sábado, 28 de fevereiro de 2015

Cansado de viver


1 Minha alma está cansada de viver. Soltarei contra mim mesmo o meu discurso, expressando toda a minha amargura.
2 Direi a Deus: Não me condenes! Faze-me, antes, saber, por que me julgas assim.
3 Por acaso, parece-te bom que me oprimas e me calunies, a mim, obra de tuas mãos e favoreças o desígnio dos perversos?
4 Acaso são de carne os teus olhos e vês as coisas como as vê o ser humano?
5 Acaso são como os de um mortal os teus dias e os teus anos, como as estações humanas,
6 para esquadrinhares a minha iniqüidade e investigares o meu pecado?
7 No entanto, sabes que eu nada fiz de mal, mas, por outro lado, ninguém pode livrar do teu alcance.
8 “SOU TUA CRIATURA, MAS QUAL FERA ME ESPREITAS”
As tuas mãos me fizeram, plasmando todo o meu ser inteiramente, e de súbito me fazes cair?
9 Lembra-te, por favor, que me fizeste como argila… e agora, me reduzes ao pó?
10 Acaso não me derramaste como leite, e me coalhaste como queijo?
11 De pele e carne me vestiste, de ossos e de nervos me teceste.
12 Vida e misericórdia me concedeste e teu cuidado guardou o meu espírito.
13 Embora escondas estas coisas no teu coração, sei que as andavas remoendo em tua mente:
14 Se eu pecar, estarás me observando e não consentirás que eu seja livre da minha iniqüidade.
15 Se eu fosse ímpio, ai de mim; se justo, não levantaria a cabeça, repleto que estou de aflição e miséria.
16 Se me deixo levar pelo orgulho, me prendes como ao filhote do leão e de novo te revelas admirável em mim.
17 Renovas contra mim tuas testemunhas e redobras tua ira contra mim, contra mim combatem teus castigos.
18 Por que então me tiraste do ventre materno? Oxalá tivesse eu morrido, para que olho algum me visse.
19 E eu teria sido como quem não existiu, transportado, já, do ventre ao túmulo.
20 Acaso a brevidade dos meus dias não acabará logo? Deixa, pois, que se alivie um pouco a minha dor!
21 Mas isto, antes que eu vá, sem volta, para a região das trevas e da sombra da morte,
22 a terra da escuridão e das trevas, onde só há sombra de morte e caos, e habita o horror sempiterno”.


Comentários:

Jó continua seu discurso (9:25 - 10:22)
A. Na última parte do capítulo 9, parece que Jó dirige seus comentários em parte a Deus e em parte a Bildade e seus outros dois amigos.

B. Tendo discutido o tratamento do homem em geral por Deus em 9:22-24, agora Jó se volta para o tratamento dele mesmo por Deus (vs. 25-31).
1. Usando as figuras de um corredor, navios velozes e uma águia, Jó descreve a brevidade da vida (vs. 25-26).
2. Ele fala da persistência de Deus em considerá-lo culpado e como resultado ele é incapaz de se alegrar (vs. 27-31).
3. Jó sente a necessidade de um terceiro participante para arbitrar a diferença entre ele e Deus (vs. 32-35). Parece que ele está antevendo a obra de Jesus Cristo como nosso mediador.

C. Sentindo que nada tem a perder, Jó fala a Deus diretamente, insistindo em saber porque Deus está "contendendo com ele" e então oferecendo as razões possíveis para o comportamento de Deus (10:1-7).
1. Ele pergunta se Deus tem algum prazer em oprimir sua própria criação (vs. 3).
2. Ele pergunta se Deus, como um homem, tem percepção limitada e, por isso, julgou-o injustamente (vs. 4).
3. Ele questiona se a duração da vida de Deus é tão curta como a de um homem, para que ele esteja com pressa de procurar o pecado de Jó antes que ele o tenha cometido (vs. 5-7).

D. Desconsiderando as duas últimas perguntas, Jó continua seu discurso seguindo a primeira possibilidade (vs. 8-22).
1. Ele recorda a Deus que ele é criatura de Deus (vs. 8-12).
2. E ainda Deus parece determinado a destruir Jó em qualquer circunstância, um rumo aparentemente inconsistente com seu cuidado em criar Jó (vs. 13-17).
3. Novamente Jó expressa seu desejo de ter morrido ao nascer. Desde que Deus não permitiu isso e seus dias restantes são poucos, Jó pede a Deus que o deixe em paz (vs. 18-22).
4. Conquanto Jó não tenha se afastado de Deus, ele está obviamente lutando com sua fé. Quão agradecido Jó deve ter estado mais tarde porque Deus não atentou para suas palavras e o "deixou em paz" como ele tinha pedido!


Estudos Bíblicos
estudosdabiblia.net

©2014 Karl Hennecke, USA

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Não adianta disputar com Deus



