quarta-feira, 18 de março de 2015

Um coração puro não deve temer nenhum exame minucioso!


Que Deus me pese numa balança justa
1 “Eu jurei que os meus olhos nunca haveriam de cobiçar uma virgem.
2 Se eu tivesse quebrado o juramento, que recompensa Deus me daria, e como é que lá dos céus o Todo-Poderoso me abençoaria?
3 Pois Deus manda a infelicidade e a desgraça para aqueles que só fazem o mal.
4 Deus sabe tudo o que eu faço; ele vê cada passo que dou.
5 “Juro que não tenho sido falso e que nunca procurei enganar os outros.
6 Que Deus me pese numa balança justa e ele ficará convencido de que sou inocente!
Nunca cobicei, nem adulterei
7 “Se por acaso me desviei do caminho certo, se o meu coração foi levado pela cobiça dos olhos,
se pequei, ficando com qualquer coisa que pertence a outra pessoa, 8 então que outros comam o que eu semeei, ou que as minhas plantações sejam destruídas.
9 Se o meu coração alguma vez foi seduzido pela mulher do meu vizinho, e se fiquei escondido,  espiando a porta da casa dela, 10 então que a minha mulher se torne escrava de outro, e que outros durmam com ela.
11 Se eu tivesse cometido esse crime horrível, o tribunal deveria me condenar.
12 Esse pecado seria como um incêndio terrível, infernal, que destruiria tudo o que tenho.
Sempre fui justo e caridoso
13 “Quando um empregado ou empregada reclamava contra mim, eu resolvia o assunto com justiça.
14 Se eu não tivesse agido assim, que faria quando Deus me julgasse? Que responderia, quando ele pedisse conta dos meus atos?
15 Pois o mesmo Deus que me criou, criou também os meus empregados; ele deu a vida tanto a mim como a eles.
16 “Nunca deixei de ajudar os pobres, nem permiti que as viúvas chorassem de desespero.
17 Nunca tomei sozinho as minhas refeições, mas sempre reparti a minha comida com os órfãos.
18 Eu os tratava como se fosse pai deles e sempre protegi as viúvas.
19 Quando via alguém morrendo de frio por falta de roupa ou notava algum pobre que não tinha com que se cobrir, 20 eu lhe dava roupas quentes, feitas com a lã das minhas próprias ovelhas,
e ele me agradecia do fundo do coração.
21 Se alguma vez fui violento com um órfão, sabendo que eu tinha o apoio dos juízes, 22 então que os meus braços sejam quebrados, que sejam arrancados dos meus ombros.
23 Eu nunca faria nenhuma dessas coisas, pois tenho pavor do castigo de Deus e não poderia enfrentar a sua presença gloriosa.
Nunca fui infiel a Deus
24 “Jamais confiei no ouro; ele nunca foi a base da minha segurança.
25 Nunca me orgulhei de ter muitas riquezas, nem de ganhar muito dinheiro.
26 Tenho visto o sol brilhar e a lua caminhar em toda a sua beleza, 27 porém nunca os adorei, nem em segredo, e não lhes atirei beijos com a mão.
28 Se tivesse cometido esse terrível pecado, eu teria sido infiel a Deus, que está lá em cima,
e o tribunal deveria me condenar.
Nunca fui vingativo, nem sovina, nem hipócrita
29 “Jamais me alegrei com o sofrimento dos meus inimigos, nem fiquei contente se lhes acontecia alguma desgraça.
30 E nunca fiz uma oração pedindo a Deus que matasse algum deles.
31 “Os empregados que trabalham para mim sabem que os meus convidados comem à vontade, do bom e do melhor.
32 Nunca deixei um estrangeiro dormir na rua; os viajantes sempre se hospedaram na minha casa.
33 Jamais procurei encobrir as minhas faltas, como fazem algumas pessoas, nem escondi no coração os meus pecados.
34 Nunca tive medo daquilo que os outros poderiam dizer; não fiquei dentro de casa, calado,
com receio de que zombassem de mim.
Aqui termino a minha defesa
35 “Como gostaria que alguém me ouvisse! Aqui eu termino e assino a minha defesa;
que o Todo-Poderoso me responda! Que o meu Adversário escreva a acusação, 36 e, com orgulho, eu a carregarei no ombro e a porei na cabeça como se fosse uma coroa!
37 Darei conta a Deus de todos os meus atos e na presença dele ficarei de cabeça erguida.
38 “As minhas terras nunca choraram, nem gritaram ao céu contra mim.
39 Pois, se comi os seus frutos, sempre paguei os trabalhadores como devia e jamais deixei que morressem de fome.
40 Se não estou dizendo a verdade, então que nas minhas terras cresçam espinhos em vez de trigo
e mato em vez de cevada.”
Aqui terminam as palavras de Jó.


