terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

“Foi uma aposta?”


(01) O livro de Jó, que se propõe a decifrar o enigma do Mal, tenta resolver um problema mas acaba criando outro. Temos a impressão que o livro descreve uma aposta. Aposta escandalosa. Em algum lugar do universo, DEUS e o diabo se encontram. Eles começam a conversar e as atenções se voltam para Jó. Os dois tem opiniões diferentes a respeito desse homem:

o Senhor o vê com um servo leal
para o diabo Jó não passa de um interesseiro.
Para saber quem está com a razão, resolvem submete-lo a um teste. Fazem isso arruinando a vida daquele homem.
(02) Esse início chocante tem levantado sérias dúvidas quanto a inspiração do livro de Jó. Também o livro tem alimentado questões sobre o caráter de DEUS.

Que DEUS é esse que se deixar levar pelas provocações de Satanás?
Como pode o Todo-Poderoso ser alguém tão mesquinho que, a fim de vencer uma disputa, jogue com a vida das pessoas como se fossem robôs?
É correto reverenciar um DEUS assim?
É possível confiar nesse DEUS?
(03) Essa inquietação é fruto de uma análise precipitada. Há muitos que incorrem no erro de fazer uma leitura superficial de Jó. Até intelectuais famosos, como o psicólogo Carl Jung, caíram nessa armadilha.

“Não é um espetáculo digno ver como tão rapidamente o Senhor abandona seu serviço fiel e o entrega o espírito mau. E com que despreocupação e falta de cuidado deixa Jó cair no abismo do sofrimento, físico e moral”
Vejo um DEUS que joga com a vida de suas criaturas, diz o psicólogo.
(04) Se o livro de Jó fosse um jogo, esse jogo já terminaria no capítulo 2. O patriarca passa imediatamente no teste. Ele se solta dos ataques malignos com muita facilidade. Ainda que Satanás lhe arranque os bens, a família, a reputação e a saúde, não consegue todavia arrancar-lhe a fé. Ele não se revolta em momento algum. Não blasfema contra DEUS. Não reclama das calamidades. Permanece fiel ao Senhor e prova que a sua devoção era sincera.
(04) Vejam que Satanás some no final do capítulo 2. Ele não tem mais nada a fazer. Não tem mais nada a dizer. Foi derrotado de forma definitiva e vergonhosa. Tornou-se um personagem dispensável para a continuação da história. Resta a Satanás se retirar com o rabo entre as pernas, e desaparecer. E é isso exatamente que ele faz.
(05) Então por que o livro não termina na Introdução? Por que o livro se estende por páginas e mais páginas. Se o enredo do livro fosse somente a disputa entre DEUS e o diabo, seria lógico se esperar sua conclusão: DEUS ganhou! Satanás perdeu… Jó passou no teste. DEUS poderia procurar seu servo fiel e explicar-lhe o acontecido, cobrindo em seguida de bênçãos a fim de recuperar suas perdas. Mas não é o que acontece. Sabemos que, quando o capítulo 2 termina, a história mal está começando…
(06) O que lemos nos 2 primeiros capítulos do livro de Jó não é uma aposta. Algo muito mais sério acontece ali. Se quisermos interpretar corretamente o texto precisamos sempre nos lembrar disso.

Ezequias Costa

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