1 Respondendo-lhe, disse Jó:
2 “Sei muito bem que é assim: Como poderia alguém prevalecer diante de Deus?
3 Se quisesse disputar com ele, a mil razões eu não teria uma para responder.
4 Ele é sábio de coração e de força poderosa; quem já o enfrentou e ficou ileso?
5 Ele desloca as montanhas sem que elas percebam, e as derruba em sua ira.
6 Ele abala a terra em suas bases e suas colunas vacilam.
7 Ele manda ao sol que não se levante e guarda sob chave as estrelas.
8 Sozinho desdobra os céus, e caminha sobre as ondas do mar.
9 É ele quem faz a Ursa e o Órion, as Plêiades e as constelações do Sul.
10 Faz prodígios insondáveis, maravilhas que não se podem contar!
11 Se passa junto de mim, não o vejo e, quando se afasta, não percebo.
12 Se de repente irrompe, quem ousa impedi-lo? Quem pode dizer-lhe: ‘Que estás fazendo?’
13 Deus não refreia sua cólera; ao seu poder se curvam os aliados do monstro do mar.
14 Quem sou eu para replicar-lhe, para dirigir-me a ele com palavras escolhidas?
15 Ainda que eu tivesse razão, eu não poderia replicar; pelo contrário, pediria misericórdia ao meu Juiz.
16 Mesmo se me ouvisse, ao clamar por ele, não creio que daria atenção à minha voz.
17 Pois ele me esmagaria como num redemoinho e, sem motivo, multiplicaria minhas feridas.
18 Ele não permite que meu espírito descanse e me farta de amarguras.
19 Se alguém procura a força, ele é o mais vigoroso; se procura o direito, quem o traria ao tribunal?
20 Se eu quiser justificar-me, minha boca me condenará; se mostrar que sou inocente, ele me convencerá de culpa.
21 DEUS ESTÁ ACIMA DO DIREITO?
Será que sou íntegro? Nem eu sei. Aliás, desprezo a minha vida.
22 Uma só coisa é o que eu disse: ele extermina tanto o inocente como o ímpio.
23 Se uma calamidade mata de repente, ele se ri da aflição dos inocentes.
24 A terra está entregue às mãos do ímpio e ele cobre o rosto dos seus juízes: se não é ele, quem será?
25 Meus dias correram mais rápidos que um atleta; fugiram e não viram a felicidade.
26 Deslizaram como barcos de papiro, como a águia que se abate sobre a presa.
27 Se digo: Vou esquecer minha tristeza, mudar a expressão de meu rosto e mostrar-me alegre,
28 tenho medo de todas as minhas dores, sabendo que não me absolverás.
29 Se, pois, mesmo assim, continuo sendo culpado, para que me afadiguei em vão?
30 Ainda que eu me lavasse com águas de neve e com soda purificasse minhas mãos,
31 tu, porém, me afundarias na imundície e minhas roupas teriam nojo de mim.
32 Pois não estou respondendo a alguém que seja mortal como eu; ele não é um ser humano, a quem eu possa processar.
33 Não existe quem possa ser árbitro entre os dois, nem quem imponha sua mão sobre nós ambos.
34 Que ele retire de mim a vara e o seu pavor não me atemorize:
35 então, eu falaria sem ter medo dele! Mas tal não acontece: não sou mais eu.

Cometário:

3 Jó clama por um árbitro: um mediador com autoridade entre Deus e o homem. (9:33) Jesus é esse árbitro que compreende as duas partes em conflito: Deus e o homem. ( I Tim. 2:5) 4 Jó expressa frontalmente a sua irritação e desilusão em relação aos amigos: “Vós, porém, sois inventores de mentiras e todos vós, médicos que não valem nada. Tomara que vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria” (13:4-5). “Todos vós sois consoladores molestos” (16:1). O fundamentalismo teológico, aliado à falta de empatia e à tentativa de racionalizar, só pode resultar em ineficácia no aconselhamento. Bom seria que tivessem permanecido em silêncio, respeitando a dor que era muito grande (2:13).

Ludgero Coelho



Um quebra-cabeça sem todas as peças

1 Tomando a palavra por sua vez, Bildade de Suás falou:
2 “Até quando dirás tais coisas? Tuas palavras parecem um furacão!
3 Acaso Deus passa por cima do direito ou o Poderoso perverte aquilo que é justo?
4 Se teus filhos pecaram contra ele, ele os entregou às conseqüências da iniqüidade que cometeram.
5 Tu, porém, se de manhã cedo te levantares para Deus, se suplicares o Poderoso
6 e se caminhares com pureza e retidão, ele imediatamente despertará em teu favor e restaurará a tua legítima propriedade.
7 Desta forma, o que possuías antes parecerá pouca coisa, em comparação com as tuas posses multiplicadas no futuro. “Somos de ontem…”
8 Interroga a geração passada e investiga com cuidado a memória dos antigos.
9 Pois somos de ontem e nada sabemos, e nossos dias sobre a terra são como a sombra.
10 pois eles, os antigos, vão te ensinar e te falar, e do seu próprio coração vão extrair estas palavras:
11 Pode o papiro vicejar sem a umidade ou o caniço crescer sem água?
12 Estando ainda em flor, e sem que alguém o colha, seca antes de todas as ervas.
13 São assim os caminhos de todos os que se esquecem de Deus, pois a esperança do ímpio se frustrará.
14 Sua esperança é como um fio tênue; como teia de aranha, a sua confiança.
15 Ao se apoiar sobre a sua casa, ela não agüentará; mesmo se lhe puser estacas, ela não ficará de pé.
16 Parece cheio de seiva antes de vir o sol e seus brotos irrompem no seu jardim.
17 Suas raízes se entrelaçam sobre as rochas e no meio das pedras persiste.
18 Mas, se o arrancam do seu lugar, este o renega, dizendo: ‘Não te conheço’.
19 Assim termina sua alegre história: outros brotarão do mesmo chão.
20 De fato, Deus não rejeita quem é íntegro, como tampouco não estende a mão aos malvados.
21 Um dia a tua boca se encherá de riso e os teus lábios, de alegria.
22 Quanto aos que te odeiam, se cobrirão de vergonha, pois a tenda dos ímpios não ficará em pé”.


Comentários:

O primeiro amigo – Elifaz
“Se alguém tentar falar contigo, ficarás enfadado? Quem, todavia, poderá conter as palavras?” (Jó 4. 2-6).

(01) A fala inicial de Jó, conforme cap. 3, foi um desabafo. Ele não estava cobrando explicações dos seus amigos. Ele não espera também que seus amigos possam ter alguma explicação para o seu sofrimento. Mas os seus amigos sentem que tem obrigação de responder o desabafo de Jó.
(02) Elifaz, o mais velho, é o primeiro a falar. Ele deseja ser o mais gentil possível. Ele fala respeitosamente. Pede que Jó não fique zangado com o que ele vai falar.
(03) Elifaz reconhece em Jó um homem religioso, mas repreende Jó porque não mostra a mesma calma que Jó recomendara às pessoas que aconselhava (“chegando a tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas…”)
(04) Em seguida esse amigo de Jó fala sobre a desgraça dos ímpios e as alegrias dos justos. Afirma a Jó que se ele esperar em DEUS verá a tempestade passar e o sol tornará a brilhar.
(05) Elifaz diz que talvez DEUS esteja repreendendo Jó por causa de alguma falha. Se for assim Jó deve controlar seu ímpeto. Deverá arrepender-se dos seus erros e assim será restaurado, curado, liberto.

