quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Cantinho do Flavio - Oportunidades desiguais?

“Será que todas as pessoas tem de fato as mesmas oportunidades? Ou algumas tem mais sorte do que outras?”
O que são “oportunidades”?
Chances de ganhar dinheiro, frequentar uma escola, ter um trabalho, uma casa, uma família? “Oportunidades” tem a ver com alegrias, conforto e promoção profissional?
Se oportunidade for isso eu digo que não, nem todos tem as mesmas oportunidades.
Tem gente que nasce pobre, doente, exposto a misérias, situações difíceis de superar. Há os que nascem com deficiência física, mental, com saúde debilitada, sem acesso ao estudo, muitas vezes sem acesso ao amor de um pai ou uma mãe.
É claro que esses terão menos “oportunidades” na vida, é claro que para eles o caminho será mais tortuoso, mais difícil.
Há os que pensam ser “provação”, um carma ou quem sabe lições – pesadíssimas lições – onde alguns “aprendem” com a dor. Conheço nossa tendência em querer respostas prontas e fáceis, fórmulas que nos anestesiem a consciência diante da miséria e da injustiça, mas não vou por esses caminhos. Também não vou falar sobre a desigualdade que poderia ser evitada se tivéssemos políticos que pensassem em algo além de sua conta bancária.
Sinto que há algo além… Quando me afasto um pouco do quadro e tento entender como essas dinâmicas acontecem na vida de maneira geral, constato que em um mesmo jardim há inço e flores, que em uma mesma fazenda há animais domésticos e para o abate, que há dias de sol e calor, tempestades de neve e vendavais, aliás, não preciso ir longe para perceber em mim luz e trevas, percepções fantásticas convivendo com sentimentos mesquinhos, eternidade e finitude, vida e morte habitando uma consciência parcial com lampejos de alguma abrangência.
Diante da ambivalência da vida, das minhas próprias, resta a constatação de que cada um vive suas próprias oportunidades e, sobretudo, que nem eu nem você sabemos de fato o que significa “oportunidades”.
Estamos experimentando, cada um em sua própria realidade, uma oportunidade única de ser humano, no seu contexto, em suas próprias alegrias e sofrimentos, com todas as facilidades e dificuldades que nos tocam, que nos fazem, que nos mudam e nos moldam.
As aparentes disparidades da natureza geram equilíbrio, toda a vida é repleta de luz e sombras, alegrias e tristezas, saúde e doença em um corpo finito que abriga uma consciência eterna.
Olhando com abrangência, percebo que oportunidades não são necessariamente o que pensamos, mas a conexão entre experiências, todas elas, de todos, sejam “boas” ou “más”, “justas” ou “injustas” a soma de tudo o que somos individualmente e vivemos coletivamente, eu, você e todos, ainda que doa, ainda que seja difícil e que não tenhamos nenhum controle sobre o processo inteiro.
Não sei o que são de fato “oportunidades”, mal reconheço as minhas próprias, por isso, resta o mistério e o claro sentimento de que no fim das contas tudo caminha para onde deve estar, que a vida não é fixa, que todos podem criar suas próprias oportunidades, não necessariamente para ter, mas, sobretudo para ser. Portanto trabalhemos, cada um de nós, pelas oportunidades, as que estão acima das contingencias, as que vivem em cada humano como potencial único, as que se renovam a cada manhã.
Sinto que não posso ir além, mas para mim já é suficiente.

Flavio Siqueira