terça-feira, 4 de novembro de 2014

Bem aventurados os pobres de espíritos (1-10)



O QUE É PRECISO ENTENDER POR POBRES DE ESPÍRITO
1. Bem-aventurados• os pobres de espírito, pois deles é o reino dos Céus. (Mateus, 5:3)
2 A incredulidade zomba deste ensinamento moral: Bem-aventurados os pobres de espírito, como tem zombado de outras afirmativas de Jesus, por não as entender. Por pobres de espírito Jesus não se refere aos homens desprovidos de inteligência, mas sim aos humildes. Ele disse que é deles o reino dos Céus e não dos orgulhosos. Os homens de ciência e de cultura, segundo o mundo, geralmente têm uma opinião tão elevada de si mesmos e de sua superioridade que olham as coisas divinas como desprezíveis para merecer sua atenção. Preocupados somente com eles mesmos, em suas vaidades não podem se elevar até Deus. 
Essa tendência de se acreditarem superiores a tudo e a todos os leva a negar forçosamente o que, estando acima deles, poderia rebaixá-los e a negar até mesmo a Divindade. Se consentem em admiti-la, negam-lhe um de seus mais belos dons divinos: sua ação providencial sobre as coisas deste mundo, convencidos de que só eles já bastam para bem governá-lo. Consideram sua 
inteligência como se fosse a medida da inteligência universal e, julgando-se aptos a entender tudo, não creem na possibilidade daquilo que não entendem e, quando opinam sobre alguma coisa, consideram os seus julgamentos como definitivos e inapeláveis, ou seja, indiscutíveis. 
Quando se recusam a admitir o mundo invisível e um poder extra-humano, não é porque isso esteja acima de sua capacidade de entendimento, mas porque seu orgulho se revolta contra a ideia de que haja alguma coisa acima da qual não se possam colocar e que os faria descer do seu pedestal. É por isso que apenas têm sorrisos de desdém por tudo o que não é do mundo físico e visível. Eles se atribuem grande cultura e ciência para acreditarem nessas coisas, que pensam ser boas, segundo eles, para as pessoas simples, considerando aqueles que as levam a sério como pobres de espírito. Entretanto, digam o que disserem, forçosamente entrarão, como todos os outros, no mundo invisível que ridicularizam. É aí que seus olhos serão abertos e que reconhecerão seu erro. Porém Deus, que é justo, não pode receber da mesma maneira aquele que desconheceu a sua majestade e aquele que se submeteu humildemente às suas leis, nem dar a ambos um tratamento 
igual. Ao dizer que o reino dos Céus é para os simples, Jesus quer dizer que ninguém é lá admitido sem a simplicidade do coração e a humildade de espírito; que o inculto que possui estas qualidades será preferido e não o sábio que acredita mais em si mesmo do que em Deus. Jesus sempre colocou a humildade entre as virtudes que nos aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que nos distanciam d’Ele. Isso ocorre por uma razão muito natural: enquanto a humildade é um ato de submissão a Deus, o orgulho é uma revolta contra Ele. Mais vale, pois, para a felicidade futura do homem ser pobre de espírito, no sentido do mundo, e rico de qualidades morais.  
TODO AQUELE QUE SE ELEVA SERÁ REBAIXADO 
3. Naquela hora, chegaram-se a Jesus seus discípulos, dizendo: Quem é o maior no reino dos Céus? E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles, e disse: Na verdade vos digo que, se não vos fizerdes como meninos, não entrareis no reino dos Céus. Todo aquele, pois, que se humilhar e se fizer pequeno como este menino, será o maior no reino dos Céus. E o que receber em meu nome um menino como este, a mim é que recebe. (Mateus, 18:1 a 5) 4. Então se chegou a Ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o e pedindo-Lhe alguma coisa. Ele lhe disse: Que queres tu? Respondeu ela: Dize que estes meus dois filhos se assentarão no teu reino, um à tua direita e outro à tua esquerda. E respondendo Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber? Disseram-Lhe eles: Podemos. Jesus disse: É verdade que haveis de beber o meu cálice; mas, pelo que toca a terdes assento à minha direita ou à minha esquerda, não pertence a mim conceder- vos, mas isso é para aqueles a quem meu Pai o tem preparado. E quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Mas Jesus os chamou a si e lhes disse: Sabeis que os príncipes das nações dominam os seus vassalos e que os maiores exercem sobre eles o seu poder. Não será assim entre vós. Aquele que quiser ser o maior, esse seja o vosso servidor, e o que entre vós quiser ser o primeiro, seja o vosso escravo. Assim como o Filho do Homem,  que não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em redenção de muitos. (Mateus, 20:20 a 28) 
5. E aconteceu que, entrando Jesus, num sábado, em casa de um dos principais fariseus, a tomar a sua refeição, ainda eles o estavam ali observando. E notando como os convidados escolhiam os primeiros assentos à mesa, propôs-lhes esta parábola: Quando fores convidado a alguma boda, não te assentes no primeiro lugar, porque pode ser que esteja ali outra pessoa, mais considerada que tu, convidada pelo dono da casa, e que, vindo este, que convidou a ti e a ele, te diga: Dá o teu lugar a este; e tu, envergonhado, irás buscar o último lugar. Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta te mais para cima. Servir-te-á isto então de glória, na presença dos que estiverem juntamente sentados à mesa.  
Porque todo aquele que se rebaixa será elevado, e todo aquele que se eleva será rebaixado. (Lucas, 14:1, 7 a 11)  