O que faltou para Jó e seus amigos
(01) Jó diz a Bildade que de nada adianta apelar para a insignificância humana. Ele começa a exaltar a soberania de DEUS. Jó diz que o Senhor é tão grande quanto Bildade afirmou e mais ainda (Jó 26. 11-14).

(02) Jó diz ainda que não discorda inteiramente de seus amigos. Diz que a “Doutrina da Retribuição” (aqui se faz aqui se paga) não se aplica a todos os casos. Para o patriarca dizer que os maus nunca serão punidos seria fazer uma declaração falha (Jó 27. 13-17).

(03) Para o patriarca no nosso mundo coexistem, lado a lado, justiça e injustiça, lógica e absurdo, castigo e impunidade. Há ocasiões em que o Senhor cura e outras em que Ele não cura. Algumas vezes o Senhor livra e em outras vezes não livra (Jó 26. 10-14).

(04) A grande dificuldade de Jó e de seus 3 amigos é que eles tentavam resolver um problema para o qual lhes faltavam elementos . Um quebra-cabeça sem todas as peças. De que peças os 4 não possuíam?

Faltavam para Jó e seus amigos informações sobre Satanás. Eles desconheciam o fato de que existe uma força maligna operando no mundo. Eles atribuíam a DEUS tudo o que não tive uma explicação humana. Não devemos atribuir a DEUS iniciativas que não são dEle. O livre arbítrio significa que podem ocorrer coisas que DEUS não aprova. Mas Ele sempre pode usar isso.
Faltavam para Jó e seus amigos informações sobre a vida além túmulo. Eles acreditavam que a justiça de DEUS terminava do lado de cá do túmulo. Jó conseguiu expandir essa visão, numa fé admirável. Ele tem vislumbres da eternidade. Seus amigos não.
Faltavam para Jó e seus amigos informações sobre o ministério do Senhor Jesus. A morte de Jesus Cristo no Calvário para salvar a humanidade deu uma nova visão sobre a dor e o sofrimento. A morte de Jesus na cruz nos faz enxergar a profundidade do amor de DEUS. Também a morte de Jesus nos mostra que DEUS pode extrair bênçãos dos acontecimentos trágicos.
Conhecemos o que Jó e seus amigos não conhecem. Mas ainda não temos todos os detalhes. Existem coisas que não entendemos e outras que nos serão reveladas na Glória (1 Coríntios 13.12).

O que faltou aos amigos de Jó? FÉ. Os sofrimentos de Jó o estavam levando para mais perto de DEUS.


Ezequias Costa

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A vida é uma escravidão?


1 Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como os de um assalariado?
2 Como o escravo suspira pela sombra, como o assalariado aguarda o pagamento,
3 assim tive por ganho meses de decepção, e o que computei foram noites de sofrimento.
4 Apenas me deito, digo: Quando irei levantar-me? E então, espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer.
5 Meu corpo cobre-se de pus e de feridas, a pele rompe-se e supura.
6 Meus dias correm mais rápido que a lançadeira e se consomem, tendo acabado o fio.
7 Lembra-te de que minha vida é apenas vento, e meus olhos não voltarão a ver a felicidade!
8 O olhar de quem me via, não mais me verá; teus olhos vão procurar-me, e não estarei mais aí.
9 Como a nuvem se desfaz e passa, assim quem desce ao mundo dos mortos, dali jamais subirá:
10 não voltará jamais à sua casa, sua morada não mais o verá.
11 Por isso, não vou controlar minha língua; com o espírito angustiado falarei, com a alma amargurada me queixarei.
12 ACASO SOU UM MONSTRO?
Acaso sou eu o mar ou um monstro marinho, para que me mantenhas sob custódia?
13 Se eu disser: ‘Meu leito me consolará, e minha cama aliviará a minha queixa’,
14 então me assustas com sonhos e me aterrorizas com pesadelos.
15 Por isso, minha alma preferiria a forca e meus ossos, a morte.
16 Perdi a esperança; absolutamente, não quero mais viver. Tem pena de mim, pois um sopro são meus dias!
17 Afinal, que é o ser humano, para lhe dares tanta importância? por que se ocupa dele teu coração?
18 Já pela manhã o vigias e a cada momento o pões à prova.
19 Até quando não tirarás os olhos de mim, e não me deixas nem engolir a saliva?
20 Se pequei, o que foi que te fiz, ó espião da humanidade? Por que me tomas por alvo, a ponto de eu tornar-me um peso para mim mesmo?
21 Por que não tiras o meu pecado e não retiras a minha iniqüidade? Olha, vou agora adormecer no pó; se me procurares pela manhã, já não existirei”.

Comentário devocional:

 Jó diz que assim como um servo que trabalha ao sol anseia pela noite de descanso, o sono da morte é precedido por meses e anos de trabalho e noites de cansaço (verso 3).

Parece que não há esperança de recuperação para Jó (v. 6). Com a proximidade da morte, a vida é  apenas um sopro que se vai, seus olhos talvez nunca mais vejam o bem novamente (v. 7). Ele afirma que a pessoa que morre não assumirá novamente a sua vida (v. 8). Esta pessoa nunca mais retornará à sua casa (v. 9,10). 

 Jó se recusa a se calar e insiste em falar de sua angústia e amargura (v. 11). À noite, dores nos ossos e sonhos vem assustá-lo (versos 13-16). Ele não quer viver para sempre sofrendo desta maneira (v. 16). Ele odeia a vida; os “seus dias são sem sentido” (NVI).

Jó sabe que Deus vigia de perto a todos os homens e se pergunta se a continuação do seu sofrimento significa que ele está pecando contra aquEle que lhe guarda, embora ele não tenha conhecimento de qualquer pecado em sua vida (v. 20). 

 Jó tem a impressão de que está sendo alvo de castigos divinos e deseja que Deus lhe conceda uma visão do porquê ele sofre em uma situação próxima da morte e o perdoe por qualquer transgressão. Ele sente que, se ele morresse e fosse sepultado, nem Deus, nem ninguém,  o poderiam encontrar, pois deixaria de existir (v. 21). 

Apesar disso, como ficará claro ao longo do livro, Jó percebe que Deus conhece exatamente como cada ser humano é formado  e  pode recriar o que deixou de existir.

