sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Não adianta disputar com Deus



1 Respondendo-lhe, disse Jó:
2 “Sei muito bem que é assim: Como poderia alguém prevalecer diante de Deus?
3 Se quisesse disputar com ele, a mil razões eu não teria uma para responder.
4 Ele é sábio de coração e de força poderosa; quem já o enfrentou e ficou ileso?
5 Ele desloca as montanhas sem que elas percebam, e as derruba em sua ira.
6 Ele abala a terra em suas bases e suas colunas vacilam.
7 Ele manda ao sol que não se levante e guarda sob chave as estrelas.
8 Sozinho desdobra os céus, e caminha sobre as ondas do mar.
9 É ele quem faz a Ursa e o Órion, as Plêiades e as constelações do Sul.
10 Faz prodígios insondáveis, maravilhas que não se podem contar!
11 Se passa junto de mim, não o vejo e, quando se afasta, não percebo.
12 Se de repente irrompe, quem ousa impedi-lo? Quem pode dizer-lhe: ‘Que estás fazendo?’
13 Deus não refreia sua cólera; ao seu poder se curvam os aliados do monstro do mar.
14 Quem sou eu para replicar-lhe, para dirigir-me a ele com palavras escolhidas?
15 Ainda que eu tivesse razão, eu não poderia replicar; pelo contrário, pediria misericórdia ao meu Juiz.
16 Mesmo se me ouvisse, ao clamar por ele, não creio que daria atenção à minha voz.
17 Pois ele me esmagaria como num redemoinho e, sem motivo, multiplicaria minhas feridas.
18 Ele não permite que meu espírito descanse e me farta de amarguras.
19 Se alguém procura a força, ele é o mais vigoroso; se procura o direito, quem o traria ao tribunal?
20 Se eu quiser justificar-me, minha boca me condenará; se mostrar que sou inocente, ele me convencerá de culpa.
21 DEUS ESTÁ ACIMA DO DIREITO?
Será que sou íntegro? Nem eu sei. Aliás, desprezo a minha vida.
22 Uma só coisa é o que eu disse: ele extermina tanto o inocente como o ímpio.
23 Se uma calamidade mata de repente, ele se ri da aflição dos inocentes.
24 A terra está entregue às mãos do ímpio e ele cobre o rosto dos seus juízes: se não é ele, quem será?
25 Meus dias correram mais rápidos que um atleta; fugiram e não viram a felicidade.
26 Deslizaram como barcos de papiro, como a águia que se abate sobre a presa.
27 Se digo: Vou esquecer minha tristeza, mudar a expressão de meu rosto e mostrar-me alegre,
28 tenho medo de todas as minhas dores, sabendo que não me absolverás.
29 Se, pois, mesmo assim, continuo sendo culpado, para que me afadiguei em vão?
30 Ainda que eu me lavasse com águas de neve e com soda purificasse minhas mãos,
31 tu, porém, me afundarias na imundície e minhas roupas teriam nojo de mim.
32 Pois não estou respondendo a alguém que seja mortal como eu; ele não é um ser humano, a quem eu possa processar.
33 Não existe quem possa ser árbitro entre os dois, nem quem imponha sua mão sobre nós ambos.
34 Que ele retire de mim a vara e o seu pavor não me atemorize:
35 então, eu falaria sem ter medo dele! Mas tal não acontece: não sou mais eu.

Cometário:

3 Jó clama por um árbitro: um mediador com autoridade entre Deus e o homem. (9:33) Jesus é esse árbitro que compreende as duas partes em conflito: Deus e o homem. ( I Tim. 2:5) 4 Jó expressa frontalmente a sua irritação e desilusão em relação aos amigos: “Vós, porém, sois inventores de mentiras e todos vós, médicos que não valem nada. Tomara que vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria” (13:4-5). “Todos vós sois consoladores molestos” (16:1). O fundamentalismo teológico, aliado à falta de empatia e à tentativa de racionalizar, só pode resultar em ineficácia no aconselhamento. Bom seria que tivessem permanecido em silêncio, respeitando a dor que era muito grande (2:13).

