segunda-feira, 21 de julho de 2014

O que sinto...



Já fui capaz de abrir mão de um grande amor
Por uma mudança, uma transformação...
Por um milagre... 
Amar é isso...
Renunciar se preciso for.
Conscientes de toda dor e preparados para conviver com ela.
Acordar de madrugada e não mais voltar a dormir vira rotina.
Tentar ocupar o vazio, nem sempre funciona, e não é justo.
Acreditar que o tempo cura tudo, também é um grande erro.
Acalmar o coração, escutar a voz interior,  muitas vezes resolve.
O corpo se acostuma com a falta e mesmo que a convivência tenha sido tão pouca, as vezes dói, parece que ele tem vida própria e não obedece o cérebro, ser racional se torna impossível...
Lições de vida são aprendidas neste espaço de tempo... bom quando temos essa visão, esse entendimento...
... para amar assim temos que ser forte.... e de fato, renunciar é morrer para viver...

Rosa Soares

Abrir mão

Abrir mão é um grande aprendizado. Abra mão. Deixe a areia escoar entre os dedos, não tente segurá-la. Permita que o vento leve as plantas sem raiz, como o fluxo do rio carrega detritos, a natureza absorve os corpos e os transforma em outra coisa.
Como o tempo que leva a juventude em troca de sabedoria, as experiências sobrepondo-se, alterando cenários, recolocando-nos em novas perspectivas. É preciso saber abrir mão.
Fazer como o corpo que se refaz enquanto células renovam, a primavera que chama o verão, o verão cede vez ao outono, o outono, amigo do inverno, nada fica, o tempo que vem, o tempo que vai. Nenhum segundo se mantém, fragmento de tempo chamado agora, jamais se fixa; um segundo, depois outro, e outro de novo.
Abrir mão da imagem, do vigor, da reputação, da saúde que o tempo um dia leva. Abrir mão dos que vão, dos dias que não ficam, das memórias que se apagam.
Como o dia que apaga e vem a noite. A noite termina, abre mão do silêncio e vem o sol anunciando que ela se foi, de novo, novo fluxo, novo dia. E o dia escoa entre os dedos, entre os galhos, entre as sombras que a noite engolirá.
Abrir mão é assumir-se impermanente. Rendição à corrente das águas, ao mistério da vida, ao fluxo da graça que destrói e refaz, nos cerca e dá a perspectiva do tempo e de tudo o que ele nos leva, nos traz, nos faz aprender que, para que a vida se renove, é preciso esvaziar-se, morrer para viver. Abrir mão é um grande aprendizado.

Flavio Siqueira