 Querido Deus, sabemos que tudo o que sofremos acontece como consequência das ações de Satanás e que, abraçados a Ti, encontraremos um propósito mais elevado para o nosso sofrimento. Não há alegria de contemplar a dor, mas ela mostra o maldade de Satanás sobre nossa espécie. Nós oramos que, aconteça o que acontecer, permaneças sempre conosco. Amém.

 Koot van Wyk

Kyungpook National University


Sangju, Coreia do Sul

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Não saberei eu distinguir entre o bem e o mal?"


1 Então Jó respondeu:
2 “Quem dera que avaliassem a minha exasperação e pusessem minha desgraça na balança!
3 Ela seria mais pesada que a areia do mar, razão por que hesito nas minhas palavras.
4 Pois as flechas do Poderoso se encravaram em mim e o meu espírito sorveu o seu veneno: os terrores de Deus se arregimentam contra mim.
5 Porventura zurra o asno selvagem, quando tem erva? ou muge o boi, diante do cocho repleto?
6 Pode alguém comer o que é sem sal, o que é insosso? ou pode alguém saborear um legume sem tempero?
7 As coisas que eu antes nem quisera tocar, agora, pela angústia, tornaram-se minha comida.
8 Quem me dera se cumprisse o meu pedido e Deus me concedesse o que eu espero!
9 Oxalá Deus me esmagasse; que soltasse a sua mão e acabasse comigo!
10 Isto seria um consolo para mim: e eu exultaria, mesmo no pavor implacável, e não ocultaria as palavras do Santo.
11 Pois, que força é a minha, para poder suportar? ou qual o meu fim, para eu agir com paciência?
12 Acaso sou forte como as pedras? e minha carne, será de bronze?
13 Ou não encontro mais apoio em mim mesmo, e minha própria resistência estará longe de mim?
14 QUEIXA ACERCA DOS AMIGOS
Quem recusa ao amigo a misericórdia, abandonou o temor do Poderoso.
15 Meus irmãos me mentiram, como o leito das torrentes que desaparecem.
16 Avolumadas pelo degelo, quando sobre elas irrompe a neve, 17 no momento em que escorrem, secam e, vindo o calor, evaporam-se.
18 Por causa delas, os caravaneiros desviam-se de suas rotas e, subindo pelo deserto, perecem.
19 As caravanas de Temá as procuram, os viandantes de Sabá nelas esperam.
20 Confundiram-se, porém, os que nelas esperavam; lá chegando, cobriram-se de vergonha.
21 Assim vós sois, agora, para mim: vendo a minha desgraça, ficais com medo!
22 Acaso eu pedi: ‘Trazei-me alguma coisa’, ou: ‘Dai-me algo dos vossos bens’? 23 ou ainda: Livrai-me das mãos do inimigo, do poder dos fortes libertai-me’?
24 Esclarecei-me, e me calarei. Se desconheço alguma coisa, instruí-me.
25 Por que contradissestes palavras verdadeiras, quando não há ninguém entre vós que possa acusar-me?
26 Só para censurar elaborais discursos, enquanto as palavras de um desesperado vão ao vento!
27 Vós atacais um órfão e procurais derrubar vosso amigo.
28 Agora, pois, olhai para mim e não mentirei diante de vós.
29 Voltai atrás, e não encontrareis perversidade!Voltai atrás, pois a minha justiça está de pé!
30 Acaso há perversidade em minha língua? Ou o meu paladar não discerne o que é amargo?

Comentário:

1. JÓ SUPLICA JUSTIÇA (6.1-13). Elifaz encara mal a impaciência com que Jó suporta o seu sofrimento. Jó acusa-o de olhar apenas para um dos pratos da balança. Elifaz censura o peso da sua impaciência: mas se ele olhasse para o prato em que pesa a sua aflição, ele o encontraria incomensuravelmente mais pesado. As minhas palavras têm sido inconsideradas (3). Segundo outra versão, "Foram as minhas palavras precipitadas?" "Não se condene o grito do aflito antes de se tomar em conta a sua aflição" é o seu argumento. Jó sente-se como um homem cujo corpo estivesse crivado de flechas envenenadas disparadas pelo Todo-Poderoso. Não pode evitar que o veneno se lhe espalhe pelo corpo; não pode impedir-se de proferir palavras doridas e delirantes. Será a sua situação devidamente avaliada? Notem-se as palavras do vers. 4: o seu ardente veneno o bebe o meu espírito. O seu grito de agonia tem uma razão de ser. Não é o caso do homem que se lamenta sem razão. Ele perdeu o gosto da vida (6-7) que compara à comida insípida, sem sal. Mas a morte, pelo contrário, apresenta-se-lhe imensamente desejável. A perspectiva da morte é o seu único conforto (8-10). Note-se a seguinte tradução do versículo 10: "então conheceria eu o conforto; sim, exultaria na dor que não poupa; porque não neguei as palavras do Santo". Acentua-se, nestas palavras, a perfeita tranquilidade com que Jó encara a morte, a sua total ausência de medo. A sua mente corre a encontrá-la, mesmo que para a conhecer tenha de franquear as cruéis e implacáveis portas da dor e da angústia. Nada tem a recear da morte nem do Deus cujos mandamentos jamais desprezou. A vida exigiu demais da sua força e da sua paciência. Jó não pode lutar porque não é um super-homem com força de pedra e carne de bronze. Os seus recursos naturais esgotaram-se (11-13). Note-se esta versão do versículo 13: "Não desapareceu de dentro de mim tudo quanto poderia amparar-me? Não se me esgotaram todos os recursos?"

2. JÓ REPREENDE OS AMIGOS (6.14-30). Um homem que se afunda ao peso da aflição deveria poder contar com a simpatia dos seus amigos. A Jó foi negada essa simpatia, essa compaixão. Numa imagem notavelmente apropriada, Jó compara os seus amigos a ribeiros endurecidos pela neve e pela geada do inverno (16), que se derretem quando o tempo aquece até que acabam por secar e desaparecer. Em seguida perpassam rapidamente perante os nossos olhos caravanas árabes, sequiosas, que se precipitam para os ribeiros apenas para conhecer a mais amarga das desilusões. Somem-se no deserto para aí perecerem (18-20). O vers. 18 é, segundo outra versão: "as caravanas que por eles passam, afastam se; sobem ao deserto e perecem".