Ludgero Coelho



Um quebra-cabeça sem todas as peças

1 Tomando a palavra por sua vez, Bildade de Suás falou:
2 “Até quando dirás tais coisas? Tuas palavras parecem um furacão!
3 Acaso Deus passa por cima do direito ou o Poderoso perverte aquilo que é justo?
4 Se teus filhos pecaram contra ele, ele os entregou às conseqüências da iniqüidade que cometeram.
5 Tu, porém, se de manhã cedo te levantares para Deus, se suplicares o Poderoso
6 e se caminhares com pureza e retidão, ele imediatamente despertará em teu favor e restaurará a tua legítima propriedade.
7 Desta forma, o que possuías antes parecerá pouca coisa, em comparação com as tuas posses multiplicadas no futuro. “Somos de ontem…”
8 Interroga a geração passada e investiga com cuidado a memória dos antigos.
9 Pois somos de ontem e nada sabemos, e nossos dias sobre a terra são como a sombra.
10 pois eles, os antigos, vão te ensinar e te falar, e do seu próprio coração vão extrair estas palavras:
11 Pode o papiro vicejar sem a umidade ou o caniço crescer sem água?
12 Estando ainda em flor, e sem que alguém o colha, seca antes de todas as ervas.
13 São assim os caminhos de todos os que se esquecem de Deus, pois a esperança do ímpio se frustrará.
14 Sua esperança é como um fio tênue; como teia de aranha, a sua confiança.
15 Ao se apoiar sobre a sua casa, ela não agüentará; mesmo se lhe puser estacas, ela não ficará de pé.
16 Parece cheio de seiva antes de vir o sol e seus brotos irrompem no seu jardim.
17 Suas raízes se entrelaçam sobre as rochas e no meio das pedras persiste.
18 Mas, se o arrancam do seu lugar, este o renega, dizendo: ‘Não te conheço’.
19 Assim termina sua alegre história: outros brotarão do mesmo chão.
20 De fato, Deus não rejeita quem é íntegro, como tampouco não estende a mão aos malvados.
21 Um dia a tua boca se encherá de riso e os teus lábios, de alegria.
22 Quanto aos que te odeiam, se cobrirão de vergonha, pois a tenda dos ímpios não ficará em pé”.


Comentários:

O primeiro amigo – Elifaz
“Se alguém tentar falar contigo, ficarás enfadado? Quem, todavia, poderá conter as palavras?” (Jó 4. 2-6).

(01) A fala inicial de Jó, conforme cap. 3, foi um desabafo. Ele não estava cobrando explicações dos seus amigos. Ele não espera também que seus amigos possam ter alguma explicação para o seu sofrimento. Mas os seus amigos sentem que tem obrigação de responder o desabafo de Jó.
(02) Elifaz, o mais velho, é o primeiro a falar. Ele deseja ser o mais gentil possível. Ele fala respeitosamente. Pede que Jó não fique zangado com o que ele vai falar.
(03) Elifaz reconhece em Jó um homem religioso, mas repreende Jó porque não mostra a mesma calma que Jó recomendara às pessoas que aconselhava (“chegando a tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas…”)
(04) Em seguida esse amigo de Jó fala sobre a desgraça dos ímpios e as alegrias dos justos. Afirma a Jó que se ele esperar em DEUS verá a tempestade passar e o sol tornará a brilhar.
(05) Elifaz diz que talvez DEUS esteja repreendendo Jó por causa de alguma falha. Se for assim Jó deve controlar seu ímpeto. Deverá arrepender-se dos seus erros e assim será restaurado, curado, liberto.

O que faltou para Jó e seus amigos
(01) Jó diz a Bildade que de nada adianta apelar para a insignificância humana. Ele começa a exaltar a soberania de DEUS. Jó diz que o Senhor é tão grande quanto Bildade afirmou e mais ainda (Jó 26. 11-14).

(02) Jó diz ainda que não discorda inteiramente de seus amigos. Diz que a “Doutrina da Retribuição” (aqui se faz aqui se paga) não se aplica a todos os casos. Para o patriarca dizer que os maus nunca serão punidos seria fazer uma declaração falha (Jó 27. 13-17).

(03) Para o patriarca no nosso mundo coexistem, lado a lado, justiça e injustiça, lógica e absurdo, castigo e impunidade. Há ocasiões em que o Senhor cura e outras em que Ele não cura. Algumas vezes o Senhor livra e em outras vezes não livra (Jó 26. 10-14).

(04) A grande dificuldade de Jó e de seus 3 amigos é que eles tentavam resolver um problema para o qual lhes faltavam elementos . Um quebra-cabeça sem todas as peças. De que peças os 4 não possuíam?

Faltavam para Jó e seus amigos informações sobre Satanás. Eles desconheciam o fato de que existe uma força maligna operando no mundo. Eles atribuíam a DEUS tudo o que não tive uma explicação humana. Não devemos atribuir a DEUS iniciativas que não são dEle. O livre arbítrio significa que podem ocorrer coisas que DEUS não aprova. Mas Ele sempre pode usar isso.
Faltavam para Jó e seus amigos informações sobre a vida além túmulo. Eles acreditavam que a justiça de DEUS terminava do lado de cá do túmulo. Jó conseguiu expandir essa visão, numa fé admirável. Ele tem vislumbres da eternidade. Seus amigos não.
Faltavam para Jó e seus amigos informações sobre o ministério do Senhor Jesus. A morte de Jesus Cristo no Calvário para salvar a humanidade deu uma nova visão sobre a dor e o sofrimento. A morte de Jesus na cruz nos faz enxergar a profundidade do amor de DEUS. Também a morte de Jesus nos mostra que DEUS pode extrair bênçãos dos acontecimentos trágicos.
Conhecemos o que Jó e seus amigos não conhecem. Mas ainda não temos todos os detalhes. Existem coisas que não entendemos e outras que nos serão reveladas na Glória (1 Coríntios 13.12).

O que faltou aos amigos de Jó? FÉ. Os sofrimentos de Jó o estavam levando para mais perto de DEUS.


Ezequias Costa