segunda-feira, 5 de outubro de 2015

E se eu morrer amanha?

Vou chorar....
Por não ter te tocado
Por não ter ficado ao teu lado
Por ter me calado

Vou sofrer...
Por não ter te abraçado
Por fazer do meu silêncio
Meu maior inimigo
E não ter te explicado.

Vou sentir a minha dor
Por ter passado pela a vida
E não ter vivido esse novo amor

Vou viver, mais um dia...
Com a tua ausência... a sonhar
Sabendo que em outra vida
Irei te encontrar.

Pois, se eu morrer amanhã...
Sem ver a luz do amanhecer
Saiba que o meu maior sonho
Foi um dia em teus braços adormecer.

Rosa Soares



O MUNDO INVISÍVEL DE UMA MULHER - Página 4

As dores aumentando, pedimos ao médico ajuda, ele precisava descansar e eu também. Fomos juntos ao hospital, ele queria vê-lo, conversamos, contamos tudo o que estava acontecendo e ele nos deu uma receita de um sedativo... Chorando falei que não ia  adiantar, eu já conheço as reações só vai deixa-lo mais agitado. Ele respondeu que fazia cirurgias com o uso daquele medicamento. Sem ter mais como argumentar, afinal de contas ele era o médico, passamos na farmácia, compramos e fomos para casa. Como sempre respeitando os horários aguardei o tempo certo para medica-lo, como eu previa, não fez efeito, e pra ser sincera piorou a minha situação, pois ele realmente ficou mais agitado.
Eu a esta altura sem forças, contratei nesta noite uma pessoa para me ajudar, pois temia desmaiar, meu corpo exausto já não aguentava mais. E mais uma noite passamos em claro, tentei me esconder, coloquei um travesseiro debaixo da mesa e deitei, enquanto a moça fazia companhia e conversava com ele, ele perguntava e chamava por mim. Eu, em lágrimas sai de onde me escondia o abracei e disse: eu estou aqui. Vejo os olhos dele agora brilhando quando me viu. A cena se repete em minha memória.
O dia amanhecendo e a dor piorando, neste dia a dor era no peito, exatamente onde estava o aparelho da quimioterapia. Ele gritava, eu entrei em pânico sem conseguir ligar para o médico, desesperada acabei conseguindo e ele mandou que eu o internasse imediatamente. Chamei um táxi, eu não dirigia, ele já não conseguia mais andar, agressivo, efeito do remédio, demos entrada no pronto socorro e levaram-no direto para a UTI, eu aguardava sentada no jardim. Horas depois uma médica saiu da sala e disse-me: “fizemos tudo o que podíamos, agora está nas mãos de Deus”. Lembro que liguei pra minha irmã e a única coisa que eu conseguia dizer era, ele está morrendo...
Horas se passaram, ele começou a reagir, algumas vezes eu levantava e ia até a porta, com as entradas e saídas dos médicos, parecia uma cena de um filme, vi quando tentavam reanima-lo com choques.
A eternidade bateu em minha porta naquele momento, eu ainda não conhecia o sentido real dessa palavra.
Ele reagiu, mas quando subiram as máquinas o acompanhou, ele apenas mudou de quarto. Internado na UTI Cardiológica, ficando lá vinte e poucos dias, foi quando a irmã dele, o cunhado e a minha irmã vieram ficar comigo.
Já não sabia que dia era da semana, do mês nem em sonho, pude deitar o meu corpo.
Os horários das visitas eram controlados e eu sentia uma grande tristeza ao deixa-lo, e ao mesmo tempo alívio, pois eu já não aguentava mais o nosso sofrimento... Sim, não tenha duvidas, literalmente morremos juntos.
Um dia no final da nossa visita, o médico chefe do plantão me chamou e disse que eu teria que tomar uma decisão, teria que escolher um dos dois procedimentos, pois ele não sairia mais de lá. A Traqueostomia ou a intubação, o chão desapareceu debaixo dos meus pés, não sabia o que fazer, chamei a minha irmã e a minha cunhada e fui atrás do médico dele, quando entrei na sala, ele já estava me esperando e sabia o que estava acontecendo, nos perguntou o que tínhamos resolvido... fiquei muda, e a minha cunhada respondeu, Rosinha que tem que decidir ( é assim que ela me chama), é a mulher dele. Não podemos jogar esse peso nas costas dela, ele disse e continuou,  ela não tem que decidir nada, mas como é ela quem mais o conhece aqui, ela vai me dizer qual era a vontade dele. E a imagem me veio, de quando estávamos indo para o escritório, ele não mais falou em ser enterrado no túmulo da minha família, com os olhos lacrimejando,  ele me disse: não me deixe dependendo de máquinas para viver e por último, tenho medo de ser enterrado vivo, benhê posso te pedir mais uma coisa? Deve ser caro, mas se eu morrer você me crema? Retornei das minhas lembranças, e a decisão já estava tomada, seda-lo e esperar o momento, num ato de desespero perguntei, Doutor mas Deus ainda pode fazer um milagre não pode? Ele respondeu,  sim, nós é que nada mais podemos fazer, mas Ele pode tudo.
Dia 24 de setembro de 2013, eu já não tinha mais forças, já não suportava vê-lo daquela maneira, mesmo sedado conversava com ele, lágrimas caiam me dando a certeza que ele me ouvia enquanto eu dizia, benhê, nossa história não acabou, e nem acabará aqui.
Neste dia desci, tirei um café na máquina e sentei no chão em frente ao pronto socorro do hospital, acendi um cigarro e ali começou a minha conversa com Deus, onde questionei o seu amor, será que Ele não enxergava o sofrimento desse filho que Ele tanto amava? Se enxergava e amava por que deixa-lo daquela maneira, se era por minha causa e por causa dos meus pedidos, eu estava abrindo mão, em voz alta disse, chega, pode levar...
No dia 25 chegamos mais cedo para a visita, mas não aconteceu, já me aguardavam médicos, psicólogo, levaram-me para uma sala e me disseram a hora do óbito e como aconteceu. Não ouvi uma palavra, apenas lembrei do fato do dia anterior, da nossa conversa, sim, eu e Deus, pensei, foi um monólogo, mas Ele me ouviu...



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