O vers. 21 sugere-nos uma razão para que os amigos de Jó se tenham tornado como cisternas rotas cujas águas desapareceram. O pavor provocado pela contemplação da miséria de Jó gelou-lhes a compaixão e a simpatia. Receiam que tomar o partido de Jó seja oporem-se ao Deus que pode atingi-los com calamidades semelhantes. Até ao fim deste capítulo desenhar-se-á um contraste entre o que Jó esperava dos amigos e aquilo que deles recebeu. Ele não lhes tinha implorado auxílio material (22,32) nem proteção do opressor e do tirano; tinha esperado, sim, simpatia genuína e uma atitude reta. Mas o melhor que deles recebera fora insinuações contra a sua integridade. Os amigos haviam cometido o erro de darem às suas palavras - palavras de um homem caído no desespero - uma interpretação literal, como se elas fossem friamente premeditadas (25-26). Ele está pronto a sustentar a sua integridade, a encarar o mundo de cabeça levantada, consciência pura e olhar firme. Voltai (29) quer dizer "mudai de atitude, procurai outro motivo para o meu sofrimento". No versículo 30 Jó pergunta: "Está, porventura, pervertido o meu senso moral? Não saberei eu distinguir entre o bem e o mal?"



John W. Scott




terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

“Foi uma aposta?”


(01) O livro de Jó, que se propõe a decifrar o enigma do Mal, tenta resolver um problema mas acaba criando outro. Temos a impressão que o livro descreve uma aposta. Aposta escandalosa. Em algum lugar do universo, DEUS e o diabo se encontram. Eles começam a conversar e as atenções se voltam para Jó. Os dois tem opiniões diferentes a respeito desse homem:

o Senhor o vê com um servo leal
para o diabo Jó não passa de um interesseiro.
Para saber quem está com a razão, resolvem submete-lo a um teste. Fazem isso arruinando a vida daquele homem.
(02) Esse início chocante tem levantado sérias dúvidas quanto a inspiração do livro de Jó. Também o livro tem alimentado questões sobre o caráter de DEUS.

Que DEUS é esse que se deixar levar pelas provocações de Satanás?
Como pode o Todo-Poderoso ser alguém tão mesquinho que, a fim de vencer uma disputa, jogue com a vida das pessoas como se fossem robôs?
É correto reverenciar um DEUS assim?
É possível confiar nesse DEUS?
(03) Essa inquietação é fruto de uma análise precipitada. Há muitos que incorrem no erro de fazer uma leitura superficial de Jó. Até intelectuais famosos, como o psicólogo Carl Jung, caíram nessa armadilha.

“Não é um espetáculo digno ver como tão rapidamente o Senhor abandona seu serviço fiel e o entrega o espírito mau. E com que despreocupação e falta de cuidado deixa Jó cair no abismo do sofrimento, físico e moral”
Vejo um DEUS que joga com a vida de suas criaturas, diz o psicólogo.
(04) Se o livro de Jó fosse um jogo, esse jogo já terminaria no capítulo 2. O patriarca passa imediatamente no teste. Ele se solta dos ataques malignos com muita facilidade. Ainda que Satanás lhe arranque os bens, a família, a reputação e a saúde, não consegue todavia arrancar-lhe a fé. Ele não se revolta em momento algum. Não blasfema contra DEUS. Não reclama das calamidades. Permanece fiel ao Senhor e prova que a sua devoção era sincera.
(04) Vejam que Satanás some no final do capítulo 2. Ele não tem mais nada a fazer. Não tem mais nada a dizer. Foi derrotado de forma definitiva e vergonhosa. Tornou-se um personagem dispensável para a continuação da história. Resta a Satanás se retirar com o rabo entre as pernas, e desaparecer. E é isso exatamente que ele faz.
(05) Então por que o livro não termina na Introdução? Por que o livro se estende por páginas e mais páginas. Se o enredo do livro fosse somente a disputa entre DEUS e o diabo, seria lógico se esperar sua conclusão: DEUS ganhou! Satanás perdeu… Jó passou no teste. DEUS poderia procurar seu servo fiel e explicar-lhe o acontecido, cobrindo em seguida de bênçãos a fim de recuperar suas perdas. Mas não é o que acontece. Sabemos que, quando o capítulo 2 termina, a história mal está começando…
(06) O que lemos nos 2 primeiros capítulos do livro de Jó não é uma aposta. Algo muito mais sério acontece ali. Se quisermos interpretar corretamente o texto precisamos sempre nos lembrar disso.

Ezequias Costa

Feliz do homem a quem Deus corrige!


1 Chama, pois, se é que alguém vai responder-te! A qual dos santos te voltarás?
2 De fato, a raiva mata o insensato e a inveja acaba com o imbecil.
3 Bem vi o insensato criar raízes, mas logo amaldiçoei sua morada:
4 Seus filhos estarão longe da felicidade, espezinhados no tribunal, sem alguém que os liberte.
5 Os famintos comerão da sua colheita, assaltantes o sequestrarão e sedentos sugarão seus bens.
6 Pois a maldade não sai do pó e a dor não se origina do chão.
7 É a pessoa que gera a fadiga, como os pássaros levantam o voo.
8 Por esse motivo rogarei ao Senhor e diante de Deus exporei minha fala.
9 Ele faz coisas grandes e misteriosas, maravilhas que não se podem contar:
10 derrama a chuva sobre a terra e com a água rega os campos;
11 é ele que levanta os abatidos e aos tristes reanima com a salvação;
12 frustra os projetos dos malvados para que não possam completar o que começaram;
13 apanha os sabidos na sua própria astúcia e faz malograr o desígnio dos perversos.
14 Estes afrontarão as trevas em pleno dia e ao meio-dia andarão às apalpadelas como de noite.
15 Assim Deus salvará, da língua cortante deles, o indigente e, da mão violenta, o pobre;
16 e haverá esperança para o indigente, enquanto a iniquidade fechará sua própria boca.
17 FELIZ O HOMEM A QUEM DEUS CORRIGE!
Feliz o homem a quem Deus corrige! Não rejeites, pois, a repreensão do Poderoso, 18 porque ele fere, mas trata da ferida; golpeia, mas suas próprias mãos curam.
19 De seis tribulações te livrará e, na sétima, o mal não te atingirá.
20 Na fome, ele te livra da morte e, na guerra, do perigo da espada.
21 Estarás a salvo do açoite da língua e não terás medo da devastação, quando chegar.
22 Na desolação e na penúria hás de rir, e dos animais selvagens não terás receio.
23 Até com as pedras do campo farás aliança e os animais selvagens serão amistosos contigo.
24 Saberás que está em paz a tua tenda e, visitando a tua propriedade, verás que nada falta.
25 Constatarás também que a tua descendência é numerosa e tua posteridade é como a erva da terra.
26 Descerás ao sepulcro ainda em teu vigor, como a colheita do trigo no tempo certo.
27 Olha que as coisas são assim, como investigamos a fundo: escuta bem, e tira proveito para ti”.


