações, homicídios, torturas, etc… Esses eventos não deixarão de serem ruins e maus, apenas pela minha mudança de entendimento sobre eles. Eles, inevitavelmente geram marcas e cicatrizes. Você acha mesmo que o mal é uma ilusão?”
- Não me refiro à natureza dos acontecimentos, mas de nossa percepção, inclusive nossa falta de capacidade em definirmos exatamente o que é “bom” e o que é “mau”.
Cito tragédias coletivas como exemplo, especialmente quando um mesmo evento suscita percepções diferentes, desdobramentos que se conectam as diferentes leituras.
No plano imediato inegavelmente foi “mal” (perseguição a judeus, tsunamis, vulcões), mas chamo atenção sobre o quanto nosso olhar pode modificar desdobramentos subsequentes, relativizando a percepção maniqueísta e absoluta. Acredito que é justamente o que me habita que definirá minha “impressão”.
Não estou com isso dizendo que bem e mal não existem, especialmente porque, se posso percebê-los (mesmo quando não está claro) é porque essa dualidade faz parte de minha natureza, no entanto, acho importante enxergarmos o nível de nossa interferência nos processos da vida, especialmente nossa tendência em reagirmos imediatamente sem refletirmos, sem a suficiente percepção do quanto somos responsáveis pelos cenários que de algum modo sempre refletem o que somos.
Obviamente existe a questão da existência e natureza do mal, mas, sinceramente, acredito que antes desse debate é preciso um pouco mais de clareza sobre o “mal” que projeto e o “bem” que faz mal.
Ficar no absoluto sem olhar para isso pode diminuir a capacidade de compreender a natureza dos acontecimentos e repercussões interiores.
Se não podemos evitar as tragédias e tantas vezes somos pegos de surpresa pela imprevisibilidade da vida, podemos sim escolher o que vamos fazer com os acontecimentos, qualquer um, essa escolha é nossa e, acredite, pode mudar mundos inteiros com um simples movimento de consciência.
Não estamos aqui para debater sobre os fundamentos e a natureza do bem e do mal, isso não levará a nenhum lugar produtivo. Bem e mal existem como realidade em mim e se projetam pelo olhar (a lâmpada do corpo):
Se seus olhos forem bons, tudo será bom, no entanto, se o seu interior for “mal”, acredite, o mal se espalhará como chão em cada canto que pisar. Essa escolha é nossa e cabe a cada um revalidá-la em cada etapa do caminho.

Flavio Siqueira

Against All Odds (Take a Look at Me Now)






Parece muito improvável

Como eu posso apenas te deixar ir?
Deixar você ir sem deixar rastro?
Quando eu fico aqui tomando folego com você
Você é a única que realmente me conhecia de verdade
Como eu posso te deixar ir embora pra longe de mim?
Quando tudo que eu posso fazer é ver você partir
Porque nós compartilhamos as risadas e a dor
e até dividimos as lágrimas
Você é a única que realmente me conhecia de verdade
Então, dê uma olhada para mim agora
Porque há apenas um espaço vazio
E não resta nada para me lembrar
Apenas a lembrança do seu rosto
Dê uma olhada em mim agora
Porque há apenas um espaço vazio
E você voltar para mim parece muito improvável
e é isso que eu tenho que encarar
Eu queria poder fazer você se virar
Se virar e me ver chorar
Tem tanta coisa que eu preciso te dizer
Tantas razões por quê
Você é a única que realmente me conhecia de verdade
Então, dê uma olhada para mim agora
Porque há apenas um espaço vazio
E não resta nada para me lembrar
Apenas a lembrança do seu rosto
Dê uma olhada em mim agora
Porque há apenas um espaço vazio
E esperar por você é tudo o que posso fazer
e é isso que tenho que encarar
Dê uma boa olhada pra mim
Eu vou continuar aqui
E você voltar pra mim parece muito improvável
É um risco que eu tenho que correr
Dê uma olhada em mim agora

Soneto do Amor Total



Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade


Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.


Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.


E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Vinícius de Moraes