terça-feira, 3 de março de 2015

A nossa vida é curta


1“Todos somos fracos desde o nascimento; a nossa vida é curta e muito agitada.
2 O ser humano é como a flor que se abre e logo murcha; como uma sombra ele passa e desaparece. 3 Nada somos; então por que nos dás atenção? E quem sou eu para que me leves ao tribunal? 4 O ser humano, que é impuro, nunca produz nada que seja puro.
5 Tu já marcaste quantos meses e dias cada um vai viver; isso está resolvido, e ninguém pode mudar. 6 Para de olhar para nós e deixa-nos em paz, até que o nosso dia chegue ao fim, como chega ao fim o dia de um trabalhador.
7“Para uma árvore há esperança; se for cortada, brota de novo e torna a viver.
8 Mesmo que as suas raízes envelheçam, e o seu toco morra na terra, 9 basta um pouco de água, e ela brota, soltando galhos como uma planta nova. 10 Mas, quando alguém morre, está acabado; depois de entregar a alma, para onde vai? 
11“Como lagoas que secam, como rios que deixam de correr, 12 assim, enquanto o céu existir, todos vamos morrer. Vamos dormir o sono da morte, para nunca mais levantar. Eu esperarei por melhores tempos 13 “Ah! Se tu me pusesses no mundo dos mortos e ali me escondesses até que a tua ira passasse e então marcasses um prazo para lembrares de mim!
14 Mas será que alguém tornará a viver depois de ter morrido? Eu, porém, esperarei por melhores tempos, até que as minhas lutas acabem. 
15 Então me chamarás, e eu responderei; e tu ficarás contente comigo, pois me criaste.
16 Cuidarás para que eu não erre, em vez de ficares espiando para me veres pecar.
17 Esquecerás os meus pecados e apagarás os meus erros. Tu acabas com a nossa esperança
18“Mas assim como as montanhas vão se desmoronando, e as rochas saem dos seus lugares; 19 e assim como as águas escavam as pedras, e as correntezas levam a terra, assim tu acabas com a esperança do ser humano. 20 Tu o derrotas, ele se vai para sempre, e mudas a sua aparência quando o despedes deste mundo. 21 Se os seus filhos recebem homenagens, ele não fica sabendo e, se caem na desgraça, ele não tem notícia. 22 Ele sente apenas as dores do seu próprio corpo e a agonia do seu espírito.”


Comentário:

Este capítulo encerra o discurso mais longo feito por Jó. Ele ainda está se dirigindo a Deus. Vemos aqui uma mistura de confiança e queixas. (mais uma vez, algumas passagens permitem mais de uma interpretação, ou atitude da parte de Jó). Desespero em meio a esperança. Rosas entre espinhos.

*Aprenda a excelência da consistência.

V. 1-2 Se lamentando da vida

Ligado com 13: 28, o rápido declínio da vida do homem na terra.

Não há chauvinismo aqui! Apenas realidade, vista de um ponto de vista sem Deus (como várias partes do livro de Eclesiastes). Talvez uma referência á Eva.

Veja o que o pecado produziu: V. 1

v. 1 Brevidade de vida (e morte). A vida nos tempos de Jó era mais curta do que a dos seus predecessores. Duas ilustrações, a flor e a sombra. Ambas logo desaparecem. Porém, isto é uma benção em seu disfarce devido a:

v. 2 Muita inquietação. Dentro e fora. Problemas na alma, no corpo, na família, na vizinhança e no mundo. Suscetível a mudanças – para o pior. Compare com o que Jacó disse em Gênesis 47: 9. Oh, o que o pecado tem feito!

- Nosso estado é temporário, fugaz. Portanto, não pense que é eterno (como faz a maioria dos inconversos). Tenha certeza da vida eterna, vida da alma voltada para Deus. Mantenha a perspectiva correta do tempo/eternidade.

- Nosso estado é de pecado. Portanto, não espere uma vida livre de problemas. Nós passamos por uma crise maior a cada seis mêses! V. 3-6 Humilhado diante de Deus v. 3 v. 4 “Sendo a vida tão curta e cheia de problemas, Tu ainda me privas de uma parte dela? Vais torná-la ainda mais curta e problemática? A vida não é má o suficientemente sem sermos acossados por Deus? Eu sei que não posso me igualar a Ti, ou comparecer num julgamento diante de Ti.” v. 5 v. 6 “Eu não teria chances num julgamento. Sou impuro. Eu sei disso. Eu nunca poderia passar por julgamento mais minucioso da Sua parte.” v. 7 v. 8 -6 “Já que meus dias estão contados por Ti, assim como toda a minha existência, desde o início até o fim, está em Suas mãos, deixe-me apenas sobreviver. Retire a Sua ira de mim, para que eu possa terminar os meus dias em paz...para que cumpra o meu “turno” e faça meu trabalho. (Deixe-me morrer uma vez só, não muitas!)”

Palavras humildes (embora outras emoções também brotaram!).