Comentário:  

“Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?”
A existência do Mal no universo é o problema mais sério para aqueles que crêem em DEUS. Para o adorador sincero, o sofrimento e a dor que estão em nosso mundo trazem inquietação e perplexidade.

Chega a ser surpreendente que, num mundo com tantos sofrimentos, ainda existam pessoas que continuem acreditando num DEUS amoroso e bom. Alguns dizem que são esses sofrimentos que empurram o ser humano para a fé. Mas, a verdade é que apesar do Mal as pessoas ainda se apegam ao Criador.

Esse é o paradoxo do nosso mundo: um DEUS perfeito, bondoso, com poder ilimitado. Apesar disso tudo, observamos injustiças, desastres, tragédias e desgraças.

A Palavra de DEUS tem muito a dizer sobre a dor e o sofrimento. Traz muitas explicações. As Escrituras ensinam que as pessoas não sofrem do mesmo jeito e nem pelas mesmas razões.

Há a dor como julgamento pelo pecado – Jó 4.8
Há a dor para fazer o ímpio se arrepender e ser salvo – Salmo 119.67
Há o sofrimento para disciplina até do crente – Heb. 12.7
Há o sofrimento para prevenir uma queda do salvo – 2 Cor. 12.7
O sofrimento vai promover a santificação – 1. Pedro 4.1
O sofrimento purifica a fé -1 Pedro 1.7
O sofrimento gera perseverança – Tiago 1.3
O sofrimento conduz à perfeição – Hebr. 2.10
O sofrimento nos aproxima dos que sofrem – 2. Cor. 1.4
O sofrimento nos faz semelhantes ao Senhor Jesus – 1 Pedro 4.13
DEUS não desmerece a dor e o sofrimento de seus filhos. Ele usa isso para Seus propósitos que são mais elevados. Na Palavra de DEUS encontramos explicações para o sofrimento. É suficiente substituir o “por que” por um “para que”.

Alguns exemplos de tragédias que geram sofrimento:

Chuvas e inundações provocam desabamentos e um casal perde todos os seus filhos;
A jovem que seguiu para o campo missionário é violentada por malfeitores;
Pais descobrem que seu bebê de poucos meses sofre de uma doença incurável;
Um caminhão desgovernado choca-se com um carro à porta da igreja e mata toda a família;
Um jovem que entra na universidade recebe logo um diagnóstico de leucemia;
A esposa ouve o marido dizer que tem uma amante e assim põe fim a um casamento de 20 anos;

Vem de dentro de nós um clamor: Por que? É um desabafo. É um apelo para que DEUS nos escute, para que nos socorra, para que venha sentar-se ao nosso lado. Queremos chamar a atenção do Criador! Queremos que Ele se apresente a nós e nos dê uma explicação. Fazemos isso porque queremos continuar acreditando nEle… Foi o que fez Jó…

Ezequias Costa


Quebrando o silêncio


1 Tomando a palavra, disse Elifaz de Temã:
2 “Se começarmos a falar contigo, talvez leves a mal, mas quem poderia reprimir o que tenho a dizer?
3 Foste o educador de muitos e revigoraste mãos enfraquecidas; 4 tuas palavras firmaram os que vacilavam e deste força a joelhos inseguros.
5 Agora veio sobre ti a desgraça, e desfaleces; feriu-te, e te perturbas.
6 Não era a tua confiança o teu temor de Deus? e a tua esperança não era a perfeição da tua conduta? A justiça de Deus está fora de dúvida
7 Lembra-te, por favor: acaso já pereceu alguém inocente? ou quando é que os retos foram destruídos? 8 Ao contrário, tenho visto os que praticam a iniquidade, os que semeiam dores e as colhem: 9 esses pereceram ao sopro de Deus e foram consumidos ao ímpeto de sua ira. 10 O rugido do leão e o bramido da leoa, os dentes dos filhotes são quebrados.
11 Morre o leão, porque não há presa, e as crias da leoa se dispersam.
12 A VISÃO DE ELIFAZ: COM DEUS NÃO SE DISCUTE
Entretanto, uma palavra me foi trazida em segredo, e meu ouvido percebeu seu leve sussurro. 
13 No horror da visão noturna, quando o sono domina as pessoas, 14 assaltou-me o medo e o pavor e tremi em todos os meus ossos. 15 Um espírito passou, diante de mim, arrepiando-me os pelos do corpo. 16 Parou alguém, cujo vulto não reconheci, uma visão, diante de meus olhos, e ouvi uma voz, como de brisa leve: 17 ‘Poderia o ser humano ter razão em confronto com Deus, ou seria a criatura mais pura que seu Criador?’
18 Pois até nos seus servos ele não pode confiar, e em seus próprios anjos encontra defeito.
19 Quanto mais aqueles que moram em casas de barro, cujo fundamento está no pó e que se consomem como a traça!
20 Entre a manhã e a tarde serão destroçados e, sem que ninguém perceba, perecerão para sempre.
21 Acaso não se arrancaram as amarras de sua tenda? Morrerão, sem atingir a sabedoria.


