quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Por que as portas se fecham?


Uma das frases mais usadas para busca no meu blog ontem foi: “por que as portas se fecham”.
Fiquei pensando quem digitou a esmo na internet e acabou chegando aqui.
Imaginei um monte de possibilidades: – Alguém que de repente ficou sabendo que aquele plano deu errado e, sem saber aonde procurar respostas, resolveu digitá-la no “são google”.
- Talvez a vontade de encontrar uma explicação para encaminhar à outro que está precisando.
- Quem sabe uma pessoa navegando durante a madrugada, pensando em tudo o que deu errado, teve a ideia de seguir as pistas aleatórias que a internet iria dar?
Provavelmente nunca vou saber quem chegou aqui procurando saber “por que as portas se fecham” e, muito menos, se encontrou alguma resposta.
Primeiro porque não tenho explicações conclusivas para os imprevistos da vida.
O que dizer para o sujeito que perde emprego, família e oportunidades de uma vez só ?
Dizer “seja forte” à mãe que acaba de descobrir que seu filho tem uma grave doença, é quase desconsiderar a dor humana, especialmente potencializada nos corações das mães.
Convencer quem seguia feliz pela estrada da vida e teve que interromper a viagem por que o carro quebrou, que logo o mecânico virá, é alimentar uma esperança que talvez se frustre.
Para quem chegou aqui procurando saber “por que as portas se fecham?” vou logo adiantando: não tenho respostas finais.
Carma, provação, castigo, lição, plano, aleatoriedade…não me convencem. Não acredito em cartilhas, manuais que funcionem igualmente para todos, afinal, cada dor é cada dor, mas, isso não me impede de notar algumas coisas bastante interessantes :
- Nunca vi uma porta se fechar sem que outra se abra. Quando percebo que cheguei ao fim de determinada estrada, mudo a perspectiva do olhar e percebo outros caminhos. Sempre. Aí entendo que só os encontrei porque cheguei naquele ponto.
- Por mais doloridas que sejam, nunca vi nenhuma dor maior do que aquela que podemos suportar. Ao me imaginar nela antes que acontecesse sentia que não iria dar, mas, então, sem saber direito a razão, no meio do fogo me senti estranhamente forte. Claro que dói, uns dias parecem piores que outros, mas como explicar essa estranha condição que, apesar do choro, suporta ? Consolo na tormenta, quando achava que não daria mais, simplesmente deu.
- Sempre que portas se fecham, sinto que fiquei mais forte. Aprendi que se souber extrair força da fraqueza, começo a lidar com certo tipo de poder que só existe quando me esvazio de qualquer complexo de “Sansão”. Há um incrível poder na fragilidade que só experimenta quem não teme encará-la.
- Apesar de perder amigos, quando as portas se fecham, tenho chance de reconhecer quem realmente está comigo. São eles que quero por perto quando novas portas se abrirem.
- É nessa hora que estruturas interiores aparentemente imutáveis se quebram e começo a repensar quem sou. Que grande chance de melhorar !
- Quando estou quebrado sinto que se não dá mais para perder, o próximo passo só pode ser na direção da reconstrução: me desacomodo.
- Se antes eu tendia a ser presunçoso, é nessa hora que sou confrontado com minha humanidade e nela refaço meu caminho. Que grande chance para eu me enxergar e dar novo significado aos meus valores !
- Aprendo a deixar de confiar nas aparências e naquilo que me dá sensação de força, afinal de contas, de fraqueza em fraqueza sou forçado a reconhecer o que de fato sou, e me torno humilde.
- Relativizo os estereótipos de poder. Desloco meu olhar para o que realmente importa.
- Quando as portas se fecham, fico triste, perco o humor, desesperançoso, mas, é difícil explicar a razão de no dia seguinte, ou talvez dois ou três dias depois, sempre acordar renovado, cheio de inexplicáveis esperanças e de boas ideias.
Na fraqueza aprendo a confiar na vida e tenho a chance de entender que não sou fonte de poder, mas me conecto ao fluxo natural da existência, ao poder que é. Sem minhas armas olho no espelho e reconheço que minha maior virtude é ser-humano que é.
Para quem veio em buscas de respostas definitivas, sinto dizer, não tenho.
No entanto, o que estranhamente aprendi é que quando as portas se fecham, basta atenção para ver que outras se abrem, cheias de novas oportunidades e avisos que parecem vir de todos os lugares para deixar bem claro que, se eu acreditar, amanhã tudo vai ser diferente, que apesar dos pesares, entre vida e morte, os ciclos naturais da existência me moldam, me tocam, me talham e me tornam um cara melhor.

Flavio Siqueira


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