quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Tudo o que você já sabe.


Sei que você sabe muitas coisas.
Sabe que bem e mal moram dentro da gente, que os acontecimentos não carregam nada que não seja projeção do nosso olhar. Já escrevi muito sobre isso.
Provavelmente você já leu muitos textos meus – e de outros – falando sobre o agora, o dia chamado hoje, o passado miragem, futuro ilusão e sobre a necessidade de despertarmos, enxergarmos no cotidiano, no simples, na vida, hoje, agora, as respostas que tantas vezes projetamos lá longe, distante, inacessíveis, inalcançáveis.
Eu quase apostaria que não será nenhuma novidade, nada novo, nada inédito para você, se me ouvir falar sobre nossa tendência para autossabotagem, nossa dificuldade em aceitar que geralmente aquilo que mais tememos, aquilo que nos amedronta e desgasta, é só uma ameaça, um ruído que não existiria se desistíssemos de acreditar em todas as fantasias sopradas por nossas mentes impressionadas, apequenadas, restritas no tempo e espaço.
Não sou o primeiro, o único, nem o último a dizer que o mundo lá fora reflete o mundo aqui dentro, que nossos corpos são fronteiras entre as paisagens impermanentes e as atemporais, entre projeções e significados, entre o que parece e o que é.
Quando estamos em paz, a paz se projeta como realidade, cala ruídos, reverte tragédias.
Você sabe muitas coisas, nenhuma dessas é novidade, sei disso.
Mas também sei que as vezes a gente se esquece, que, de vez em quando, só vemos o que incomoda, que há momentos que o dia parece ter virado “dia mau”.
Quando é assim, não custa lembrar, ainda que, repetitivo, escreva de novo só para reforçar, cessar a angustia e dizer mais uma vez tudo o que sei que você já sabe.

Flavio Siqueira

MUNDO INVISÍVEL - Os Esquecidos


Olhares distantes e desprovidos de esperança. Caminhantes sem destino, perdendo o passado e a esperança em um futuro. Pessoas duplamente esquecidas. Uma vez pela sociedade, com raríssimas exceções e infelizmente não tenho ultimamente me incluído nestas exceções. Outra vez esquecidos por eles mesmos, pois muitos já não se lembram mais da sua própria essência. Quem são? São os chamados moradores de rua, outros de mendigos, mendicantes ou pedintes. Quem sabe, conforme o olhar do observador, caso este observe, alguns sejam chamados de vagabundos, bêbados ou viciados.
Notamos suas expressões de angústia e desolação pelas ruas, pelos prédios abandonados e esquinas. Nas praças das cidades cheias de gente e vazias de emoção. Notamos uma provável tristeza ou sintomas de um quadro avançado de depressão. Outros nos surpreendem com uma força, uma vitalidade e uma aparente alegria fugaz.
São histórias desconhecidas por todos, ou quase todos. São filhos abandonados. Pais ou mães desprezados. Viciosos cujos familiares desistiram de lhes salvar, ou não puderam salvar. Quem sabe deixaram para um dia que nunca parece chegar. Muitos tiveram suas famílias ou seus empregos, mas as famílias se diluíram em um oceano de problemas insolúveis, e seus empregos se perderam no tempo. Alguns até trabalham de forma digna em subempregos que não são dignificantes.
Passamos por eles, e se prestarmos a devida atenção, quem sabe possamos imaginar suas dores ou seus dramas. Em alguns casos estendemos as mãos com algumas moedas, ou quem sabe algum alimento para o corpo físico, no intuito inócuo de fazer o bem, e mais ainda para aliviar um pouco nosso próprio sentimento de culpa, oculto e desconhecido. Muito raramente paramos para ver nos seus olhos, perguntar-lhes os nomes, de onde vieram e sem possuem familiares. Como chegaram a tal ponto de degradação humana? Seria extremamente constrangedor perguntar-lhes para onde pretendem ir, pois certamente não o sabem.
A grande massa desses maiores abandonados ultrapassou os máximos limites da miserabilidade. Eles simplesmente desistiram de viver e andam por aí carregando ou arrastando suas vidas, esperando um final, um triste final. Alguns invadiram o terreno instável, obscuro e doloroso da insanidade e da loucura, perdendo-se em devaneios, sendo vistos como loucos ou doentes sem tratamento. Não raras vezes são vistos como bêbados, vagabundos ou sentenciados em um processo sem defesa. Poucos terão as bênçãos de serem iluminados ou salvos por mãos piedosas e corações bondosos.
Esta imagem me fez refletir sobre estes esquecidos. Em alguns países eles até recebem algum auxílio governamental através de programas sociais, fornecimento de alimentos e roupas, tratamento médico, albergues que sempre estão lotados. Em outros vivem no completo abandono. Mais que as feridas físicas, são as doenças da alma que precisavam ser curadas.
Não devemos naturalmente deixar de mencionar o trabalho abnegado e voluntariado de ONGs, grupos ou pessoas, entidades assistenciais ou religiosas que tentam fazer algo. No entanto a cruel realidade continua a fervilhar sob nossos olhos. Ora julgamos de forma preconceituosa ou quem sabe munidos de pena, culpa e misericórdia. Ora tomamos iniciativas isoladas sem o acompanhamento de uma política realmente saneadora? Ou pior ainda: não notamos ou lhes esquecemos?
O cataclismo humano se agrava quando à esta população de seres humanos, somam-se crianças e adolescentes. Viciando-se pelas esquinas e seguindo os mesmos passos de seus chamados “pais”.
Não basta mais o indignar-se ou o sensibilizar-se. Como ajudar essas pessoas antes que terminem seus dias como indigentes?
De qualquer forma o intuito não era aqui, neste momento, indicar ou apontar soluções. No máximo levantar discussões e reflexões. Abrir os olhos para este fato que insiste em saltar aos nossos olhos e nos chocar no dia-a-dia. Existe mas parece não tocar, preocupa, mas parece não fomentar a busca por soluções efetivas. Ou seria um caso sem solução? De qualquer forma não podemos deixar cair no esquecimento estes que são duplamente esquecidos.






Texto do Fala Cidadão..

....Minha opinião é que embora marginalizados pela sociedade em geral, é importante que oportunidades sejam dadas a estas pessoas para uma recuperação e uma chance de uma nova vida.São histórias desconhecidas por todos, ou quase todos. São filhos abandonados. Pais ou mães desprezados. Viciosos cujos familiares desistiram de lhes salvar, ou não puderam salvar. Quem sabe deixaram para um dia que nunca parece chegar. Muitos tiveram suas famílias ou seus empregos, mas as famílias se diluíram em um oceano de problemas insolúveis, e seus empregos se perderam no tempo. Alguns até trabalham de forma digna em subempregos que não são dignificantes.Em uma tarde quente e ensolarada fiquei notando um senhor, que aparentava uns setenta e poucos anos, mas que deveria ter cinquenta e poucos. Ele arrastava os resquícios aparentes daquilo que sobrou de uma vida em uma velha bicicleta de pneu furado. Eram trapos e restos de roupas, utensílios amarrados. Ficou uma tarde inteira à sombra de uma grande arvore em um dos trevos da cidade. Falando e discutindo com o invisível, sabe-se lá consigo mesmo, com movimentos repetitivos com a cabeça e as com mãos. Tragando um palheiro de papel e sem fumo. A longa barba estava amarelada, suas vestes não mereciam ser chamadas assim. Seu olhar marcou o meu olhar!!!
Pessoas que ficam a parte da sociedade triste realidade!!!

lya