Comentário:

Este capítulo é a conclusão final do discurso de Jó. Ele mantém sua integridade até o fim. Aqui ele a defende através de uma variedade de detalhes. Ele fala de pelo menos 12 indicações que provam que ele não era culpado, e das quais sua consciência não o condenava.

1. Lascívia, v. 1-4

v. 1 Pureza interior. Antes de Mateus 5, a humanidade já sabia que a lascívia é um pecado! Jó reconhecia a espiritualidade da lei escrita em seu coração, antes mesmo de ser oficialmente entregue no Monte Sinai! Nossa sociedade, tão repleta e patrocinadora da pornografia, necessita deste ensino!

- Pensamentos impuros: o pecado começa aqui. O que pensamos é tão importante quanto o que fazemos. O que pensamos determina nossas ações. Semeie um pensamento e você colherá uma ação, semeie uma ação e você colherá um hábito, semeie um hábito e você colherá um caráter, semeie um caráter e você colherá um destino. (Bob Gray)

- Note a conexão entre os olhos e os pensamentos. Se você quer evitar pensamentos de lascívia, mantenha seus olhos sob vigilância. Tome a atitude prática de arrancar um olho e atirá-lo para longe. O pecado deve morrer de inanição. Thomas, 239-240.

v. 2 “Deus não honrará tal pecado”. Como podemos evitar o pecado e a tentação, tanto quanto possível? Temendo a Deus! Esta atitude nos preserva de pecados íntimos. Henry: “Vergonha e senso de honra podem restringi-lo de aliciar a pureza de uma virgem, mas somente a graça e o temor de Deus é que o levaria a não cometer e nem pensar em tal ação.” Como José, entenda que isso é um pecado contra Deus! V. 4 também. Assim como 1: 1, 8-9; 2: 3.

v. 3 Há um preço a ser pago pelo pecado, algumas vezes nesta vida, porém, nunca escaparemos de prestar contas na vida futura. Portanto, evite qualquer coisa que o leve a pecar (como a lascívia).

2. Engano, fraude, v. 5-8

v. 5 – 6 Autoimprecação (clamar por castigo). “Que eu seja castigado”

v. 7 – 8 Note o progresso: olhos, coração, pés. OBS:O contrário disso: nosso coração governa nossos olhos, como no verso 1.

Mais Autoimprecação: “Que eu receba o mesmo tratamento.”

3. Adultério, v. 9-12

Ou por ser tentado (v. 9a), ou por ser um tentador (v. 9b).

v. 10 Mais Autoimprecação. “Que eu receba o mesmo pagamento em troca”. Eufemismo.

O que faz alguém evitar esse pecado vergonhoso? V. 11-12 O temor de ser punido pelos juízes humanos, e muito mais por Deus. Provérbios 5 – o caminho do inferno (versus casamento feliz).

4. Oprimir os servos, v. 13-15

v. 13 Injustiça

v. 14 “Eu tenho um Senhor!”

v. 15 “Todos teremos que responder a Ele.” Mais uma vez, o temor de Deus é que funciona como prevenção! Compare Efésios 6: 9.

- Como pessoas, somos iguais diante de Deus. Ele não faz acepção de pessoas.

- Não devemos ser altivos, nem preconceituosos, julgando pelas aparências.

5. Falta de compaixão pelo fraco e necessitado, v. 16-23

Ex: pobres, viúvas e órfãos. Jó fora acusado deste pecado, 22: 6-9.

v. 16 Nenhuma destas pessoas, nessa situação, deixou de ser ajudada quando vieram a Jó. Ele lhes deu: comida (v. 17), casa (v. 18) e roupas (v. 19-20).

- Devemos ter consideração, compaixão e generosidade pelas pessoas. (Mas aqueles que são preguiçosos e ociosos, não devem receber ajuda, 30: 1).

v. 21 – 22 Autoimprecação: “Se não estendi os meus braços de misericórdia, então que eles sejam destruídos.”

v. 23 Motivo: temor de Deus. Ele é quem nos dá todas as coisas; Ele é quem não nos coloca da posição de um necessitado.

6. Ambição, v. 24-25

Cobiça. Alguns amam tanto o dinheiro, que isso se torna como uma pessoa para eles, pois falam com ele! v. 24. Ele facilmente se torna um objeto de adoração. I Timóteo 6: 17. Senso de autosuficiência e satisfação, como o rico tolo, v.25. Quantos assumem que a prosperidade terrestre lhes assegurará prosperidade celestial!

Mamom versus contentamento.

7. Idolatria, v. 26-28

Adorar o sol e a lua, v. 26. Coração idólatra, v. 27 (beijar a mão é uma pratica das religiões pagãs).

v. 28 Prevenção: temor a Deus.