- Temos que ser humilhados devido ao nosso estado de impureza, v.4. Não nascemos limpos. Começamos num estado de impureza. Pecado original (isto é parte da natureza caída de todo descendente de Adão). Esta verdade deveria humilhar até mesmo aquele que se considera exteriormente mais “limpo”. (Minha própria experiência).

- Deus é soberano sobre o nosso tempo de vida, v.5 (comp. 7: 1). Somente Ele é que tem o direito de tirar nossa vida. Não há motivos para temermos os acidentes, doenças, guerras, etc. (A mídia gosta de nos manter apreensivos e preocupados.) Você é imortal aqui, até que Deus o queira! Compare cap. 2 e as testemunhas de Apoc. 11: 7.

- A oração é consistente com a predestinação, v. 5-6. Deus predestinou os meios e as causas secundárias! – uma das quais é a oração. (E por que orar se Ele não é absolutamente soberano?...melhor se preocupar, manipular, etc.!)

V. 7-12 Contrastes e comparações

Homem é diferente da árvore, v. 7-9. Como é difícil matar uma árvore! Exemplo do nosso próprio jardim aqui. A vida parece impossível de ser parada. Mas (v. 10) fala que o homem é diferente, pois ele morre rápido e facilmente. Ele evapora, declína, expira e se vai! Não brota novamente.

O homem é como as muitas águas, v. 11-12, que seca, desaparece e não retorna (Saber exatamente a que Jó se refere é um mistério. Talvez algum dos efeitos causados após um dilúvio, quando as águas se secam.) Assim é o homem: ele cai para não levantar nunca mais, ou despertar, até que os céus (usado para medir o tempo) não mais existam.

Porque isto é verdade...

V. 13-15 Espere pela morte

“Deixe-me me esconder, escapar dos problemas, na morte. O pecado arruinou e domina esta vida, embora a morte seja terrível, ela não poderia ser pior do que a vida que estou vivendo agora.”

Note como Jó se sente seguro com relação a morte. ocultasses....lembrasses.

v. 14a tremenda questão! Resposta: Não, não neste mundo (comp. Salmo 115: 17, 146: 4, etc.) Mas, sim no mundo vindouro (que Jó irá declarar mais tarde no cap. 19). Talvez alguma falta de informação sobre o “estado intermediário”?

v. 14b-15 Qual mudança? Aquela no final dos dias determinados (compare v.5), ex: a morte. (Mas alguns veêm aqui uma referência a ressurreição.) Jó está contente em esperar pelo tempo em que Deus o chame através da morte. “Estou pronto, a qualquer hora que Tu queiras!

Eu tenho demonstrado a minha ânsia pela morte, mas (em momentos de maior sanidade) reconheço a Sua soberania sobre a extensão da minha vida, portanto, eu espero.

Note a confiança de Jó de que ele é fruto do trabalho e do desejo de Deus (almejarias).

- Que conforto saber que somos o cumprimento do desejo de Deus. Assim como Jó, busquemos conforto nesta verdade. Aqui vemos Jó (como Davi) encorajando a sí mesmo no Senhor, seu Deus. Aqui temos a rosa entre espinhos neste capítulo.

(Jó é o seu próprio confortador, na ausência de amigos que o façam.)

- Almas agraciadas podem responder alegremente ao chamado da morte.” (Henry)

- Na sepultura, não há mais o efeito do pecado e nem da maldição de Deus sobre ele, até onde isto se relacione a alma do remido. Simplesmente entrar na sepultura, e tudo ficará bem! A batalha e a luta acontecem agora, somente nesta vida. Morra bem, pois tudo ficará bem.

V. 16-22 A Severidade de Deus

Mas agora! (rápida alteração de tom – assim como fazemos algumas vezes em nossas próprias orações!)

v. 16a “Tu me vigias de perto em cada movimento, motivo.”

v. 16b “Eu sei que Tu vês cada um dos meus pecados e falhas.

v. 17 O costume de costurar a bolsa de dinheiro a fim de proteger seu conteúdo, e também documentos importantes, como uma intimação judicial, processo. Henry faz as seguintes observações nestes dois versículos: “Deus realmente vê todos os nossos pecados, Ele enxerga o pecado do seu próprio povo, mas não é severo em contá-los um a um para nós, nem a lei está se esticando para nos alcançar, pois somos punidos muito aquém do que merecemos. Deus sela e amontoa, para o dia da manifestação da Sua ira, a transgreção do impenitente, mas os pecados do Seu povo, Ele desfaz como uma nuvem.”

v. 18 O que sou eu comparado a uma imensa montanha ou a rocha que Tu moves? Sou mutável, inconstante, frágil, a Sua disposição.”

v. 19 “Como a água com o tempo desgata a pedra e varre o solo, assim as tribulações, que se estendem por tão longo período, estão varrendo a minha vida. Minha esperança acabou com relação a esta vida.”