6 Estes ensinamentos estão de acordo com o princípio de humildade, que Jesus não cessa de colocar como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhor, e que formulou com estas palavras: Bem-aventurados os pobres de espírito, pois é deles o reino dos Céus. Ele toma uma criança como exemplo da simplicidade de coração e diz: Será maior no reino dos Céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança ou seja, que não tiver nenhuma pretensão de superioridade ou de ser infalível. 
O mesmo pensamento fundamental se encontra neste outro ensinamento: Que aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servidor, e também neste: Todo aquele que se rebaixa será elevado, O Espiritismo vem confirmar os ensinamentos exemplificando-os e mostrando-nos que os grandes no mundo dos Espíritos são os que foram pequenos na Terra, e frequentemente são bem pequenos lá aqueles que foram os maiores e os mais poderosos na Terra. É que os primeiros levaram, ao morrer, aquilo que faz unicamente a verdadeira grandeza no Céu e não se perde: as virtudes; enquanto os outros tiveram que deixar o que fazia sua grandeza na Terra e que não se leva: a riqueza, os títulos, a glória, a nobreza. Não tendo nenhuma outra coisa, chegam ao outro mundo sem nada, como náufragos* infelizes, que perderam tudo, até mesmo suas roupas. Conservaram apenas o orgulho que torna sua nova posição ainda mais humilhante, pois veem acima deles, resplandecentes de glória, aqueles que humilharam na Terra. 
O Espiritismo nos mostra uma outra aplicação deste princípio: o das encarnações sucessivas, nas quais aqueles que foram mais elevados em uma existência terrena são rebaixados à última categoria na existência seguinte, caso tenham sido dominados pelo orgulho e pela ambição. Não procureis o primeiro lugar na Terra, nem vos coloqueis acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Procurai, ao contrário, o mais humilde e o mais modesto, pois Deus saberá vos dar um lugar mais elevado no Céu, se o merecerdes. 
MISTÉRIOS OCULTOS AOS SÁBIOS E AOS PRUDENTES 
7. Então Jesus disse estas palavras: Eu vos rendo glória, meu Pai, Senhor do Céu e da Terra, por haverdes ocultado essas coisas aos sábios e aos prudentes e por as haver revelado aos simples e aos pequeninos. (Mateus, 11:25) 
8 Pode parecer estranho que Jesus renda graças a Deus por ter revelado estas coisas aos 
humildes, aos simples e aos pequeninos, que são os pobres de espírito, e de tê-las ocultado aos sábios e aos prudentes, mais capazes, aparentemente, de compreendê-las. É preciso entender pelos primeiros, os humildes, os que se humilham diante de Deus e não acreditam ser superiores a ninguém, e pelos segundo, os orgulhosos, envaidecidos de seu saber mundano, que se acreditam prudentes, pois negam a Deus, tratando-O de igual para igual, quando não O rejeitam. Na antiguidade, prudente era sinônimo de empáfia, dono da verdade. É por isso que Deus lhes deixa à procura dos segredos da Terra e revela os do Céu aos simples e humildes que se inclinam diante da Sua glória. 
9 Assim acontece agora com as grandes verdades reveladas pelo Espiritismo. Alguns incrédulos admiram-se que os Espíritos façam tão poucos esforços para os convencer. É que eles se ocupam dos que buscam a luz com humildade e de boa-fé, ao invés daqueles que acreditam possuir toda a verdade e pensam que Deus deveria primeiro provar-lhes que existe, para poderem aceitá-Lo, e ficar muito feliz em conduzi-los a Si. O poder de Deus manifesta-se nas pequenas como nas grandes coisas. Ele não coloca a luz sob o alqueire•, uma vez que a espalha com abundância por todas as partes; cegos são aqueles que não a veem. Deus não quer lhes abrir os olhos à força, uma vez que lhes convém mantê-los fechados. Sua vez chegará, mas primeiro é preciso que sintam as angústias das trevas e reconheçam a Deus, e não o acaso, na mão que atinge seu orgulho. Deus emprega, para vencer a incredulidade, os meios que julga conveniente, conforme os indivíduos. Não é o incrédulo que deve determinar a Deus o que fazer, ou o que dizer: “Se quiserdes me convencer, é preciso escolher esta ou aquela maneira, tal momento antes daquele outro, porque isto é o que me convém.” 
Que os incrédulos não se espantem, portanto, se Deus e os Espíritos, que são os agentes de sua vontade, não se submetem às suas exigências. O  que diriam se o mais simples de seus servidores quisesse se impor a eles? Deus impõe suas condições, e não se sujeita às deles. Ele ouve com bondade aqueles que O procuram com humildade, e não os que se acreditam maiores do que Ele.  
10 Não poderia Deus mostrar-lhes pessoalmente fatos sobrenaturais na presença dos quais o incrédulo mais endurecido se convenceria? Sem dúvida, poderia; mas que mérito teriam eles e, aliás, de que isto serviria? Não os vemos, todos os dias, negarem-se à evidência e até mesmo dizerem: “Se eu visse, não acreditaria,pois sei que é impossível!” Se eles se recusam a reconhecer a verdade, é que seu Espírito ainda não está pronto para entendê-la,nem seu coração para senti-la. O orgulho é o véu que tampa sua visão. De que adianta mostrar a luz a um cego? É preciso, em primeiro lugar, curar a causa da cegueira, e, como médico hábil, Deus corrige, primeiramente, o orgulho. Não abandona seus filhos perdidos; sabe que cedo ou tarde seus olhos se abrirão, mas quer que isso aconteça por vontade própria e, então, vencidos pelas aflições da incredulidade, se lançarão por si mesmos em seus braços e, como filhos pródigos, Lhe pedirão perdão! 

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