8. Vingança, v. 29-31

- Nossa atitude para com nossos inimigos fala muito a nosso respeito. Devemos amá-los! – Mateus 5: 44. Os inimigos de Jó se regozijaram da sua destruição (30: 1, 9).

v. 31 “Não deixei aqueles que estavam próximos a mim me incitarem contra os meus inimigos”. Isso ocorre com freqüência!

9. Falta de hospitalidade, v. 32

Outro dever Neotestamentário: Romanos 12: 12; I Pedro 4: 9; anciãos I Timóteo 3: 2; Tito 1: 8. Falhar nisso é pecado. A consciência de Jó não o condenava. E quanto a sua?

10. Conspiração, v. 33

Ex: encobrir, como Adão fazê-lo. OBS: Todos somos naturalmente hipócritas! Como Adão, nós naturalmente culpamos alguém mais!

Note a autenticação de Gênesis 3 sobre a queda do homem.

11. Covardia, v. 34.

Capítulo 29: 17.

12. Exploração, v. 38-40

Negócios injustos. Até mesmo o uso impróprio da terra! (Comp. Tiago 5: 4)

v. 39 Como Acabe fez com Nabote (I Reis 21)

v. 40 Autoimprecação. “Que a maldição não seja perdoada pela graça.”

Parentético; V. 35-37 Desejo de um julgamento, restituição da justiça, de um veredicto. “Ter uma audiência. Estar defronte de um juiz. Deixar que o acusador trouxesse por escrito suas acusações (v. 35). Eu não tentaria ocultar estas falsas acusações, antes consideraria uma honra torná-las públicas, de tão tolas que são! (v. 36). Eu corajosamente me dirigiria ao tribunal com uma consciência limpa. Eu traria por escrito a minha própria defesa (v. 35 desejo = assinatura; confissão de inocência).”

- A linguagem aqui me faz lembrar o evangelho! Apresentamo-nos diante de Deus como príncipes, nos aproximando com coragem. É o trono da graça! Tudo isso porque Cristo se aproximou do trono da justiça com as nossas acusações escritas contra Ele, as quais Ele realmente levou sobre os seus ombros (na forma de uma cruz) e como uma coroa (de espinhos)!

- Como Jó nós podemos nos chegar com confiança e coragem, sabendo que ninguém pode fazer qualquer acusação contra os escolhidos de Deus! Através da justiça de Cristo, nós podemos dizer: Quem dentre vós me convence de pecado? (João 8: 46).

Observe:

1. Toda a nossa vida deve ser vivida para Cristo. Governada pelas escrituras. Todo pensamento deve ser levado cativo a obediência de Cristo (II Coríntios 10: 5). Nenhum tempo ou ocasião dedicado ao pecado! Obediência perfeita a um Deus perfeito! Durham: “Sofra no exercício da santidade. Jó estava sob um pacto de graça, assim como você, e ainda assim quão perfeito ele era em seu caminhar.”

2. O temor de Deus nos preserva de muitos pecados íntimos. Embora a justiça de Cristo seja a base do nosso relacionamento com Deus, ainda assim Deus recomenda aos cristãos que evitem pecados internos e externos (como em 1: 1).

3. Pureza de coração é até aqui, outro incentivo em si mesmo para se permanecer puro: “Eu tenho até aqui seguido a Deus tão cuidadosamente...como eu poderia agora me voltar para o caminho do pecado?!”

4. Um coração puro não deve temer nenhum exame minucioso!

5. Há uma ocasião apropriada para limpar seu nome e defender a sua reputação. Peça a Deus que lhe dê sabedoria para isso. Assim como há uma ocasião apropriada para simplesmente deixar que Deus limpe o seu nome.

Pergunta: Jó foi muito longe ao fazer a sua autodefesa?

A. Sim. Ele parece um tanto confiante, quase vaidoso, no vs. 35-37. (nem todos os escritores concordam com isso). Ele parece dizer: “Que venha o julgamento. Eu mais pronto do que nunca.!” Ele não iria mais tarde se lamentar por tais palavras? Eliú, nos próximos capítulos, por acaso não fará menção destas palavras? Se isto é certo, vamos tomar muito cuidado para não ir muito longe tentando nos defender, a fim de silenciar nossos críticos. (Jó paga o preço por tentar silenciá-los! Ele precisava reprovar a si mesmo!)

Vamos ser cuidadosos em não desenvolver um comportamento arrogante sobre o julgamento. Ex: “Eu o verei no dia do julgamento!”

Conclusão:

V. 40b. As únicas palavras de que Jó se arrepende e confessa.

Daniel A. Chamberlin