quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Ainda existe esperança



Eu sou o homem que viu a aflição trazida pela vara da sua ira.
Ele me impeliu e me fez andar na escuridão, e não na luz;
sim, ele voltou sua mão contra mim vez após vez, o tempo todo.
Fez que a minha pele e a minha carne envelhecessem e quebrou os meus ossos.
Ele me sitiou e me cercou de amargura e de pesar.
Fez-me habitar na escuridão como os que há muito morreram.
Cercou-me de muros, e não posso escapar; atou-me a pesadas correntes.
Mesmo quando chamo ou grito por socorro, ele rejeita a minha oração.
Ele impediu o meu caminho com blocos de pedra; e fez tortuosas as minhas sendas.
Como um urso à espreita, como um leão escondido,
arrancou-me do caminho e despedaçou-me, deixando-me abandonado.
Preparou o seu arco e me fez alvo de suas flechas.
Atingiu o meu coração com flechas de sua aljava.
Tornei-me motivo de riso de todo o meu povo; nas suas canções eles zombam de mim o tempo todo.
Fez-me comer ervas amargas e fartou-me de fel.
Quebrou os meus dentes com pedras; e pisoteou-me no pó.
Tirou-me a paz; esqueci-me do que significa prosperidade.
Por isso digo: "Meu esplendor já se foi, bem como tudo o que eu esperava do Senhor".
Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar.
Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim.
Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança:
Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.
Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!
Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança.
O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam;
é bom esperar tranqüilo pela salvação do Senhor.
É bom que o homem suporte o jugo enquanto é jovem.
Leve-o sozinho e em silêncio, porque o Senhor o pôs sobre ele.
Ponha o seu rosto no pó; talvez ainda haja esperança.
Ofereça o rosto a quem o quer ferir, e engula a desonra.
Porque o Senhor não o desprezará para sempre.
Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível.
Porque não é do seu agrado trazer aflição e tristeza aos filhos dos homens.
Esmagar com os pés todos os prisioneiros da terra,
negar a alguém os seus direitos, enfrentando o Altíssimo,
impedir a alguém o acesso à justiça; não veria o Senhor tais coisas?
Quem poderá falar e fazer acontecer, se o Senhor não o tiver decretado?
Não é da boca do Altíssimo que vêm tanto as desgraças como as bênçãos?
Como pode um homem reclamar quando é punido por seus pecados?
Examinemos e submetamos à prova os nossos caminhos, e depois voltemos ao Senhor.
Levantemos o coração e as mãos para Deus, que está nos céus, e digamos:
"Pecamos e nos rebelamos, e tu não nos perdoaste.
Tu te cobriste de ira e nos perseguiste, massacraste-nos sem piedade.
Tu te escondeste atrás de uma nuvem para que nenhuma oração chegasse a ti.
Tu nos tornaste escória e refugo entre as nações.
Todos os nossos inimigos escancaram a boca contra nós.
Sofremos terror e ciladas, ruína e destruição".
Rios de lágrimas correm dos meus ohos porque o meu povo foi destruído.
Meus olhos choram sem parar, sem nenhum descanso,
até que o Senhor contemple dos céus e veja.
O que eu enxergo enche-me a alma de tristeza, de pena de todas as mulheres da minha cidade.
Aqueles que, sem motivo, eram meus inimigos caçaram-me como a um passarinho.
Procuraram fazer minha vida acabar na cova e me jogaram pedras;
as águas me encobriram a cabeça, e cheguei a pensar que o fim de tudo tinha chegado.
Clamei pelo teu nome, Senhor, das profundezas da cova.
Tu ouviste o meu clamor: "Não feches os teus ouvidos aos meus gritos de socorro".
Tu te aproximaste quando a ti clamei, e disseste: "Não tenha medo".
Senhor, tu assumiste a minha causa; e redimiste a minha vida.
Tu tens visto, Senhor, o mal que me tem sido feito. Toma a teu cargo a minha causa!
Tu viste como é terrível a vingança deles, todas as suas ciladas contra mim.
Senhor, tu ouviste os seus insultos, todas as suas ciladas contra mim,
aquilo que os meus inimigos sussurram e murmuram o tempo todo contra mim.
Olha para eles! Sentados ou em pé, zombam de mim com as suas canções.
Dá-lhes o que merecem, Senhor, conforme o que as suas mãos têm feito.
Coloca um véu sobre os seus corações e esteja a tua maldição sobre eles.
Persegue-os com fúria e elimina-os de debaixo dos teus céus, ó Senhor.

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