sábado, 14 de junho de 2014

Quem ama?

Você não ama. Eu também não.

Por mais que você tente, ainda que se esforce, saiba, o máximo que podemos fazer é expressar um fragmento de algo que sequer mensuramos o real significado em sua totalidade.
De vez em quando manifestamos lampejos de amor e a ideia é que esses lampejos sejam cada vez mais frequentes, que estejam cada vez mais presentes em nossas escolhas, que sejam pano de fundo para nossas decisões e que isso vá construindo quem estamos nos tornamos.

Sei que parece estranho dizer, mas, quanto mais enraizados em consciência, mais claro fica nossa distância do que de fato significa amar, estar pleno, completamente vinculado ao que realmente importa. Quando enxergamos, percebemos a distância com mais clareza.
Somos cheios de desimportâncias, intoxicados pelo própria ego que constantemente cria barreiras, fomenta separações e a ilusão de que o amor é uma prática, um gesto, um ato isolado.
Paradoxalmente pensamos que, quanto mais praticamos atitudes caridosas, quanto mais nos afeiçoamos à alguém ou nos dedicamos à uma causa nobre, mais amor. Não! Amor é.
Quem é faz, quem ama se entrega, mas faz como reflexo do ser, não como objetivo final do amor, caso contrário, toda e qualquer “virtude” só serviria de combustível para o ego, como tantas vezes acontece.
Quem ama responde as demandas da vida com sabedoria, sabe dizer não, sabe a hora de se afastar, sabe a hora de estender e a hora de recolher a mão, sabe abrigar e também sabe quando é hora de permitir que o outro se exponha a sua própria insensatez.
Amar não é ser “bonzinho”, mas é ser justo e bom. É ser humano na plenitude do que isso deveria significar.
Não, você não ama. Eu também não. Tudo o que fazemos é um esboço do ideal, um rascunho mal feito, por melhor intenção que tenhamos.
No entanto, essa percepção me impulsiona para que, todos os dias, eu chegue um pouco mais perto, veja um pouco mais, cresça em consciência do real significado de SER amor. O amor não são atitudes caridosas mas uma dimensão aonde a vida inteira, com suas contradições e idiossincrasias, passa a fazer sentido.
O amor é uma dimensão.
Nossa sociedade prega o amor romântico, utilitarista, caridoso, religioso e segue com suas vertentes como se isso bastasse, como se tivéssemos controle. Enquanto nosso amor estiver limitado a conceitos ou práticas, saiba, sequer teremos começado.
A boa notícia é que somos aprendizes.
Acredito que todas as nossas experiências nos direcionam para essa consciência, para o que realmente importa, para aprendermos a amar.
No dia em que de fato aprendermos, tudo estará absolutamente claro, não haverá mais questões, nem medo, nem culpa, nem nada a provar. Será o dia do reencontro, o dia em que não haverá mais mestres ou discípulos, nem iluminados, nem nenhum tipo de superioridade.
Seremos um só, conscientes, despertos na única dimensão real, a dimensão do amor.

Flavio Siqueira

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