Comentário:

1 Os amigos de Jó quebram o silêncio (Capítulos 4 e 5) a que se tinham votado e iniciam uma série de discursos baseados na teologia tradicional da época, cuja tese principal era a seguinte: Só os ímpios sofrem. Se Jó está a sofrer é porque pecou. Assim sendo, precisa de se arrepender e confessar o seu pecado. Se o fizer Deus será com ele. A defesa acalorada que os amigos fazem desta tese leva Jó, não só a rejeitá-la, como a contabilizar mais uma perda: A perda dos seus amigos, com os quais entra em rota de colisão a partir desta altura.

Ludgero Coelho

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A sua cura começa com a sua fala


1 Depois , Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia de seu nascimento. 
2 Assim falou:
3 “Pereça o dia em que nasci, e a noite em que anunciaram: ‘Nasceu um menino!’
4 Esse dia, que se torne em trevas; Deus, do alto, não se lembre dele, e sobre ele não brilhe a luz! 5 Que o obscureçam as trevas e a sombra da morte! Que a escuridão o domine, e seja envolvido pela amargura!
6 Aquela noite… um tenebroso redemoinho a arrase, e não se conte entre os dias do ano, nem se enumere entre os meses!
7 Que essa noite fique estéril e não seja digna de louvor.
8 Que a amaldiçoem os que amaldiçoam o dia, os que estão prontos para despertar Leviatã!
9 Que se obscureçam as estrelas do seu crepúsculo. Essa noite espere pela luz – e a luz não venha, ela não veja as pálpebras da aurora.
10 Pois não fechou a porta do ventre que me trouxe, e não escondeu dos meus olhos tantos males!
11 Por que não morri no ventre materno, ou não expirei logo ao sair das entranhas?
12 Por que em dois joelhos fui acolhido e em dois peitos, amamentado? 13 Pois agora, dormindo, eu estaria calado e repousaria no meu sono, 14 com os reis e governadores da terra, que constroem para si mausoléus, 15 ou com os nobres, que possuem ouro e enchem de prata suas casas. 16 Ou, como um aborto ocultado, eu não existiria, ou como os que, concebidos, nem chegaram a ver a luz. 17 Ali acaba o tumulto dos ímpios, ali repousam os que esgotaram as forças. 18 E os que haviam sido prisioneiros não são mais molestados, nem ouvem a voz do capataz. 19 Ali estão pequenos e grandes, e o escravo está livre do seu senhor. 20 Por que foi dada a luz a um infeliz e a vida, àqueles que têm a alma amargurada? 21 Eles aguardam a morte e ela não vem, e até escavam, procurando-a mais que a um tesouro: 22 eles se alegrariam intensamente, e ficariam muito felizes diante do sepulcro. 23 Por que, então, dar à luz alguém cujo caminho está oculto e a quem Deus cercou de trevas? 24 Em vez de comer, fico suspirando e o meu rugido é como águas de enxurrada. 25 O que eu mais temia, aconteceu comigo; o que eu receava, me atingiu. 26 Não dissimulo, não me calo, não me aquieto: a ira de Deus veio sobre mim!”

Comentário

1. Ao amaldiçoar o seu nascimento e ao lamentar a sua miséria (3:1 e seguintes), Jó fala do que sente, sem a preocupação de filtrar os sentimentos, nem de dizer apenas o que era teológica ou socialmente conveniente. Este é o momento da sua catarse, que de acordo com a psicanálise, consiste na exteriorização verbal, dramática e emocional da dor. Aqui vemos o homem Jó na plenitude da sua humanidade e da sua humilhação. 
2. Jó parece ficar perplexo e confuso acerca de Deus, pela primeira vez na sua vida. Ele sabe que Deus existe, mas não entende o que está a acontecer. Deus é um mistério, porque está envolto em neblina.  

Ludgero Coelho

Ainda continuas na tua integridade?


1 Num outro dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se novamente ao Senhor, entre eles veio também Satanás.
2 O Senhor perguntou a Satanás: “De onde vens?” Ele respondeu: “Acabo de dar umas voltas pela terra”.
3 O Senhor disse a Satanás: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e se mantém afastado do mal. Ele persevera em sua integridade. Tu, porém, me atiçaste contra ele, para eu o afligir sem motivo”.
4 Satanás respondeu ao Senhor: “Pele por pele! Para salvar a vida, o homem dá tudo o que tem.
5 Mas estende a tua mão e fere-o na carne e nos ossos, e então verás se ele não vai maldizer-te na cara!”
6 –“Pois bem, disse o Senhor a Satanás, faze o que quiseres com ele. Somente poupa-lhe a vida”.
7 Satanás saiu da presença do Senhor e feriu Jó com chagas malignas, desde a planta dos pés até o alto da cabeça.
8 Então Jó, sentado no meio do lixo, raspava o pus com um caco de telha.
9 Foi quando sua mulher lhe disse: “Ainda continuas na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de uma vez!”
10 Ele respondeu: “Falas como uma insensata. Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males?” E apesar de tudo, Jó não pecou com seus lábios.
11 CHEGADA DOS TRÊS AMIGOS
Ora, três amigos de Jó ficaram sabendo de todas as desgraças que o tinham afligido e vieram, cada um do seu lugar. Eram eles: Elifaz de Temã, Bildade de Suás e Zofar de Naamat, os quais combinaram vir juntos para visitá-lo e trazer-lhe consolo.
12 Quando levantaram os olhos, a certa distância, custaram a reconhecê-lo. Em alta voz começaram a chorar, rasgaram suas vestes e lançaram poeira para o céu, sobre as cabeças.
13 Sentaram-se no chão ao lado dele por sete dias e sete noites, sem dizer-lhe palavra, pois viam como era atroz a sua dor.