- As esperanças materiais do homem, sonhos, aspirações e ambições, são todas frustradas por Deus. Ele “destrói nossos planos e alegrias terrenas”, a fim de encontrarmos nosso tudo, nEle! (Newton) Ele nos faz esse favor!!

v. 20 “Tu retiras o homem da terra. Mostra-lhe a face da morte.”

v. 21 “Tu privas o homem de saber o que acontece aqui na terra após a sua morte.”

v. 22 “Até a morte, o corpo e a alma sofrerá dor e tristeza aqui.” Compare v. 1. Muita verdade, é claro. * Mas esteja certo de declarar isso de forma doce, não amarga.

Observe:

1. Nossa vida é, em ultima estância, medida pelos dias (v. 1, 5). Como nos obituários. Viva para Deus no presente. Não presuma do dia de amanhã com idéias românticas. Não deixe a obediência para o dia seguinte. (obediência vagarosa não é obediência.)

2. Deus conhece nossa estrutura!...nossa fragilidade. Salmo 103: 13-18. Ele é misericordioso. Cristo se simpatiza com a nossa dor (Que declaração!)

3. Não espere muito da caída e amaldiçoada terra. Encontre o seu prazer e propósito em Deus, na redenção, no céu, e na obediência.

4. V. 4 Na redenção, Deus faz aquilo que o homem não pode fazer. Ele pega um pecador impuro, e o torna um santo perfeito! Como? Ao tomar um cordeiro sem mancha e oferecê-lo em humilhação e morte. Permaneça com temor e tremor diante da Sua poderosa obra de redenção!

Daniel A. Chamberlin


Ainda que ele me mate nele confiarei



FORJADORES DE MENTIRAS
1 Tudo isto meus olhos viram e meus ouvidos ouviram, e compreendi tudo.
2 O que vós sabeis, também eu sei: não sou inferior a vós.
3 Contudo, quero falar ao Poderoso, com o próprio Deus quero disputar.
4 Quanto a vós, mostrarei que sois forjadores de mentira, todos vós sois curandeiros de nada.
5 Oxalá ao menos vos calásseis, para que isto vos fosse creditado como Sabedoria.
6 Ouvi, pois, a minha defesa e atentai para os argumentos de meus lábios.
7 Acaso é para defender a Deus que mentis, e em seu favor apresentais enganos?
8 Acaso tomais o seu partido e quereis defender em juízo a causa de Deus?
9 Não seria bom que ele vos examinasse? Ireis zombar dele, como se zomba de qualquer um?
10 Ele mesmo vos repreenderá, porque, às escondidas, sois parciais.
11 A majestade dele não vos perturbará e não cairá sobre vós o seu terror?
12 Vossas máximas são como provérbios de cinza, couraças de barro, as vossas couraças!
13 JÓ ARRISCA TUDO
Calai-vos um pouco, para que agora eu fale e venha sobre mim o que vier.
14 Por que eu morderia minha carne com os dentes e poria minha vida em minhas mãos?
15 Ainda que fosse matar-me, eu nele esperaria; apesar de tudo, na sua presença defende rei minha conduta.
16 Isto já seria a minha salvação, pois nenhum ímpio comparece diante dele.
17 Escutai, pois, minhas palavras, ouvi com vossos ouvidos o que vou expor.
18 Preparei meu julgamento, e sei que vou ser declarado inocente.
19 Quem é que vai disputar comigo? Só depois me calarei, e morrerei!
20 Apenas duas coisas não me faças, ó Deus, e então não me esconderei da tua presença:
21 afasta de mim a tua mão, e não me amedronte o teu terror.
22 Interpela-me, e eu te responderei, ou deixa-me falar, e tu me responderás.
23 São tão grandes assim minhas iniqüidades e meus pecados? Mostra-me os meus crimes e delitos!
24 Por que escondes tua face e me consideras teu inimigo?
25 Ages duramente contra uma folha que é levada pelo vento, e persegues uma palha ressequida.
26 Pois proferes contra mim sentenças amargas e me obrigas a assumir os pecados de minha juventude.
27 Prendeste meus pés ao cepo, vigiaste todos os meus caminhos e examinaste até minhas pegadas,


Comentário:

Jó atinge o limite mais elevado da sua fé e da sua confiança em Deus ao afirmar: “Ainda que ele me mate nele confiarei” (13:15). Que é como quem diz: mesmo depois de morto, continuarei a confiar. A fé de Jó é elevada até ao limite da eternidade. Lembra-nos os três jovens que, ao serem ameaçados de morte caso não adorassem a estátua de ouro, responderam que Deus os livraria, mas mesmo que não livrasse, a sua decisão era inalterável. (Daniel 3:16-18). Que exemplo! A fé não pode ser negociada. 
Jó expressa frontalmente a sua irritação e desilusão em relação aos amigos: “Vós, porém, sois inventores de mentiras e todos vós, médicos que não valem nada. Tomara que vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria” (13:4-5). 


Ludgero Coelho