terça-feira, 6 de outubro de 2015

O MUNDO INVISÍVEL DE UMA MULHER - Página 5

Tentei fazer tudo da maneira que ele havia me pedido, tentei não, eu fiz, sem tirar uma vírgula, lembro que fiquei preocupada, pois não queria magoar a família, aqui me refiro aos irmãos que moram em São Paulo. Ele foi cremado e as cinzas eu levei para ficar junto ao meu pai, mais um desejo que comentou comigo, quando fomos ao cemitério no dia de finados em Feira de Santana, quero ser enterrado aqui, foi aqui que fui feliz, hoje me sinto mais baiano que paulista.
Demorei um pouco para tomar essa decisão, a caixinha branca ficou guardada aqui comigo por um bom tempo, assim como a sua escova, suas roupas, isso me dava à falsa sensação que ele ainda fazia parte da minha vida, apenas fez uma viagem e eu aguardava seu retorno.
Minha cunhada ficou mais algum tempo comigo, queria resolver as coisas que eu não tinha como fazer e nem vontade. Hoje penso que não sei o que faria sem ela.
Mas todos tinham que retomar suas vidas e me vi só.
Na verdade, eu e os meninos, Frederico e Ben-hur. Fico pensando em quanto relutei contra essa ideia, de ter eles dois, hoje penso, como seria minha vida sem eles, não sei porque a gente não consegue enxergar como Deus é perfeito, como Ele prepara tudo.
Quando eu morava em Feira de Santana,  eu tinha uma Pinscher, o nome dela era Hanna, muito apegada comigo, e nestas minhas idas e vindas, eu aqui em Salvador minha mãe liga para o Edu, pedindo que me preparasse, e desse um jeito de me fazer ficar sabendo que a Hanna havia morrido, vi ele agoniado, cheio de dedos para falar comigo e logo desconfiei, chorei muito, e ele também demonstrava uma grande tristeza, louco por animais. Morávamos em um Flat e havia comprado um Hamster, o Alfredo, hoje é o nome do meu carro... (risos).
Alugamos um apartamento no mesmo bairro, como era um pouco maior e o Alfredo já não estava mais entre nós ( fizemos o enterro dele com solenidade ) , um dia quando foi me buscar na rodoviária, me levou antes a um lugar e queria me fazer uma surpresa, foi quando me apresentou o Frederico, Yorkshire com três meses de idade, eu não concordei, pois ainda lembrava da Hanna e não queria mais motivos na vida para me deixar triste, não sei o que houve, mas não consegui vir pra casa sem ele.
Um dia em que levamos o Frederico para tomar banho, era o criador que cuidava dele pra nós, no meio de uns trinta cães, ele bateu o olho em um e se apaixonou, mas já estava vendido, apenas aguardava o seu novo dono ir buscar. 
Mas o Edu não aceitou um não como resposta. Ele ligava todos os dias para saber do Ben-hur, insistindo para compra-lo, uns vinte dias depois, o criador descobriu que a nova casa do nosso futuro filho seria uma chácara, desistindo da venda nos ligou e cedeu... ele pulava de alegria, eu ainda relutando, mas ele argumentava dizendo... benhê, quem tem um não tem nenhum... depois do Ben-hur eu foi quem disse pra ele, é mas você não me avisou quem tem dois... tem mil... o nosso caçula não valia quanto pesava...
E foi o Benh-hur quem enxugou e enxuga as minhas lágrimas até hoje. 
Tento esconder, me tranco no quarto, ponho o travesseiro no rosto e nem assim adianta, ele começa a me chamar do quarto dele, enquanto eu não o pego no colo para lamber o meu rosto, ele não para. 
Uma médica veterinária essa semana me disse que ficou impressionada com a ligação que ele tem comigo, e tudo o que sinto ele sente também e isso o está adoecendo... Prometi pra mim mesma mudar.


Página 5

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