terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Quebrando o silêncio


1 Tomando a palavra, disse Elifaz de Temã:
2 “Se começarmos a falar contigo, talvez leves a mal, mas quem poderia reprimir o que tenho a dizer?
3 Foste o educador de muitos e revigoraste mãos enfraquecidas; 4 tuas palavras firmaram os que vacilavam e deste força a joelhos inseguros.
5 Agora veio sobre ti a desgraça, e desfaleces; feriu-te, e te perturbas.
6 Não era a tua confiança o teu temor de Deus? e a tua esperança não era a perfeição da tua conduta? A justiça de Deus está fora de dúvida
7 Lembra-te, por favor: acaso já pereceu alguém inocente? ou quando é que os retos foram destruídos? 8 Ao contrário, tenho visto os que praticam a iniquidade, os que semeiam dores e as colhem: 9 esses pereceram ao sopro de Deus e foram consumidos ao ímpeto de sua ira. 10 O rugido do leão e o bramido da leoa, os dentes dos filhotes são quebrados.
11 Morre o leão, porque não há presa, e as crias da leoa se dispersam.
12 A VISÃO DE ELIFAZ: COM DEUS NÃO SE DISCUTE
Entretanto, uma palavra me foi trazida em segredo, e meu ouvido percebeu seu leve sussurro. 
13 No horror da visão noturna, quando o sono domina as pessoas, 14 assaltou-me o medo e o pavor e tremi em todos os meus ossos. 15 Um espírito passou, diante de mim, arrepiando-me os pelos do corpo. 16 Parou alguém, cujo vulto não reconheci, uma visão, diante de meus olhos, e ouvi uma voz, como de brisa leve: 17 ‘Poderia o ser humano ter razão em confronto com Deus, ou seria a criatura mais pura que seu Criador?’
18 Pois até nos seus servos ele não pode confiar, e em seus próprios anjos encontra defeito.
19 Quanto mais aqueles que moram em casas de barro, cujo fundamento está no pó e que se consomem como a traça!
20 Entre a manhã e a tarde serão destroçados e, sem que ninguém perceba, perecerão para sempre.
21 Acaso não se arrancaram as amarras de sua tenda? Morrerão, sem atingir a sabedoria.


Comentário:

1 Os amigos de Jó quebram o silêncio (Capítulos 4 e 5) a que se tinham votado e iniciam uma série de discursos baseados na teologia tradicional da época, cuja tese principal era a seguinte: Só os ímpios sofrem. Se Jó está a sofrer é porque pecou. Assim sendo, precisa de se arrepender e confessar o seu pecado. Se o fizer Deus será com ele. A defesa acalorada que os amigos fazem desta tese leva Jó, não só a rejeitá-la, como a contabilizar mais uma perda: A perda dos seus amigos, com os quais entra em rota de colisão a partir desta altura.

Ludgero Coelho

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