Comentário:

1. Jó perdeu os filhos, os milhares de animais que possuía, os bens materiais que constituíam a sua riqueza, a saúde e …perdeu também a apoio da mulher (2:9). Eis algumas teorias explicativas da reação da mulher de Jó: 
· Ela não era feita da mesma fibra do marido. A sua fé estava nas coisas. 
· Conhecendo o marido como conhecia, achava que Deus tinha sido injusto para com ele. A sua desilusão era imensa. 
· Quando as pessoas estão em estado de choque, podem dizer coisas que nunca diriam numa situação normal. 
· Ao ver o marido naquele sofrimento, talvez preferisse que Deus o levasse do que deixá-lo sofrer assim. No seu amor pelo marido, preferia perde-lo, do que tê-lo em tão grande sofrimento. 
· Precisamos de tentar colocar-nos no seu lugar para a compreender. 
2. Ao rejeitar a sugestão da mulher, Jó reafirma a sua fidelidade ao Senhor e passa no segundo teste (2:10). 
3. Os três amigos de Jó vieram com dois propósitos: Para condoer-se dele e consolá-lo (2:11). Condoer, significa doer com o outro, isto é, sentir empatia.
4. Os amigos de Jó não vinham preparados para o choque de ver o amigo transformado num farrapo humano, por isso “…não o conhecendo, levantaram a voz e choraram…” (2:12) 8. Os amigos de Jó depressa reconheceram a sua incapacidade para o consolar e por isso durante 7 dias e 7 noites permaneceram em silêncio, “…porque a dor era muito grande” (2:13). Esta foi uma atitude louvável, distinta daqueles que têm sempre respostas para tudo e que dominam bem a arte de espiritualizar. O silêncio significa respeito pela dor. Uma dor que não era apenas física, mas sobretudo uma dor interior: a dor da alma.

Ludgero Coelho

domingo, 22 de fevereiro de 2015

É sem motivo, que Jó teme a Deus?


Havia na terra de Us um homem chamado Jó: era íntegro e reto, temia a Deus e mantinha-se afastado do mal.
2 Tinha sete filhos e três filhas.
3 Possuía também sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas jumentas, e servos em grande quantidade. Era, pois, o mais rico entre todos os habitantes do Oriente.
4 Seus filhos costumavam dar festas, um dia em casa de um, outro dia em casa de outro. E convidavam suas três irmãs para comerem e beberem com eles.
5 Terminados os dias de festa, Jô mandava-os chamar para orar por eles. De manhã cedo ele oferecia um holocausto na intenção de cada um, pois dizia: “Talvez meus filhos tenham cometido pecado, maldizendo a Deus em seu coração”. Assim costumava Jô fazer todos os dias.
6 PRIMEIRA SÉRIE DE PROVAÇÕES
Um dia, foram os filhos de Deus apresentar-se ao Senhor. Entre eles, também Satanás.
7 O Senhor disse, então, a este: “De onde vens?” – “Acabo de dar umas voltas pela terra”, respondeu ele. 
8 O Senhor disse-lhe: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto, teme a Deus e afasta-se do mal.”
9 Satanás respondeu ao Senhor: “É sem motivo, que Jó teme a Deus?
10 Não levantaste um muro de proteção ao redor dele, de sua casa e de todos os seus bens? Abençoaste as obras de suas mãos, e seus bens cresceram na terra.
11 Estende, porém, um pouco a tua mão e toca em todos os seus bens, para ver se não te lançará maldições na cara!”
12 Então o Senhor disse a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está a teu dispor. Contra ele mesmo, porém, não estendas a mão”. E Satanás saiu da presença do Senhor.
13 Ora, num dia em que seus filhos e filhas comiam e bebiam na casa do irmão mais velho,
14 um mensageiro veio dizer a Jó: “Os bois estavam lavrando e as mulas, pastando a seu lado, 15 quando, de repente, apareceram os sabeus e roubaram tudo, passando os criados ao fio da espada. Só eu escapei, para trazer-te a notícia”.
16 Estava este ainda a falar, quando chegou outro e disse: “Caiu do céu o fogo de Deus e matou ovelhas e pastores, reduzindo-os a cinza. Só eu consegui escapar para trazer-te a notícia”. 17 Este ainda falava, quando chegou outro e disse: “Os caldeus, divididos em três bandos, lançaram-se por sobre os camelos e os levaram consigo, depois de passarem os criados ao fio da espada. Só eu escapei, para trazer-te a notícia”.
18 Este ainda falava, quando chegou mais outro e disse: “Teus filhos e tuas filhas estavam comendo e bebendo na casa do irmão mais velho, 19 quando um furacão se levantou das bandas do deserto e sacudiu os quatro cantos da casa. E ela desabou sobre os jovens e os matou. Só eu escapei, para trazer-te a notícia.”
20 Então Jó levantou-se, rasgou as vestes, rapou a cabeça, caiu por terra e, prostrado, em adoração, falou: 21 “Nu, saí do ventre de minha mãe e nu, voltarei para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou; como foi do agrado do Senhor, assim aconteceu. Seja bendito o nome do Senhor!”
22 Apesar de tudo, Jó não pecou com seus lábios, nem disse coisa alguma insensata contra Deus.

Comentário:

O livro de Jó é considerado um poema universal que trata da dor e do sofrimento humano, bem como da angústia perante a realidade da morte, interligada com o papel de Deus em toda a complexidade deste drama. Assim se explica, não só a sua profunda atualidade, mas também o facto de ser um dos livros mais lidos pelos crentes, quando estão doentes e precisam de encontrar respostas para as suas dúvidas existenciais. Por um lado, a mensagem deste livro mostra a insuficiência do pensamento humano para compreender o sofrimento, mas por outro lado, apresenta uma alternativa ao desespero, que é a fé e esperança em Deus. 
Como disse Pascal, no coração humano há um vazio com a forma de Deus, isto é, há um vazio que só Deus pode preencher. 
1. A figura central do livro:
Jó, tem quatro qualidades essenciais ( 1:1) 
· Era sincero 
· Era recto 
· Era temente a Deus e 
· Desviava-se do mal 
2. Satanás é apresentado com as seguintes características: 
· Satanás anda misturado com os filhos de Deus (1:6) 
· Satanás anda muito ativo (1:7) 
· Satanás observa os crentes (1:8) 
· Satanás tem uma velha profissão: Acusar e lançar a dúvida (1:9-11) 
3. Quando Jó recebeu as notícias sobre a dimensão da tragédia, que se tinha abatido sobre a sua família e bens não se revoltou, nem questionou Deus. Simplesmente, adorou (1:20). Jó passou no primeiro teste. 4. Jó perdeu os filhos, os milhares de animais que possuía, os bens materiais que constituíam a sua riqueza, a saúde e …perdeu também o apoio da mulher (2:9). 

Ludgero Coelho