terça-feira, 31 de março de 2015

Lições da Morte...

Ontem um amigo de quem eu gostava, ainda gosto muito, deixou este mundo,
fiquei sabendo agora e resolvi redigir este texto em meio as lágrimas.
Não o via todos os dias, mas o conhecia há 27 anos e que no início de tudo foi a
mão estendida na minha caminhada profissional.
Depois da dor de saber que não o veria mais com toda aquela alegria que lhe era
peculiar, parei de chorar e observei que a dor era bem maior em outras pessoas,
como sua esposa e filhos.
Apesar de ser espírita e ter estudado a morte a vida inteira e saber que ela é só uma mudança, um abandono do corpo, sempre é difícil lidar com a morte.
Nós sabemos, também, que todo mundo vai morrer um dia. Mas nem por isso
estamos preparados.
E, mesmo entendendo o lado espiritual da morte, minha reação imediata foi sofrer.
Porém, precisei ser forte para auxiliar a família em sua dor, e providenciar o
refrigério necessário a todos.
Diante de tudo isso, respirei e pensei: a morte nos traz muitas lições.

Lição número 1: Meu amigo era uma pessoa alegre, engraçada.
Todos que conviveram com ele foram unânimes: nunca o viram reclamar da vida,
uma vez sequer.
E aí pensei como seria se eu morresse hoje.
No meu velório, não diriam assim, pelo contrário.
Coitado,
ele era muito triste, não conseguia ficar animado com o que tinha por
muito tempo.
Talvez
tenha sido melhor para ele mesmo, é o que se ouviria de todos os
presentes.
E será que é essa a lembrança que quero deixar?
De jeito nenhum!

Lição número 2: A segunda completa a primeira.
Que marca estamos deixando na vida das pessoas?
Quantas ajudamos?
Quantas ignoramos?
Nos preocupamos em apoiar, ouvir, compartilhar alegrias?
Damos tanta importância aos problemas de quem amamos quanto para os nossos?
Ou passamos o tempo inteiro falando de quão difícil é nossa vida, como se
fossemos os únicos com dificuldades?
Ensinamos algo a alguém?
Aprendemos com todos?
Fazemos a diferença?

Lição número 3: Por muitas vezes pude estar com meu amigo e o excesso de
compromissos me tiraram esta oportunidade.
Se eu me senti mal por isso, imagina quem brigou com ele alguma vez?
A situação me fez pensar em quanto tempo perdemos com coisas bobas, discussões
por besteira, televisão, internet, quando poderíamos estar aproveitando os amigos,
os parentes, os amores.
Tudo ficou muito menor.
O que temos de mais precioso é a vida.
E por que não aproveitá-la
da melhor maneira possível ao lado de quem amamos?
O que custa dizer “eu te amo” para quem faz diferença em nosso dia a dia?

Lição número 4: Ninguém pode se sentir culpado pela morte do outro, a não ser que
a tenha provocado intencionalmente.
Nada é por acaso e as coisas acontecem em seu tempo certo.
Para quem fica, a morte deve ser apenas uma breve separação, um momento de
refletir, de recomeçar.
Cultivar o luto, a tristeza, o apego, só vai fazer mal.
A despedida é um sinal de que é hora de mudar o rumo, descobrir coisas novas,
ajudar alguém, dividir, ainda que sejam só palavras e abraços.
Não pense que não conseguirá viver sem aquela pessoa.
Quem partiu já havia cumprido seu papel, vencido seu tempo.
E cada um tem o seu, não há regras.
Aproveite a vida que você ainda tem.
Ainda estou pensando em muitas outras coisas, nem todas vou colocar aqui agora.
Mas queria registrar as principais para dividir com vocês um pouquinho do que,
espero, vai fazer parte da mudança que estou tentando fazer dentro de mim.
Quem sabe alguém se inspira e recomeça também!
Acho que meu amigo ficará feliz quando souber que inspirou boas resoluções.
Porque a morte pode ser uma perda, mas serve para ganharmos mais fé, mais
confiança, mais alegria, mais gratidão à vida que temos.
Assim, a tristeza se transforma em boas lembranças.

Adriana Caitano

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